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“Cabinda tem os mesmos problemas que o resto do país”

Cláudio Gomes
10/12/2021
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Cedida pela fonte

Em entrevista à Economia & Mercado, o empresário angolano João Filipe mostra-se optimista com “o empenho pessoal” do Presidente da República na fiscalização das obras estruturantes da província.

Contudo, o presidente do Conselho de Administração da CABSHIP, empresa angolana pioneira que investe em conteúdo local no sector petrolífero, lamenta, a falta de compromisso de muitas empresas nacionais e estrangeiras que a 10, 15 e 20 anos operam na província que, no entanto, “nem têm um tchimbeco (escritório próprio).

Qual é a sua visão sobre a situação socioeconómica da província de Cabinda?

Cabinda poderia estar melhor, do ponto de vista socioeconómico. Vivemos os mesmos problemas que o resto do país. As assimetrias regionais, entretanto, são visíveis. Estamos optimistas que o empenho pessoal do titular do Poder Executivo, de fiscalizar as obras estruturantes em curso na Província, venha a dar um novo dinamismo a Cabinda.  No geral, Cabinda tem os mesmos problemas que tem o resto do país, talvez com a agravante da descontinuidade geográfica. Estamos em crer que, concluído o terminal marítimo de Cabinda, e possivelmente o Porto de Caio, poderá influenciar positivamente a mobilidade de pessoas e bens com alguma facilidade. Porém, não compreendo que empresas nacionais e estrangeiras a trabalhar 10, 15 e 20 anos, na província nem têm um tchimbeco  (escritório próprio). É uma pouca-vergonha.

O que se pode esperar destes investimentos para a províncias?

Sabemos que investimentos deste porte em regra provocam externalidades positivas, que poderão ser aproveitadas pelo sector privado para alavancar outros tipos de negócios complementares.

Conteúdo local, o que se oferece dizer?

A CABSHIP é um exemplo de conteúdo local. Somos uma empresa indígena angolana. Temos 400 colaboradores entre os quais cinco são estrangeiros. Somos o maior empregador privado em Cabinda.

A Lei nº. 271/2020, sobre o conteúdo local é um instrumento importante para o crescimento do sector privado nacional no sector dos petróleos. Para tal, deve haver rigor na fiscalização dos actos das operadoras. Talvez, se deve começar a pensar na criação de uma direcção de conteúdo local na Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG) para o efeito. Todavia, daqui a dias vamos ter o tão esperado regime de exclusividade.  Este instrumento é de extrema importância para o sector. Os vários serviços da cadeia de valor do O&G (petróleo e gás), passam a ter exclusividade, preferência e concorrência, em benefício das empresas indígenas angolanas.

Com estas condições jurídicas, qual deve ser o posicionamento das empresas nacionais?

As empresas devem preparar-se porque o sector de O&G é muito exigente. Não basta sermos empresas angolanas, temos que agregar valor aos nossos clientes. As nossas empresas para serem tidas como sérias devem estar organizadas, ter procedimentos, certificações internacionais, código de ética, planos de negócios, compliance e compromisso com a sociedade. E por último, deve-se ter uma cultura de trabalhar em segurança, e protecção do ambiente. Resumindo: excelência operacional.

O acesso às divisas e a carga fiscal constituem handicaps para o negócio?

Não se trata de uma situação apenas da CABSHIP. O acesso às divisas, essencialmente para pagar bens e serviços no exterior, já esteve pior. Ainda está demorado o tempo que leva uma transferência para o exterior, isso é verdade. Porém, há dias fui a um banco comercial da nossa praça, e disseram-me que estão a fazer transferências em cinco dias úteis. A ser verdade, e havendo disponibilidade de forex (moeda estrangeira), penso estar ultrapassado este tema, por enquanto. Em relação ao fisco, confesso que é pesado. É o preço que as empresas pagam para fazer negócio.

Que outros handicaps afectam o crescimento da empresa?

Constituem handicaps ao crescimento da empresa o acesso ao crédito e a outros produtos financeiros, incluindo o alto custo do crédito bancário. Para os ultrapassar temos que adiar os projectos de capital intensivo. A utilização de recursos próprios em situações pontuais, tem sido outra opção. Outro empecilho, que temos é o excesso de burocracia. Como ultrapassá-la, quando um ministro nunca está disponível para nos receber, ou despachar a nossa correspondência? Não sabemos como ultrapassar isso... Infelizmente, esta é a realidade que vivemos.

Que projectos serão implementados a curto, médio e longo prazo?

A curto prazo, vamos continuar a oferecer soluções às empresas em Angola dos sectores de petróleo, minério, construção, energia e saúde, na gestão integrada de inventários, para optimizar custos. A médio prazo, neste sentido, pretendemos fortalecer a nossa presença no segmento de offshore marine support  (barcos, sondas e FPSO) e, a longo prazo, a construção de um parque logístico. Pretendemos contribuir para reduzir os custos da cadeia logística, incluindo medicamentos, bens alimentares secos e congelados, com a integração de soluções digitais que facilitam a gestão de produtos e matérias em armazéns terceirizados. O que a nosso entender, vai concorrer para a redução do custo de distribuição de pequenos e médios distribuidores e produtores locais e internacionais.

Quais são as suas expectativas para os próximos anos?

Porém, convém dizer, que o país está a levar a cabo um conjunto de reformas que concorrem para o desenvolvimento socioeconómico. Importa destacar também, a melhoria dos níveis de actividade económica, com realce para o crescimento real do PIB em 1,2% no segundo trimestre do ano em curso. Associam-se, a estabilidade cambial e a recuperação das reservas internacionais líquidas.