3
1
PATROCINADO

Não basta termos as vias ferroviárias de exportação

Justino Pinto de Andrade
24/8/2023
1
2
Foto:
Carlos Aguiar

Os Chefes de Estado de Angola, RDC e Zâmbia presenciaram, no Lobito, a assinatura de um Acordo Tripartido para a exploração, por um período de 30 anos (renováveis), do chamado ‘Corredor do Lobito’.

Tal Acordo, integrando as empresas Trafigura (Suíça), Mota-Engil (Portugal) e Vecturis SA (Bélgica), propõe, numa primeira fase, fazer investimentos de cerca de 500 milhões de USD em Angola, 100 milhões na RDC e, posteriormente, investir na Zâmbia na construção de um ramal com destino à Ndola, partindo de Luacano, perto da fronteira de Angola. Até agora, a reabilitação dos Caminhos-de-Ferro de Benguela (CFB) já custou ao Estado angolano perto de 3.000 milhões de USD. Trata-se de um projecto de importância estratégica para a circulação de mercadorias e passageiros, mas virado particularmente para a exportação dos minérios provenientes da RDC e da Zâmbia.

Com uma extensão de 1.300 quilómetros, o ‘Corredor do Lobito’ parte do Porto do Lobito até ao Luau, na província do Moxico, envolvendo o porto, o terminal mineiro e o CFB. Se articulado com vias férreas nos países vizinhos, o projecto poderá chegar ao Porto de Dar Es Salaam (Tanzânia) e, inclusive, ao Porto da Beira, em Moçambique. A sua viabilização interessa a Angola, mas, sobretudo, à RDC, por causa da permanente instabilidade que se vive nesse país, o que justifica a necessidade de desviar o curso do transporte das suas mercadorias para exportação que se realiza hoje pelos portos da Tanzânia.

A África Oriental já tem alguns dos seus grandes portos bastante saturados, casos dos portos de Mombaça (Quénia), Durban (África do Sul) e Dar Es Salaam (Tanzânia). Mesmo com a construção do porto de Lamu (Quénia), ou do já projectado Porto de Bagamoyo, ao norte de Dar Es Salaam, a demanda por transporte de mercadorias tornar-se-á insuficiente, dado o crescente fluxo das exportações para a Península Arábica e para a China.

Muitas das actuais infra-estruturas africanas são inadequadas – estradas mal pavimentadas e mal conservadas – tornando o custo do transporte muito elevados. São, portanto, importantes estes investimentos nas redes ferroviárias.

Todavia, numa perspectiva de médio prazo, os governos africanos devem equacionar a construção de ramais ferroviários que interliguem as grandes vias ferroviárias existentes, vocacionadas quase que especialmente para as exportações. África necessita, sim, de uma vasta rede ferroviária, complementada por ramais que funcionem como autênticos veios capilares para o desenvolvimento do interior dos nossos países.

Leia o artigo completo na edição de Agosto, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).

It is not enough to have rail export routes

The Heads of State of Angola, DRC and Zambia witnessed, in Lobito, the signing of a Tripartite Agreement for the exploration of the so-called "Lobito Corridor" for a period of 30 years (renewable). The parties to the agreement are Trafigura (Switzerland), Mota-Engil (Portugal) and Vecturis SA (Belgium). These companies will invest USD 500 million in Angola and USD 100 million in the DRC and in the first phase of implementation. Later, an investment will be made in Zambia to build a branch line from Luacano, near the Angolan border, to Ndola. So far, the rehabilitation of the Benguela Railway (CFB) has cost the Angolan state close to USD 3 billion. It is a project of strategic importance for moving goods and passengers, but mainly for the export of minerals from the DRC and Zambia.

The 1,300 km-long "Lobito Corridor" runs from the Port of Lobito to Luau in Moxico Province, involving the port, the mining terminal and the CFB. If connected to railroads in neighboring countries, the project could reach the port of Dar Es Salaam and even the port of Beira in Mozambique. Its feasibility is of interest to Angola, but above all to the DRC, because of the permanent instability in that country, which justifies the need to divert the course of transportation of its goods for export, currently done through the ports of Tanzania.

East Africa already has some of its major, such as the ports of Mombasa (Kenya), Durban (South Africa) and Dar Es Salaam (Tanzania) ports, quite saturated. Even with the construction of the port of Lamu (Kenya), or the planned port of Bagamoyo, north of Dar Es Salaam, the demand for freight will become insufficient, given the increasing flow of exports to the Arabian Peninsula and China.

Much of Africa's current infrastructure is inadequate - poorly paved and poorly maintained roads - making the cost of transportation very high. Such investments in rail networks are therefore important.

However, in the medium term, African governments should consider building branch lines to link up the existing major rail routes, which are almost exclusively export-oriented. Africa does need a vast rail network, complemented by branch lines that act as real capillaries for the development of our countries' hinterlands.

Read the full article in the August issue, now available on the E&M app for Android and at login (appeconomiaemercado.com).