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BM exorta governos africanos a estruturar urgentemente a estabilidade macroeconómica

Cláudio Gomes
6/10/2022
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Cláudio Gomes

Os governos africanos gastaram 16,5% das suas receitas com o serviço da dívida externa em 2021, um aumento face a menos de 5% em 2010, de acordo com uma nota do Banco Mundial (BM).

O documento recepcionado pela Economia & Mercado informa que oito em cada 38 países elegíveis da Associação de Desenvolvimento Internacional (IDA), em inglês, International Development Association, na região estão em situação de sobre-endividamento e 14 em risco elevado de se lhes juntarem.

Ao mesmo tempo, informa a nota, os altos custos dos empréstimos comerciais impedem os países de contraírem créditos nos mercados nacionais e internacionais, as condições financeiras globais mais restritivas estão a enfraquecer as divisas e a aumentar os custos do financiamento externo dos países africanos.

“Neste ambiente difícil, é essencial melhorar a eficiência dos recursos existentes e optimizar os impostos”, aconselha a instituição financeira.

Em relação ao sector alimentar e da agricultura, o BM refere que os governos têm a oportunidade de proteger o capital humano e a produção de alimentos à prova do clima, afastando os gastos públicos de subsídios mal direccionados.

No entender da organização internacional, estes recursos poderiam ser canalizados para programas de protecção social sensíveis em termos de nutrição, para obras de irrigação e para a investigação e desenvolvimento com uma alta rentabilidade reconhecida.

Os elevados preços dos bens alimentares estão a criar dificuldades com graves consequências numa das regiões do mundo com maior insegurança alimentar.

“A fome subiu abruptamente na ASS nos últimos anos em resultado dos choques económicos, violência e conflitos e condições climáticas extremas. Mais de uma em cada cinco pessoas em África passa fome e cerca de 140 milhões viveram uma grave situação de insegurança alimentar em 2022, um aumento face aos 120 milhões em 2021, segundo a actualização intercalar do Relatório Global sobre Crises Alimentares 2022”, refere.

Deste modo, realça, a nova definição de prioridades mantém o nível de gastos num sector crítico, elevando simultaneamente a produtividade, criando resiliência às alterações climáticas e conquistando segurança alimentar para todos. “A criação de um melhor ambiente para os agronegócios e a facilitação do comércio intra-regional de bens alimentares podia também aumentar a segurança alimentar a longo prazo numa região que é altamente dependente de importações alimentares”, pode-se aferir na nota.

De acordo com contas feitas pelo BM, um dólar investido na investigação agrícola produz, em média, benefícios equivalentes a 10 dólares, enquanto os ganhos provenientes de investimentos na irrigação são também potencialmente elevados na África Subsariana (ASS).

Estabilidade macroeconómica

O BM exorta os governos africanos a estruturar urgentemente a estabilidade macroeconómica e proteger os pobres num contexto de crescimento lento e de alta inflação, tendo em conta as vulnerabilidades a que estão submetidos milhares de cidadãos africanos.

Segundo a nota do BM em referência, tendências globais desfavoráveis estão a desacelerar o crescimento económico de África, numa altura em que os países continuam a debater-se com uma inflação crescente, impedindo o progresso na redução da pobreza.

Citando a última publicação Africa ’s Pulse do Banco Mundial, uma análise semestral do panorama macroeconómico regional de curto prazo, o órgão informa que o crescimento económico na África Subsariana (ASS) irá baixar de 4,1% em 2021 para 3,3% em 2022, uma revisão que regista uma queda de 0,3 pontos percentuais desde a última previsão de Pulse de Abril. De acordo com o documento, o abrandamento se deve sobretudo a um abrandamento do crescimento global, incluindo a redução da procura de matérias-primas de África por parte da China.

As crises interligadas verificam-se numa altura em que o espaço fiscal, necessário para preparar respostas eficazes do governo, praticamente desapareceu. Em muitos países, as poupanças públicas esgotaram-se com programas anteriores para contrariar as consequências económicas da pandemia COVID-19, muito embora os países ricos em recursos tenham, em alguns casos, beneficiado dos altos preços das matérias-primas e conseguido melhorar os seus balanços.