O economista Alves da Rocha, director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade de Angola, aponta a indisciplina como principal desafio para o desenvolvimento de Angola, uma vez que os projectos “nunca” chegam ao fim e sempre que os titulares de cargos públicos são substituídos anula-se todo um conjunto de acções em curso.
O pesquisador fez esse pronunciamento a propósito da apresentação, essa manhã, em Luanda, do “Estudo sobre a posição da China no mundo e em particular na África Subsariana”. Na ocasião, Alves da Rocha disse que o livro, lançado em parceira com a Embaixada da China em Angola e constituído por seis capítulos, destaca-se pelo tema sobre “O modelo de desenvolvimento chinês”, exemplo recomendável para Angola, embora o factor disciplina seja o principal desafio.
“O desenvolvimento da China dependeu da aposta na educação, ciência e tecnologia, mas sobretudo na disciplina, que nós não temos de maneira nenhuma”, referiu Alves da Rocha, também coordenador do estudo co-produzido pelos professores Francisco Paulo, Regina Santos e Teurio Marcelo.
“Se perguntar-me qual é o modelo de desenvolvimento de Angola, não sei”, declarou o académico que critica o governo por “sistematicamente” contratar consultoras estrangeiras para produzir estudos sobre o país, quando devia recorrer à a academia local.
No capítulo sobre “O modelo chinês de desenvolvimento” destaca-se o facto de a China ter completado, em 2018, 40 anos de sucessos económicos e sociais resultado de reformas iniciadas por Deng Xiaoping, com realce para a retirada de cerca de 700 milhões de cidadãos chineses da pobreza.
“Os indicadores de ascensão são claros, preparando-se a China bpara ultrapassar os Estados Unidos da América (em termos de PIB agregado, porque em matéria de economia comercial já é o primeiro), nas próximas duas décadas”, descreve o livro.
Francisco Paulo, co-autor da obra, lamenta o facto de o Ministério das Relações Exteriores não captar os quadros angolanos formados na China, sobretudo para agregar valor e poder negociar nos acordos.
O professor defende que os líderes africanos deviam consultar os académicos antes de participarem nas cimeiras com a China, de modo a contribuírem para o alcance de melhores resultados nas negociações.
“Na véspera das cimeiras China-África, o governo chinês convida académicos de todos os países africanos para ouvi-los sobre o que pensam a respeito da cooperação”, disse Paulo Francisco, acrescentando que África deve participar desses fóruns de forma concertada e não dispersa. Como consequência, prossegue, vários ministérios, em Angola, desconhecem ou exploram pouco iniciativas no âmbito dos diversos acordos que o MIREX celebra com o governo chinês, em razão das matérias que os diz respeito, para além da falta da sua monitoria.
O embaixador da China em Angola, Gong Tao, autor do prefácio do livro, disse que a relação de cooperação entre os dois países, que celebra 40 anos em Janeiro próximo, destaca-se pelo financiamento que o seu país concedeu a Angola, depois do conflito armado.
No prefácio, Tao escreve que “as empresas chinesas de construção civil, pioneiras na reconstrução pós-conflito de Angola e apoiadas pela maciça linha de crédito da China, reabilitaram ou construíram mais de 2800 quilómetros de ferrovia, 20.000 quilómetros de estradas, 100 mil habitações sociais, 100 hospitais e 50 escolas em todo o território”.
Questionado por alguns participantes no lançamento do livro sobre a qualidade “duvidosa” das empresas chinesas, com realce para as estradas, muitas delas completamente degradadas, o diploma pediu que se apontasse uma obra em concreto, acrescentando que a durabilidade de qualquer infra-estrutura depende da sua manutenção.
“As infra-estruturas precisam de actualização ou manutenção. Eu, enquanto cidadão aqui de Luanda, quando passeio pela cidade, vejo estradas que não estão em boas condições devido ao muito ou pouco uso. A estrada que liga, por exemplo, o Porto de Luanda ao MAPTESS, não está em boas condições, nãos sei se o trabalho de manutenção pertence a quem. Não sei se é de uma empresa chinesa ou de outra qualquer”, justificou o Gong Tao.
O livro intitulado “Estudo sobre a posição da China no mundo e em particular na África Subsariana – Sucessos e desafios chineses no século XXI: a complexidade do presente e a incógnita do futuro próximo”, de 80 páginas, contém seis capítulos e traz subtemas como “Breves considerações sobre a história e geografia da China”; “O século XXI será o século da China? Algumas reflexões”; “O modelo chinês de desenvolvimento”; e “A China e o mundo”; “A China e a África Subsariana”.