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África erradica o poliovírus selvagem

Cláudio Gomes
26/8/2020
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Foto:
DR

A Comissão Regional Africana para a Certificação da Erradicação da Poliomielite declarou, ontem, terça-feira, que a Região Africana da Organização Mundial da Saúde está livre do poliovírus selvagem.

De acordo com um comunicado da Organização Mundial da Saúde (OMS), com sede em Angola, que cita o órgão independente responsável pelo seguimento e supervisão do processo de certificação no continente (ARCC), o acontecimento marca a erradicação do segundo vírus da face do continente, desde a eliminação da varíola há 40 anos.

A Iniciativa Mundial de Erradicação da Poliomielite (GPEI), refere o documento, a que a Economia & Mercado (E&M) teve acesso, permitiu que os casos de poliomielite fossem reduzidos na ordem dos 99,9%, desde 1988, facto que leva a crer que o mundo esteja mais perto do que nunca de acabar com a poliomielite.

“Hoje é um dia histórico para África”, disse presidente da Comissão Regional Africana para a Certificação da Erradicação da Poliomielite, Rose Gana Fomban Leke.  

Segundo a também professora, a ARCC cumpriu com os critérios de certificação da erradicação do poliovírus selvagem, sendo que não foi notificado “nenhum caso do vírus na região há quatro anos”.

A decisão da ARCC, informa o documento, ocorre após um processo exaustivo de documentação e análise da vigilância e vacinação da poliomielite que dura há várias décadas, assim como da capacidade laboratorial dos 47 Estados-Membros da Região, que incluía a realização de visitas de verificação no terreno em cada país.

Entretanto, argumenta a instituição no documento, o último caso de poliovírus selvagem na Região foi detectado em 2016, na Nigéria. “Desde 1996, os esforços de erradicação da poliomielite permitiram evitar que 1,8 milhões de crianças sofressem de uma paralisia debilitante irreversível e salvar cerca de 180 000 mil vidas”, lê-se no comunicado.

“Este é um marco memorável para a África. As futuras gerações de crianças africanas podem agora viver sem medo de contraírem o poliovírus selvagem,” assegurou a directora Regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti, citada no documento.

Para a especialista, este feito histórico apenas foi possível graças à liderança e compromisso dos governos, das comunidades, dos parceiros mundiais de erradicação da poliomielite e dos filantropos.

“Presto uma homenagem especial aos profissionais de saúde e aos vacinadores na linha da frente, alguns dos quais perderam a vida por esta nobre causa”, reconheceu a responsável. No entanto, prosseguiu, temos de continuar vigilantes e manter as taxas de vacinação, de modo a evitar um reaparecimento do poliovírus selvagem, e enfrentar a ameaça contínua da poliomielite derivada da vacina.

É preciso não baixar asguarda

O coordenador do Programa de Erradicação da Poliomielite da OMS na Região Africana, Pascal Mkanda, pronunciando-se a respeito do assunto, disse que apesar do sucesso alcançado, África já demonstrou que, apesar de possuir sistemas de saúde fracos e enfrentar desafios logísticos e operacionais significativos em todo o continente, os países africanos colaboraram deforma bastante eficaz na erradicação do poliovírus selvagem.

“Com as inovações e as competências que o programa de erradicação da poliomielite criou, tenho plena confiança de que podemos manter os ganhos após a certificação e eliminar o cVDPV2,” acrescentou o especialista.

Contudo, embora a erradicação do poliovírus selvagem da Região Africana da OMS seja um grande feito, alerta a instituição internacional, 16 países na Região estão actualmente a enfrentar surtos de poliovírus circulantes derivados da vacina de tipo 2 (cVDPV2), que podem ocorrer em comunidades com níveis baixos de vacinação.

Por outro lado, a directora Regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti, disse que os conhecimentos adquiridos com a erradicação da poliomielite irão continuar a ajudar a Região Africana no combate à COVID-19, bem como outros problemas de saúde que têm assolado a África.

Os esforços visam, em última instância, de acordo coma especialista, que o continente realize os progressos necessários para alcançar a cobertura universal de saúde. Será esse o verdadeiro legado da erradicação da poliomielite em África.

Segundo OMS Angola, em 1996, os chefes de Estado africanos comprometeram-se a erradicar a poliomielite durante a trigésima segunda sessão ordinária da Organização da União Africana, em Yaoundé, nos Camarões. Na altura, lê-se, estimava-se que a poliomielite estava a paralisar cerca de 75.000 crianças por ano no continente africano.

No mesmo ano, continua a OMS no documento, Nelson Mandela, com o apoio do Rotary Internacional, impulsionou o compromisso do continente em erradicar a poliomielite com o lançamento da campanha “Kick Polio Out of Africa”.

“O apelo de Nelson Mandela incentivou as nações e os líderes africanos em todo o continente a intensificarem os seus esforços para que a vacina contra a poliomielite chegasse a todas as crianças”, pode-se ler no comunicado.

A poliomielite é uma doença viral transmitida entre pessoas, principalmente através da via fecal-oral ou, menos frequentemente, de água ou alimentos contaminados, e multiplica-se nos intestinos.