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PATROCINADO

Mudar o chip

Nuno Fernandes
19/10/2018
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Arquivo

“Se o seu plano é para um ano, plante arroz. se é para daqui a dez anos, plante árvores. mas, se for para durar cem anos ou mais, eduque as crianças.”- Confúcio

No nosso caso,e indo para um plano de curto, médio e longo prazo, não perturbando o pensamento de Confúcio, diria que se torna fundamental mudarmos o nosso chip. Mudar de atitu­de. Aprender com o passado. Não precisamos de o incriminar. Como já escrevi, houve coisas bem feitas e outras absoluta­mente erradas. Coisas de que nos devemos orgulhar, outras onde claramente não estivemos bem. Só muda, para melhor, aquele que perceber o erro, a sua natureza, e entender a ne­cessidade de fazer diferente. Há sinais, nos últimos tempos, de que desejamos fazer diferente. No campo da retórica há indicadores nesse sentido. Mas também houve, e sempre ha­verá, forças contrárias. E, no meio, alguma manifestação de desorientação.

Falamos em diversificar a economia. O uso excessivo desta expressão, sem exemplos (bons) concretos, irá conduzir à sua depreciação e vulgarização. Virará matéria de gozo. Falamos em restituir à agricultura a importância que já teve. E o que temos feito? Importamos cereais, farinha e milho em quan­tidades tão grandes que os produtores locais têm aquartela­dos nos seus silos toneladas e toneladas de milho sem saber o que lhes fazer. O mesmo se passa com a fuba. Fica a pergunta: Quem ganha com isso? Quanto? De certo não os agricultores que estão a produzir localmente. É o trading a ganhar. Fortu­nas colossais postas no exterior à custa do definhar interno. Oferece-se a agricultores duvidosos financiamentos astronó­micos para mega projectos sem que se vejam resultados. Não se fiscaliza a sua aplicação. O dinheiro, esse parco recurso de todos nós, esfuma-se sem que, em definitivo, se ponha cobro a essa situação. Como também não se põe cobro à cedência de autênticos territórios para fazendeiros que não o são. Apenas têm uma casa de fim-de-semana plantada no meio de milha­res de hectares subaproveitados. Caprichos do nosso novo ri­quismo. E àqueles que produzem não se conferem facilidades que caberia ao Estado oferecer. Electricidade, água, vias de comunicação e centrais de recolha de produtos. 

Oferece-se a agricultores duvidosos financiamentos astronómicos para mega projectos sem que se vejam resultados.

É impossível competir com o preço dos produtos importados quando se gasta mais de 70 mil litros de gásoleo por semana para man­ter uma herdade de grandes dimensões em funcionamento. Quando as vias de comunicação fazem, por si só, subir os cus­tos com o combustível e com o transporte das mercadorias. E nada irá mudar enquanto não percebermos o que acontecia há 50 anos. O fomento da pequena e média agricultura em espaços não superiores a cinco hectares. No nosso continente há bons exemplos. Olhemos o que se passa na Costa do Mar­fim. Um sucesso na produção do cacau. Temos de repensar a utilização das mini-hídricas e dos carneiros hidráulicos para a rega e consumo. E valorizar a tracção animal. Onde há fome as pequenas soluções, mais baratas, podem ajudar a resolver. Temos de deixar de pensar grande. Abandonar a mania das grandezas. Olhar para a micro-economia e deixar de a sufo­car com impostos loucos trazidos de realidades que não são as nossas e que nos impedem de crescer. A pressão no paga­mento das linhas de crédito que nos são “oferecidas” e para as quais corremos loucamente, está a produzir aumentos brutais nos impostos por parte dos governos africanos. E isto trava a economia. Fará com que nunca cresça de forma sustentada. E esta situação conduz ao aumento da fraude e do peculato. É uma responsabilidade dos nossos decisores. É preciso perce­ber a teoria da curva de Laffer para entendermos o que se está passar com a política de impostos no nosso país. A arreca­dação está a diminuir em função da asfixia e fecho das empre­sas. É preciso auditarmos a dívida pública e percebermos em que nível realmente se situa para podermos, eventualmente, melhorar a aplicação dos nossos recursos.

Leia mais opiniões na edição de Julho, já nas bancas.

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