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Angola e Moçambique sem capacidade de resposta à crise económica

Isabel Bernardo
10/5/2021
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Foto:
DR

Angola e Moçambique estão em crise económica causada pela Covid-19 que está a penalizar automaticamente o crescimento económico de África, colocando os países altamente endividados.

Segundo a Comissão Económica da ONU para África (UNECA), os países acima referenciados estão limitados na capacidade de responder com estímulos.

Moçambique registou uma dívida de 108,8% do PIB e um défice orçamental de 6,1% no ano passado, e Angola, cuja dívida atingiu 95% do PIB, ainda que a par de um excedente orçamental de 0,7%.

A comissão da ONU afirma no relatório que o crescimento dos países africanos deve desacelerar de 3,2% para 1,8%, no melhor cenário, deixando cerca de 27 milhões de pessoas na pobreza extrema.

Segundo a UNECA, mais de 50% dos países africanos registaram défices orçamentais acima de 3,0% em 2019 e cerca de 22 países africanos apresentaram índices de dívida em percentagem do PIB acima da média africana de 61%.

“Enquanto os países desenvolvidos aplicaram milhares de milhões de dólares no sector da Saúde, na rede de segurança social e medidas de estímulo económico, a África carece fortemente de espaço orçamental para reagir da mesma forma”, refere o documento da UNECA.

A situação financeira africana, adianta a comissão da ONU, é penalizada por “quatro desafios críticos”, nomeadamente níveis elevados de dívida em relação ao Produto Interno Bruto, défices fiscais elevados, altos custos de crédito e depreciação de muitas moedas africanas face ao euro e ao dólar.

Vera Songwe, subsecretária-geral da ONU e secretária executiva da UNECA, prevê que serão necessários 100 mil milhões de dólares de forma urgente para criar margem de manobra orçamental a todos os países, de forma a que possam “atender às necessidades imediatas da rede de segurança das populações.”

“Os custos económicos da pandemia foram mais severos do que o impacto directo do Covid-19. Em todo o continente, todas as economias estão a sofrer com o choque, sendo que o distanciamento físico necessário para gerir a pandemia está a sufocar e a afogar a actividade económica”, afirmou Songwe no lançamento do relatório.

Segundo o documento, as pequenas e médias empresas africanas estão particularmente ameaçadas, se não houver apoio imediato.

O preço do petróleo, que representa 40% das exportações da África, caiu pela metade em valor, e as principais exportações africanas caíram, incluindo o turismo e aviação.

Também na semana passada, no seu relatório Perspectivas Económicas Globais, o Fundo Monetário Internacional previu uma recessão na África a sul do Saara de 1,6% em 2020, 5,2 pontos percentuais abaixo das previsões de Outubro.

Todos os países africanos de língua oficial portuguesa, à excepção de Moçambique, deverão registar uma contracção económica, com Angola, dependente das exportações de petróleo, a cair 1,4% e Cabo Verde 4,0%, nove pontos percentuais abaixo da anterior previsão.

São Tomé e Príncipe deve registar uma recessão de 6,0% do PIB, a mais acentuada entre os países língua oficial portuguesa e a economia da Guiné-Bissau deve cair à volta de 1,5%.

Moçambique deverá crescer 2,2% este ano, o mesmo que no ano passado, segundo o FMI, mas a previsão não é partilhada pela Economist Intelligence Unit (EIU), que estima que a economia de Moçambique sofrerá uma quebra de 2,4% este ano. (Macauhub)