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COVID-19. Impacto na economia mundial

Justino Pinto de Andrade
30/3/2020
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Foto:
DR

A ausência inicial de uma denominação oficial para o “COVID-19” colocava o risco de se produzir uma discriminação negativa contra certas pessoas como os chineses e seus hábitos culturais.

Houve um alerta dado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), pois havia mesmo quem o chamasse “Vírus da China”.

As crianças são mais propensas à infecção pelos “coronavírus” mais comuns, nomeadamente o alfha coronavírus 229E, NL63 e o beta coronavírus OC43, HKU1. Um dos que mais temor causaram foi o SARS-CoV (Síndrome Respiratório Agudo Grave), originado na China em 2002 e proveniente de gatos-de-algália (civeta) infectados por morcegos posteriormente vendidos em mercados. Seguiu-se-lhe o MERS (causador do Síndrome Respiratório do Médio Oriente), identificado em 2012, e reportado inicialmente na Arábia Saudita.

Por exemplo, a designação “gripe suína” para a estirpe devírus H1N1 provocou o abate de todos os porcos no Egipto quando, na realidade,a infecção é espalhada por humanos.

Daí que a OMS tenha declarado que “certos nomes de doenças provocam uma reacção contra membros de comunidades religiosas ou étnicas específicas, criam barreiras injustificadas para viagens e comércio e provocam o abate desnecessário de animais para alimentação”. Pelo que, para aOMS, o nome do “novo coronavírus” não deve incluir localizações geográficas, nomes de pessoas, animais, tipos de alimentos ou referências a uma cultura ou sector específico.

Enquanto os cientistas se empenham na busca de uma vacina para debelar o mal, emerge um sem número de palpites sobre a sua origem, desde a ingestão pelos chineses de Wuhan de sopa de morcegos e de um certo tipo de cobras, até à produção intencional do vírus para aumentar os ganhos das indústrias de elaboração de vacinas. Sem esquecer uma suposta guerra económica para debilitar o crescimento da China, a segunda potência económica do mundo. De facto, as implicações económicas internacionais de uma expansão descontrolada do “novo coronavírus” são uma matéria não negligenciável.

É já um facto o seu impacto na aviação civil, pois diversas companhias aéreas decidiram cancelar voos para a China, casos da Lufthansa e da British Airways, mas, igualmente, da United Airlines e da indiana Indigo.

Países europeus assim como o Japão e os Estados Unidos da América procedem ao repatriamento dos seus concidadãos residentes nas regiões mais afectadas da China. Não apenas pessoal consular, mas também técnicos de fábricas aí instaladas, com destaque para os relacionados com a indústria automóvel, como a Toyota, General Motors e Volkswagen. Wuhan é a sede das principais produtoras chinesas de automóveis e aço, albergando mais de 300 das 500 principais empresas do mundo. As mais avança- das marcas tecnológicas, como a Google, Amazon e Microsoft, decidiram fechar temporariamente os seus escritórios na China, Hong Kong e Taiwan.

Não se limitando à região do epicentro do surto, as autoridades chinesas pediram aos habitantes de outras cidades que se mantenham o máximo de tempo possível dentro das suas casas, saindo apenas em caso de extrema necessidade, o que tornou o panorama de inúmeras cidades chinesas desolador, com ruas praticamente vazias. Facto que afecta não somente a produção, como também o consumo. E centenas de estabelecimentos ligados a marcas internacionais como a McDonald ́s terão encerrado as suas portas.

Parte da “fábrica global” como é conhecida a China pela sua potência exportadora está virtualmente parada, desacelerando a actividade económica em diversas regiões do país.

É um cenário que já impactou sobre a procura e o consumo de combustíveis, fazendo baixar o seu preço nos merca- dos mundiais. O preço do petróleo está em baixa. E as bolsas de valores não escapam à crise que se manifesta na economia chinesa, um dos motores da economia mundial, em contramão com a expectativa gerada pelos benefícios do recente acordo comercial entre aquele país e os EUA.

O modo mais directo para se entender o impacto da actual crise de saúde chinesa na economia mundial é ler as declarações de Gilles Moec, economista da gestora de activos AXA IM: “Ainda é muito cedo para quantificar o impacto económico do novo coronavírus, mas para avaliar choques inesperados como esse, a abordagem mais razoável parece ser olhar para os precedentes”. “Nesse sentido, a crise do SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que matou mais de 700 pessoas, em 2003, reduziu o PIB da China em 1,1% e o de Hong Kong em 2,5%, enquanto o impacto nos Estados Unidos foi de 0,1%”.

Mas a presença da China nos mercados internacionais não é a mesma de há 17 anos. Se em 2003 a participação do país no total foi de US$ 1,6 trilião, em 2019 foi de US$ 14 triliões. Daí que Rick Muller, director de estratégia da companhia de investimentos Muzinich & Co, afirme: “A universalização de um impacto na economia chinesa não deve ser subestimada. O país representa 18% do PIB mundial, uma parte equivalente das exportações mundiais e hoje está mais entranhado no turismo do que em 2003”.

Leia mais na edição de Março de 2020

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