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De promessas ainda padece o turismo

Sebastião Vemba
15/5/2020
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Foto:
DR

O Governo admite que “embora o potencial de desenvolvimento do turismo em Angola seja grande, ainda existe um importante caminho a percorrer, para que daí possam advir benefícios sociais e económicos.

Há um ano, Angola acolhia, em Luanda, o Fórum Mundial do Turismo, no âmbito do qual foi anunciado um investimento, para os “próximos anos”, na ordem de mil milhões de dólares norte-americanos, que seriam aplicados obedecendo ao Plano de Desenvolvimento do Turismo Nacional, como parte integrante do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018/22.

A realização do evento levantou uma série de dúvidas, começando pela origem do investimento anunciado e de que forma seria captado, tendo em conta a actual baixa atractividade da economia angolana, apesar das várias medidas criadas, desde 2017, para a melhoria do ambiente de negócio.

Vale a pena recordar que, na altura, e neste mesmo espaço de opinião, escrevi que, ao contrário da mensagem excessivamente optimista que se passou sobre os resultados do Fórum Mundial do Turismo, que se traduzia numa espécie de “renascimento” do sector, havia muitas dúvidas sobre se o “day after” do evento iria, de facto, fazer jus ao sonho que se vendeu, entre algumas trapalhadas e promessas irrealizáveis. Mas consideremos esse assunto como águas passadas. Se calhar, também poderá fazer algum sentido esquecer que houve um Fórum Mundial do Turismo em Angola. O caminho é para frente e os desafios para o sector agigantaram-se, ao fundirem-se, no mesmo pelouro, o Turismo, a Cultura e o Ambiente.

No período de 2018 a 2022, de acordo com o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN), o sector dos Serviços, incluindo o Turismo, deverá crescer a uma taxa média de 5,9%, igual à da indústria transformadora e superior à dos sectores das Pescas (4,8%), e da Construção (3,8%). Contudo, com base no contexto actual de crise económica, agravada com o arrefecimento imposto pela pandemia da Covid-19, pode-se depreender que o peso do Turismo na rubrica Serviços será mínimo, pois o isolamento social e o encerramento temporário ou definitivo de vários negócios reduzir-lhe-á, ainda mais, o já pouco significante contributo no PIB nacional. Aliás, ainda no PDN 2018-2022, o Governo admite que “embora o potencial de desenvolvimento do turismo em Angola seja grande, ainda existe um importante caminho a percorrer, para que daí possam advir benefícios sociais e económicos para os angolanos”. A justificação para o referido atraso na exploração dos recursos turísticos, “numa base sustentável”, tem sido a “situação económica e financeira do País”, justifica-se o Governo. Porém, sabe-se que a má gestão e o descaminho das finanças públicas foram mais prejudiciais do que a baixa do preço do petróleo, apontada como principal culpada da nossa desgraça.

Para a nova liderança do sector, como dissemos, os desafios são muitos. Olhando para o PDN 2018-2022, vê-se a habitual ambição e boas intenções, mas também alguma megalomania, daí que muito do que se planeou nos últimos anos ou ficou pela metade, ou nem teve arranque. Lembremo-nos dos pólos turísticos de Cabo Ledo (em Luanda), da Calandula (Malange) e da Bacia do Okavango (Cuando Cubango), localizados em regiões turísticas totalmente subaproveitadas.

Será necessário realinhar a estratégia para o desenvolvimento do turismo doméstico, em primeiro lugar, numa combinação com a cultura e o ambiente, duas áreas que também andam numa indefinição e subaproveitamento a todos os níveis.

Considerando que os gestores terão autonomia — ao contrário do centralismo que condiciona a realização de projectos que podem ser pensados e executados, cabalmente, ao nível local; e que, ao contrário de um Estado “faz-tudo”, os projectos serão lançados no mercado em concurso público, para serem desenvolvidos e geridos por privados com experiência comprovada — será necessário realinhar a estratégia para o desenvolvimento do turismo doméstico, em primeiro lugar, numa combinação com a cultura e o ambiente, duas áreas que também andam numa indefinição e subaproveitamento a todos os níveis.

Se o próprio Governo defende que “a política cultural deve, também, apoiar o turismo cultural, devendo para isso reabilitar, promover e divulgar o património histórico, arquitectónico e cultural existente”, e que “além do seu valor intrínseco na constituição da identidade da Nação, a Cultura, através da Arte, constitui um dos pilares do desenvolvimento económico”, ao passo que as políticas ambientais vêm salvaguardar o uso responsável e sustentável dos recursos naturais, ficam delineados, em termos gerais, os trilhos a serem seguidos. Entretanto, é necessário um desligamento total do contexto anterior, em que nada saía do papel, padecendo o Turismo de promessas irrealizáveis ano após ano.