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 “Em cinco ou dez segundos o voo esteve em queda mas depois conseguiu estabilizar”

Cláudio Gomes
28/3/2023
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Foto:
Andrade Lino

 “Foi uma terrível turbulência, se a aeronave não estivesse em condições jamais aguentaria o embate”, conta, Adão Paulo Lino, de 35 anos, angolano, que esteve a bordo do DT 652 da TAAG.

Acompanhado da esposa, o economista residente em Luanda disse ter visto a vida pelo ‘furo de uma agulha’ quando a aeronave em que seguia entrou numa zona de "turbulência severa" como classificou a companhia de bandeira angolana (TAAG) num comunicado.

No documento, a empresa informa que no final a continuidade do voo foi assegurada e foram colocados em prática todos os pressupostos aplicáveis de segurança operacional.

O que aconteceu no voo?

O avião foi afectado por uma turbulência. Vi o tecto da aeronave partido pelo embate de um carrinho que os hospedeiros de bordo utilizam para transportar, servir refeições e bebidas. Foi justamente no momento que se recolhiam os pratos que ocorreu o incidente. Também vi um senhor que estava sentado ao meu lado esquerdo (separados pelo corredor), que apanhado sem o cinto de segurança, quando regressava da casa de banho, foi projectado contra a parte superior da aeronave, tendo  embatido com a cabeça no tecto, no momento em que pretendia meter o cinto de segurança.

Quanto tempo durou a turbulência?

Cinco a dez segundo. A aeronave esteve em queda livre, mas depois estabilizou. A turbulência provocou danos ao aparelho. Acredito que já havia problemas técnicos porque instantes depois da decolagem  o cinto de segurança esteva ligado. Inclusive, as casas de banhos estavam encerradas, se calhar para evitar que os passageiros sofressem quaisquer danos. Passados uma ou duas horas, as necessidades humanas falaram mais alto e abriu-se excepções, inicialmente  para crianças e depois adultos.

Que informação receberam do comandante?

A viagem já estava a ser inquietante. Momentos depois o piloto anunciou a entrada numa zona de turbulência. Estava com a minha esposa, tentando perceber o que se estava a passar. Olhámos um ao outro e exclamámos: como assim? Se já estávamos em turbulência! O anúncio chamou-nos  ainda mais a nossa atenção. Instantes depois começou a perturbação. Foi rápido mas causou ferimentos a alguns passageiros, principalmente aqueles que estavam sem cinto de segurança. Sou das pessoas mais interessadas em perceber o que realmente se passou –se estávamos no piloto automático ou se foi exactamente o piloto (humano) quem fez aquele mergulho paratirar-nos da zona deturbulência?

Que disseram os assistentes de bordo?

Disseram que nunca passaram por situação idêntica, após muito tempo de viagem. Felizmente, eu e a minha esposa estamos bem porque no momento da turbulência tínhamos cinto segurança. Não fomos atingidos por utensílios e nem bagagens.

Houve ferimentos?

Houve sim feridos, mas não consigo dizer quantos. Tomei conhecimento por um comunicado da TAAG sobre o número porque durante a viagem tínhamos de permanecer sentados. Apenas o pessoal de bordo tinha esta informação. Fala-se em dez feridos. Posso confirmar que houve alguns feridos graves. Tão logo recebemos autorização para desembarcar, as primeiras pessoas que começaram a deixar o avião foram os feridos. Destas pessoas, uma pareceu-me grave, tinha ferimentos na cabeça em resultado do embate na zona de acondicionamento de bagagens. Acredito que parece estava sem cinto de segurança.

Qual é a tua versão a respeito dos cuidados prestados pela tripulação?

Fizeram um trabalho exemplar. Foram profissionais,  muitos deles também foram afectados, pois estavam no corredor e sem cintos de segurança. Ainda assim apoiaram os que estavam feridos, principalmente os mais graves. Era evidente que entre eles não havia nenhum médico, mas fizeram o possível para acalmar os passageiros, porque tínhamos mais de cinco horas de voo. A situação ocorreu quando os hospedeiros de bordo recolhiam os pratos. Tínhamos acabado de almoçar. O comandante pediu a comparência de um médico na cabine, a fim de se prestar os primeiros socorros aos feridos, mas parece que não haviam nenhum profissionais de saúde, porque ninguém se pronunciou.

 Acredita que foi de facto uma situação causada por turbulência?

Sim. Se a aeronave não estivesse em condições jamais aguentaria o embate. Parecia que a aeronave embateu contra uma parede invisível. Foi a segunda vez que viajei pela TAAG desde que a nova gestão assumiu a empresa. Porém, pude perceber que a prestadora (Hi Fly) segue um percurso diferente daquilo que era habitual, em relação a rota Luanda-Lisboa e vice-versa. Isto é evidente na aterragem. Ou seja, para aterrar em Lisboa passámos por cima de Espanha, o que não acontecia. Antes passávamos por Marrocos, atravessávamos  o mar e curvávamos à directa para aterrar. A tripulação tem usado uma rota diferente da habitual. Já voei por várias ocasiões na rota Luanda-Lisboa e Lisboa-Luanda, a maior parte destas viagens foram durante a gestão anterior e voávamos com as aeronaves do tipo Boeing 777 300. As actuais parecem que são da Air Bus. 

Voltaria a viajar a bordo de uma aeronave da TAAG? 

É uma questão difícil de responder. Tenho mesmo de regressar pela TAAG porque os recursos são insuficientes para comprar um bilhete de outra companhia. Este é um elemento a ponderar, visto que há um certo desconforto. Não apenas pelo sucedido, mas pelo facto de nos últimos momentos, a companhia estar a passar por situação menos  boas. Como é evidente, ficamos com alguma insegurança quando se trata de viagens de seis, sete ou oito horas. Não se sabe até que ponto as pessoas são capazes de se manifestar e mostrar que estão descontentes. Temos relatos de aeronaves que não decolaram porque tiveram problemas na iluminação. Houve passageiros que tiveram de cancelar a viagem porque a aeronave avariou. Aliás, há um conjunto de situações que têm estado a ocorrer que põem em causa a confiança em viajar pela TAAG.

Leia na íntegra o comunicado da TAAG

TAAG ACTUALIZA A SITUAÇÃO DOS PASSAGEIROS APÓS VOO MARCADO POR TURBULÊNCIA

Luanda 24 de Março de 2023: Na sequência da sua comunicação anterior, a TAAG Linhas Aéreas de Angola partilha com a opinião pública que como resultado da turbulência severa que afectou o seu voo DT 652 Luanda-Lisboa, realizado ontem quinta-feira dia 23 de Março, foram inicialmente reportadas pela tripulação dez situações de pessoas com lesões ligeiras, nas quais se incluem oito passageiros e dois membros da tripulação.

Na ocasião, foram desde logo prestados os primeiros socorros a bordo pelo Pessoal Navegante de Cabine e accionados os serviços de emergência em terra que estavam em prontidão à chegada da aeronave ao aeroporto Humberto Delgado em Lisboa.

A TAAG adianta também que após a observação e avaliação feita pela equipa médica apenas 2 passageiros e 1 membro da tripulação foram encaminhados ao hospital para verificações adicionais, sendo que os restantes passageiros conseguiram desembarcar sem assistência.

No seguimento dos procedimentos habituais de segurança a TAAG priorizou a assistência aos passageiros e tripulação afectada, sendo que, seguidamente a aeronave foi inspeccionada pelas autoridades competentes estando igualmente a decorrer uma investigação sobre a ocorrência.

Importa clarificar que a turbulência severa registada neste voo ocorreu em céu aberto, um tipo de turbulência não detectável pelos instrumentos e numa localização geográfica sensivelmente perto do destino final (Portugal), e o Comandante tomou a decisão indicada em protocolo de seguir viagem, dentro do plano de voo inicial.

A TAAG dá nota que situações de condições atmosféricas adversas acontecem na aviação e que na história da Companhia casos similares de turbulência severa já ocorreram no passado, sendo que a TAAG continuará a garantir a segurança operacional dos voos. Realçamos igualmente a capacidade e brio da tripulação ao prestar assistência imediata aos passageiros numa situação bastante desafiadora, bem como, as decisões tomadas pelo Comandante ao controlar a aeronave apesar das condições meteorológicas adversas e aterrar em segurança no destino final estipulado, com as pessoas sãs e salvas.

No final a continuidade do voo foi assegurada e foram colocados em prática todos os pressupostos aplicáveis de segurança operacional.

A TAAG TAAG – Angola Airlines – foi fundada em 1938 e está baseada em Luanda, cidade capital.  Por mais de 80 anos a TAAG tem vindo a conectar os angolanos através de ligações domésticas e internacionais. A TAAG é uma companhia líder do mercado de aviação em Angola, reconhecida globalmente e com um crescimento sustentado, disponibilizando actualmente 14 destinos domésticos e 13 destinos internacionais. Além do transporte de passageiros, a sua frota realiza igualmente transporte de carga, um serviço cada vez mais essencial para o desenvolvimento do ecossistema local. A TAAG tem um profundo orgulho na sua história, serviço e foco na melhoria contínua.