3
1
PATROCINADO

Uma mensagem de esperança, no mínimo

Sebastião Vemba
16/10/2020
1
2
Foto:
DR

Passados seis meses, é quase obrigatório que os responsáveis da área económica do Governo venham a público esclarecer essa questão e, se possível, trazer uma mensagem de esperança...

Seis meses depois de confirmados os primeiros casos de Covid-19 em Angola - o que obrigou, entre outras medidas, à declaração do Estado de Emergência que durou mais de 60 dias – Angola encontra-se mergulhada numa profunda crise económica e social, com consequências desastrosas para as famílias e as empresas. Mas essa situação não representa nenhuma surpresa, considerando que o país já vinha, há anos, a lutar contra a crise provocada não só pela baixa do preço do petróleo no mercado internacional, mas também pelo uso abusivo dos recursos públicos.

Actualmente, o país encontra-se à beira do quinto ano de recessão consecutiva, “com reflexos absolutamente dramáticos sobre o desemprego e a pobreza”, como o afirma o economista Alves da Rocha, que entende que estamos a viver uma “espécie de círculo vicioso da austeridade, que está a ter consequências sobre toda a actividade em Angola”. Segundo dados apurados pela Economia & Mercado, a situação é deveras preocupante e, mais uma vez, os mais pobres são os mais prejudicados. Como poderá ler mais à frente, a crise gerada pela pandemia afectou 70% das mulheres zungueiras, reduzindo entre 50% e 85% os seus rendimentos diários e das respectivas famílias. Num outro sector, o dos transportes, especificamente nos serviços de táxis, registou-se uma quebra de facturação de 50%. Se formos para o sector formal da economia, o cenário mantém-se desolador: no sector das bebidas continua a despedir-se trabalhadores, enquanto outros negócios fecham as portas.

Os empresários que contactámos definem a situação como “difícil” e pior não poderia ficar ao ouvir-se do próprio Presidente da República, João Lourenço, que o dinheiro que serviria para alavancar a economia foi usado para combater a Covid-19. Restam dúvidas sobre o apoio financeiro prometido para as empresas, em particular as do sector produtivo, no sentido de reduzir os efeitos negativos da Covid-19. Passados seis meses, é quase obrigatório que os responsáveis da área económica do Governo venham a público esclarecer essa questão e, se possível, trazer uma mensagem de esperança para quem tanto precisa dela.

A message of hope, at least  

Six months after the first cases of Covid-19 in Angola were confirmed - forcing, among other measures, the declaration of the State of Emergency that lasted over 60 days - Angola is plunged into a deep economic and social crisis, with disastrous consequences for families and businesses. But this situation comes as no surprise, considering that the country has been for years fighting against the crisis caused not only by the low price of oil on the international market, but also the abusive use of public resources.

Today, the country is on the verge of its fifth consecutive year of recession, “with absolutely dramatic repercussions on unemployment and poverty,” as economist Alves da Rocha says, who believes that we are experiencing a “kind of vicious circle of austerity, which is having an impact on all activity in Angola”. According to data analyzed by Economia & Mercado, the situation is very worrying and, once again, the poorest will suffer the most.

As you can read ahead, the crisis generated by the pandemic has affected 70% of the female street vendors, reducing their daily income, and of their families, by 50% to 85%. In transportation, specifically taxi services, there has been a 50% drop in revenue. In the formal sectors of the economy, the scenario remains bleak: beverage factory workers are still being laid off, while other businesses are closing their doors.

The businessmen we contacted define the situation as “hard” and it couldn’t be harder to hear from the President of the Republic himself, João Lourenço, that the money that would have served to leverage the economy was used to fight Covid-19. There are still doubts about the financial support promised to companies, particularly those in the productive sector, to reduce the negative effects of Covid-19. After six months, it is almost mandatory that those in charge of the government’s economic policies come forward to clarify this issue and, if possible, bring a message of hope to those very much in need to hear it.