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Francisco Viana fala sobre produtos "Feitos em Angola"

Sebastião Vemba
19/10/2018
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Foto:
Carlos Aguiar

“Ser empresário em angola é um martírio”, afirmou o Presidente da Confederação Empresarial de Angola, Francisco Viana que está ligado ao associativismo empresarial há muito tempo. 

É fundador do Fórum dos Empresários de Língua Portuguesa, com sede em Lisboa, da Associação Empresarial de Luanda e da Confederação Empresarial dos PALOP, ambas com sede em Luanda. Actualmente à frente da CEA (Confederação Empresarial de Angola), constituída por 51 associações empresariais e união de cooperativas das 18 províncias do país, defende o incremento da produção nacional, que necessita de ser a 100%, mas sendo fundamental que traga valor acrescentado à economia. Tem negócios no sector do comércio, construção civil, segurança, indústria e hotelaria e turismo.

Em Junho, a Confederação Empresarial de Angola realizou o primeiro Congresso da Produção Nacional. A que conclusões chegaram os participantes e que avaliação faz dos resultados?

O congresso foi positivo, primeiro porque conseguimos reunir centenas de empresários, além de membros do corpo  diplomático acreditado em Angola, instituições públicas, associações empresariais e cooperativas. Discutimos temas de grande importância da actualidade, como as soluções para o financiamento da actividade económica, pois os empresários não têm liquidez suficiente para investir nos seus projectos e o crédito disponível no mercado é caro.

A ausência de recursos financeiros decorrente do contexto económico que o país vive faz disparar o custo do crédito?

Um país rico como Angola não pode dizer que tem recursos financeiros. O mínimo que podemos dizer é que o dinheiro não está a ser bem gerido. Não se pode falar em ausência de recursos, mas sim em desperdício de recursos. Felizmente, já há uma intenção clara de se inverter o quadro actual, através do combate à corrupção e ao nepotismo.

 

“A produção nacional está doente porque passa por grandes obstáculos, a começar pela dificuldade de acesso ao financiamento e a algum desequilíbrio na aquisição de divisas para comprar os insumos e equipamentos lá fora”.
Presidente da Confederação Empresarial de Angola, Francisco Viana

 

Voltando à primeira questão, o congresso de Junho permitiu diagnosticar a saúde da produção nacional?

A produção nacional está doente porque passa por grandes obstáculos, a começar pela dificuldade de acesso ao financiamento e a algum desequilíbrio na aquisição de divisas para comprar os insumos e equipamentos lá fora. Estes pressupostos devem ser resolvidos para que a produção nacional funcione na normalidade. Entretanto, há ainda uma terceira dificuldade para enfrentarmos os desafios que se avizinham e que é a carência de recursos humanos em todos os níveis de qualificação. É por esse motivo que gostaríamos que o Governo angolano promovesse uma campanha de imigração selectiva, tal como fizeram vários outros países. Isso permitiria que tivéssemos técnicos qualificados para formar vários outros profissionais.

Apesar de não estar bem de saúde, como afirmou, a produção nacional vai acontecendo, desde a agricultura à indústria transformadora. Qual é a avaliação que faz do programa “Feito em Angola”?

Primeiro, os gestores do programa “Feito em Angola” precisam de trabalhar mais com os empresários. Recentemente, estive em feiras empresariais internacionais, nomeadamente em Macau e na Alemanha, e não vi o programa “Feito em Angola” a representar o país. A CEA teve de assumir todos os custos para que Angola estivesse devidamente representada. Existem apenas intenções, pois, na prática, quase nada acontece. Defendemos que haja mais concertação e articulação entre o Governo e o sector privado.

Ao nível da CEA há essa concertação, nomeadamente entre os empresários e as associações e cooperativas que a constituem?

Nós estamos representados em todas as províncias do país e conhecemos profundamente a realidade económica angolana, em particular do sector produtivo que se debate com problemas de falta de adubos, sementes, sacas para embalar produtos, treinamento dos trabalhadores… Mas há ainda outras preocupações, que abordámos no congresso, relacionadas com a dívida pública e a contratação pública. O Governo continua a gastar centenas de milhões de dólares em serviços prestados por empresas estrangeiras, quando esses podem ser fornecidos localmente. Esse excesso de consultores externos que o país tem é uma forma de desviar os recursos públicos, quando podemos fazer o mesmo trabalho por muito menos. Outra questão que muito nos prejudica é a acção do fisco, porque muitas vezes somos obrigados a pagar impostos sobre dinheiro que não recebemos. Hoje, ser empresário em Angola é um martírio.

Apesar do “martírio” produz-se alguma coisa localmente, certo?

Sim. Os empresários são uns heróis. Apesar do sofrimento, produzem um pouco de quase tudo. No agronegócio, por exemplo, temos empresas bem lançadas, mas ainda há vários constrangimentos. Basta lembrarmo-nos do grande escândalo que foi a incapacidade de escoamento do arroz produzido no Cunene. Veja que, actualmente, Angola produz milho, mas o Governo liberalizou a entrada desse produto, o que privilegia as importações em detrimento da produção nacional, porque, infelizmente, ainda cometemos o grave erro de taxar as sementes. Isso é criminoso.

Leia mais na edição de Agosto de 2018.

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