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Confinamento cerebral

Nuno Fernandes
3/8/2020
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Foto:

A actual situação sanitária do país, longe de agregar valor crítico, tem levado a consideração e apreciações muito duvidosas por parte de gente com responsabilidades.

Algumas apreciações são absolutamente disparatadas, sem nível e sem consideração pelo grosso da população que dizem defender. Pior: pela população que com o seu voto os colocou nos lugares que ocupam. Começarei pelo chefe da bancada parlamentar do MPLA. O senhor afirmou na televisão estatal que não tinha conhecimento que alguém, neste período de emergência nacional, se tivesse queixado de falta de água e de energia (!!!) É no mínimo razoável fazer-se uma declaração destas? A quem abona? Decerto que não ao Partido que representa, nem à sua bancada parlamentar nem a si próprio. Não abona a nenhum de nós. O próprio Governo, e muito bem, reconhece, por exemplo, na falta de água um factor impeditivo para o recomeço das aulas. Onde anda esse senhor? Habita este país? Conhece as províncias? Contacta coma população? É um facto que a distribuição de energia melhorou imenso, mas ainda há uma franja considerável de gente que não a recebe regularmente. O próprio ministro Baptista Borges, e bem, o disse por diversas vezes. Assentiras insuficiências não é sinal de fraqueza, pelo contrário. É mostrar que se está disposto a inverter a situação.

Um outro deputado, do mesmo Partido (por mera coincidência), jurista de formação, noutra estação de televisão, num debate político de baixo nível, afirmou que o conceito de pobreza definido pelos organismos internacionais não se aplica ao nosso país. Segundo ele, os nossos pobres não são pobres, pois nos seus quintais têm sempre um mamoeiro, uma bananeira, uma mandioqueira de onde tiram rendimentos que os elevam à condição de menos pobres, talvez remediados e, quiçá, no seu modo de ver, a pequenos burgueses. A referência à mandioqueira, bananeira e mamoeiro é minha, mas advém da caracterização que aquele deputado fez do quintal dos pobres angolanos. Aconselho a que aceda a uma imagem pelo Google Maps para perceber sobre os tais quintais. Estou crente que o quintal do referido deputado deve ser um pouco mais farto e se estenda às prateleiras dos melhores supermercados da capital. Em ambos os casos, não se tratava de defender melhor o Partido que representam, pois a pobreza, a falta de água e de energia são factos indesmentíveis no país e o Governo reconhece-o e propõe-se a alterar. Esse tipo de declarações raia o ridículo e de todo, a meu ver, deveria merecer a melhor análise do Partido que os autoriza. No final, é sobre este que recairão as críticas e o fel de quem já suporta o insuportável.

Também em tempo de emergência nacional, alguém em nome da ciência, quis, num programa de televisão, dissertar sobre a pigmentação genuína do negro angolano. Ao fim de 45 anos ainda há gente a querer definir o Homem angolano, suportando-se em teorias raciais desfocadas da realidade. Mais ainda sustentando afirmações em factos não verdadeiros já desmentidos materialmente a quem de direito. A ciência obriga à prova material. O pior é vermos posições destas a serem assumidas por quem teve responsabilidades governativas e com assento em órgãos de responsabilidade nacional.

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