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Cunene. De campos de batalha a campos agrícolas

Sebastião Vemba
9/10/2019
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Foto:
Carlos Aguiar

Mais de 40 quilómetros separam a vila de Xangongo da cidade de Ondjiva. Pelo caminho, avistam-se dois veículos blindados que nos lembram a história recente do país, a guerra civil.

O Cunene foi uma das províncias mais afectadas. Hoje, a luta é outra. Combate-se a seca que ceifa Vidas. Para vencer a fome os agricultores querem transformar os antigos campos de batalha em campos de cultivo. Em Abril último, o Ministério da Agricultura e Florestas admitiu que a campanha agrícola 2018-2019 na província do Cunene estava comprometida devido à seca. Nos meses seguintes, a estiagem intensificou-se e afectou, de sobremaneira, os pequenos agricultores.

“A agricultura de subsistência ficou severamente comprometida”, informou à E&M um agricultor, em Agosto. Passado um mês, contactámos a Direcção Provincial da Agricultura, bem como o Ministério da Agricultura e Florestas, para ter dados actualizados, mas não fomos bem-sucedidos até ao fecho desta edição.

Até Agosto último, quando visitámos a província, 178.000 famílias, o equivalente a um total de 857.000 pessoas, estavam afectadas pela seca, segundo dados oficiais. O Governo local mapeou mais de 430 localidades como pontos críticos, onde, além do elevado índice de abandono escolar, se registou a morte de crianças devido à fome, revelou à Economia & Mercado um guia que nos conduziu à localidade do Péu-Péu.

Embora se desencontrem dos dados de agricultores e criadores de gado locais, os números de perdas humanas e de animais apresentados pelo Governo do Cunene não deixam de ser dramáticos. Até Agosto a estimativa era de cerca de 30.000 cabeças de gado. Um agricultor local, que gere uma fazenda no Cuvelai, acha que o número de animais mortos pela seca já ronda o dobro da estimativa oficial, sendo que muitas perdas ocorrem ao longo das transumâncias.

Entretanto, nem tudo está perdido. Nas margens do rio Cunene, propriamente no município do Cuvelai, várias fazendas mantêm a produção a um ritmo normal. Manuel Chipango Mussengue, gerente da Fazenda Mutwe wa Ngando, “Cabeça do Jacaré”, traduzido para português, garantiu que nessa localidade luta-se para “transformar os campos de batalha em campos de produção agrícola”.

“Não produzimos muito, se nos compararmos a todo país, mas, ao nível do sul de Angola, somos um dos maiores produtores de milho”. No ano passado, a fazenda produziu acima de 1.000 toneladas de milho, num total de 200 hectares.

Leia mais na edição de Outubro de 2019

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