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Energia eléctrica e digitalização podem acelerar o sector privado em Angola

Cláudio Gomes
6/10/2022
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Foto:
Isidoro Suka

A garantia é do novo director do Banco Mundial (BM) para Angola, instituição que dispõe uma carteira avaliada em 2.7 mil milhões de dólares para financiar projectos estruturantes no país.

À Economia & Mercado, Albert G. Zeufack disse que o BM está disponível para ajudar o país a acelerar a economia numa taxa assente em 5, 6 ou 7% do Produto Interno Bruto (PIB) e colocar Angola na rota do crescimento económico de países africanos como Senegal, Costa do Marfim e Ruanda. Para tal, o também director do BM para o Burundi, República Democrática do Congo (RDC) e São Tomé e Príncipe, disse que o governo angolano terá de apostar sério no transporte e distribuição de energia eléctrica, na digitalização dos serviços e no capital humano. Leia também sobre a perspectiva do BM em relação a expansão do Programa de Fortalecimento da Protecção Social (Kwenda) nas zonas urbanas.

Albert G. Zeufack - Director do Banco Mundial para Angola

Que balanço faz do percurso da economia angolana nos últimos cinco anos?

Agradeço o vosso interesse em saber mais sobre os trabalhos do BM em Angola. Não é a primeira visita que faço à Angola, porque estive cá em 2019, na qualidade de economista chefe do BM para a África. Portanto, estou familiarizado com o contexto económico angolano.

Por ser o director do BM para Angola, São Tomé e Príncipe, RDC e Burundi. Quando olho para a economia angolana, vejo a economia angolana numa perspectiva regional. Nos últimos anos, Angola passou por momentos difíceis, porque desde 2015 que o país tem estado em recessão económica derivada do colapso dos preços do petróleo no mercado internacional. Quando a economia se restabelecia, surgiu a pandemia da Covid-19, provocando uma disrupção a nível global, afectando, também, e em grande medida, a economia de Angola. Como consequência, as contas nacionais foram deterioradas, mas nos últimos três anos tem havido uma cooperativa que tende a estabilizar a situação macroeconómica do país.

A questão do crescimento económico tem sido positivo. Actualmente a economia cresce a 2% e esperamos que entre este ano e o próximo a economia angolana cresça 3%, mas ainda é baixo.

É importante focalizar no fomento ou no crescimento económico, porque Angola precisa crescer mais que a taxa de crescimento populacional. Neste contexto, o objectivo é fazer crescer numa taxa assente em 5, 6 ou 7% do PIB, tal como acontece em países como Senegal, Costa do Marfim e Ruanda. Para Angola, será difícil crescer nestes níveis sem que diversifique a sua economia. Para que esta diversificação económica aconteça e surjam empregos para a população, o país precisa aprofundar alguns portfólios para que ocorra este aprofundamento e acelerar as reformas que visam remover os empecilhos que existem.

As reformas implementadas pelo Governo angolano na legislatura passada encaixam-se nas referências que apontou ou é necessário adicionar outras?

A legislatura passada desenhou o quadro necessário para que se pudesse acelerar e aprofundar essas reformas, mas elas precisam de ser alavancadas. Deixem-me partilhar convosco o quadro das reformas e o primeiro elemento a destacar é a questão da energia.

Devemos trabalhar o acesso universal da energia eléctrica. Em outras palavras, falo da energia que abrange a todos. Realçar que Angola investiu muito na energia hídrica, alcançando níveis substanciais do ponto de vista de geração de energia eléctrica, mas em termos de infras-estruturas, precisamos assegurar a transportação e distribuição da energia. O segundo aspecto tem haver com a questão da digitalização. Estou a falar de questões que certamente vão acelerar o desenvolvimento do sector privado, porque tem sido o sector privado responsável pela criação dos empregos ao nível dos países e não o sector público.

No que toca à transformação digital, precisamos reformar as infras-estruturas para que possamos ter sucesso através da economia digital. Estes elementos são fundamentais. Angola precisa, na verdade, alcançar os níveis de países como Quénia, que fez a sua transformação e é líder mundial na inclusão financeira. Quénia como país. Tal como este país, temos exemplos do Gana, que estabeleceu 2030 como ano para deixar de usar dinheiro físico tal como conhecemos. Aqui, vê-se uma transformação digital muito ampla do ponto de vista de pagamentos digitais. Países como Ruanda, Senegal, Costa do Marfim, a Nigéria e até mesmo a África do Sul, têm feito essa transformação digital com vista a atingir este desiderato oportunamente.

Quero destacar o factor digital, porque nestes países, o sistema digital tem gerado empregos para a juventude, empregos estes que a sensivelmente 10 ou 20 anos não seriam possíveis e nem sequer pensaríamos haveriam de existir.

Destaquei dois sectores que podem ajudar a acelerar o sector privado, o energético e o digital. Outra questão que quero destacar é o capital humano. O sector do capital humano é essencial, mas para o efeito, precisamos ter os conhecimentos e as tecnologias adequadas. Mesmo ao nível do agronegócio, que é uma área em que o governo aposta seriamente, ainda assim, precisamos das tecnologias e do conhecimento técnico para aperfeiçoar.

Olhando para o panorama de soluções avançadas, o que é que o BM tem para o futuro de Angola?

A nossa carteira de projecto para Angola, nos últimos quatro anos, melhorou significativamente. Actualmente temos uma carteira estimada em 2.7 mil milhões de dólares, mas isto traduz-se em compromissos e que podem afectar os projectos do governo. O BM apoia os projectos do governo angolano e em qualquer parte onde trabalhamos apoiamos projectos, mas cabe aos governos a sua implementação. Destacar, por exemplo, três projectos na área agrícola. Temos um que apoia pequenos agricultores que é o Mosap; temos ainda outro que visa fortalecer a agricultura comercial, que é daqueles o que têm que ver com a tão esperada diversificação económica do país. Também temos projectos com vista a melhoria dos serviços para a população por parte do governo. Em relação à água, temos o projecto do Bita que visa o fornecimento de água potável para 2 milhões de pessoas pela cidade de Luanda. Temos, ainda, projectos no campo da saúde e da nutrição; na área da electricidade com vista a melhoria e eficácia das empresas públicas do sector energético de Angola. Todos são virados para a melhoria da prestação de serviços à população angolana.

No que toca ao capital humano, temos projectos de educação e de empoderamento das raparigas.  Este projecto é de suma importância porque as pesquisas mostram que quando se investem nas raparigas, os benefícios não se assentam apenas nas raparigas, estendem-se a vida dos futuros filhos e de toda uma geração. Portanto, um investimento feito numa mulher é se alastra, dando aos seus benefícios às gerações futuras.

Perfil

Albert G. Zeufack é o Director do Banco Mundial para Angola, Burundi, República Democrática do Congo (RDC) e São Tomé e Príncipe. Antes desta nomeação, de 2016 a 2022, o Dr. Zeufack ocupou o cargo de Economista Chefe do Banco Mundial para a África.

De nacionalidade camaronesa, o Dr. Zeufack entrou para o Banco Mundial em 1997 como Jovem Profissional e iniciou a sua carreira como economista de investigação na divisão de macroeconomia do departamento de estudos. Desde então, ocupou vários cargos regionais em África, Ásia Oriental e Pacífico, bem como nas regionais da Europa e Ásia Central. Entre 2008 e 2012, quando estava de licença do Banco Mundial, exerceu o cargo de Director de Estratégia de Investigação e Investimento/ Economista-Chefe do Khazanah Nasional Berhad, o Fundo Soberano da Malásia.

Entre 2012 e 2016, foi Gestor Sectorial para a Redução da Pobreza, Gestão Económica (PREM) para a região Africana dos Grandes Lagos, Gestor de Prática na Prática Global de Macroeconomia e Gestão Fiscal, e líder de Comunidade de Prática para a Gestão de Rendas de Recursos Naturais a nível do Banco Mundial.

O Dr. Zeufack recebeu o seu doutoramento em economia pela CERDI, a Universidade de Clermont-Ferrand (França), onde leccionou antes de entrar para o Banco Mundial. Tem mestrado em análise económica e política pela Universidade de Yaoundé (Camarões) e recebeu Formação Executiva da Universidade de Harvard e da Universidade de Stanford.

O Dr. Zeufack é membro do Comité Técnico Consultivo da Carta dos Recursos Naturais da Universidade de Oxford, membro do Conselho Consultivo do Instituto de Governação dos Recursos Naturais (NRGI), membro da Rede de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e membro do Conselho do Consórcio Africano de Investigação Económica (AERC).