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O impacto da Covid-19 na adopção do teletrabalho em Angola

Dércio Viegas
7/5/2020
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A implementação do teletrabalho em Angola foi e será sempre um grande desafio, mas é essencial dividir a organização em pequenos grupos e lidar com as necessidades de cada um...

A pandemia da Covid-19 motivou que em Angola fosse decretado o Estado de Emergência. Escolas e universidades estão fechadas, os grandes aglomerados de pessoas são proibidos, e quem exerce uma profissão não essencial é obrigado a trabalhar a partir de casa. Isto gera um ambiente socioeconómico muito difícil de prever, principalmente por não se saber com precisão por quanto tempo esta situação vai durar.

O teletrabalho é, em essência, uma técnica colaborativa de trabalho que envolve pessoas situadas em diferentes locais e o mesmo tem sido adoptado como medida alternativa, por quem pode, para manter continuidade do negócio ou do seu sustento.

As grandes e médias empresas estão a incentivar e a criar condições para que as equipas trabalhem em casa. Para as empresas tecnológicas, a infra-estrutura e as políticas necessárias para o trabalho remoto já estão em funcionamento e a grande maioria dos funcionários provavelmente já tem um computador portátil e um smartphone, suficientes como ferramentas de trabalho.

Para as pequenas e microempresas, a situação é muito diferente. O trabalho remoto está limitado a alguns, seja por condições próprias ou dadas pela empresa e, realisticamente, para serviços como e-mail apenas. As equipas operacionais e administrativas não são normalmente trabalhadores móveis e, na sua maioria, utilizam dispositivos como computadores de secretária em vez de portáteis, o que cria desafios a essas empresas.

A implementação do teletrabalho em Angola foi e será sempre um grande desafio, mas é essencial dividir a organização em pequenos grupos e lidar com as necessidades de cada um para atingir os objectivos globais. Pode parecer uma abordagem simplista, mas, provavelmente, dada a urgência e limitação de recursos, é a mais funcional para quem nunca esteve perante este novo contexto. Refiro-me à criação de condições de trabalho para aqueles que realmente precisam, e nos apoiarmos nos colaboradores que já têm o mínimo de condições criadas, o que pode ser a chave para o sucesso da operacionalização do teletrabalho nesses negócios e manter algum controlo sobre os custos e impacto dos mesmos.

Em Angola, temos sempre de considerar factores únicos, como, por exemplo, se onde o colaborador vive há falhas de energia com muita frequência, se o mesmo tem gerador e se consegue manter o gerador a funcionar todo o dia, se existe internet fixa na sua zona ou se terá de utilizar um plano de dados, entre outros pormenores que são fundamentais perceber para minimizar possíveis problemas nas fases seguintes.

Mas antes disso, e de mergulhar nos detalhes, o primeiro grande passo nesta mudança seria perceber como é que determinado negócio pode continuar a gerar receita de maneira remota, sendo que desafios legais e operacionais vão surgir. E é crítico perceber o impacto que isso pode ter na própria rentabilidade do negócio e antecipar esses desafios antes que se tornem numa “bola de neve” impossível de parar. Refiro-me mesmo à necessidade de avaliar se o negócio pode continuar com todas essas restrições, perceber se os clientes vão continuar a comprar e utilizar os serviços, tendo em conta o contexto socioeconómico, e a empresa adaptar-se à nova realidade, percebendo, essencialmente, qual é a grande necessidade actual do consumidor. Essa análise tem de ser feita de forma ponderada, e bem estruturada, de modo a dar resposta à necessidade do mercado, do negócio e do cliente.

Após analisar e ajustar o modelo de operacionalização, é necessário fazer uma avaliação de meios; perceber exactamente os recursos necessários para executar a migração para o teletrabalho. Em Angola, temos sempre de considerar factores únicos, como, por exemplo, se onde o colaborador vive há falhas de energia com muita frequência, se o mesmo tem gerador e se consegue manter o gerador a funcionar todo o dia, se existe internet fixa na sua zona ou se terá de utilizar um plano de dados, entre outros pormenores que são fundamentais perceber para minimizar possíveis problemas nas fases seguintes.

Entretanto, o teletrabalho não é opcional e muitas empresas tiveram de pôr o processo a correr mesmo sem estarem 100% preparadas ou terem previsto um plano de mitigação de riscos. Tendo isso em consideração, o importante aqui é comunicar com os colaboradores de forma muito clara, de como é que as coisas vão funcionar daqui para frente, a responsabilidade de cada parte neste novo processo em que se espera de todos um maior esforço de adaptação, e desenvolvendo um controlo e acompanhamento que são extremamente importantes em todas as fases. Ou seja, os líderes têm de perceber que terão de acompanhar de perto as equipas quase ao nível individual, daí a necessidade de todos terem consciência que esta é uma nova fase, e que deve existir um controlo rigoroso das pessoas, do trabalho e das entregas. É importante criar rotinas, em que se consegue comunicar com os diferentes membros da equipa todos os dias, fazer videochamadas mesmo não sendo completamente necessário.

Após superar a fase inicial de implementação do teletrabalho, e pondo de parte o que considero ser o grande desafio em Angola, que é a criação de condições de trabalho, outros riscos podem começar a surgir principalmente nas empresas e pessoas com menos hábitos de teletrabalho, e é importante que os gestores estejam atentos a esses problemas. Estes tempos certamente serão diferentes, para melhor ou pior, e é preciso perceber o impacto que isso tem na produção, nos cronogramas dos projectos e nas entregas, é preciso falar com os clientes e ser transparente com os mesmos sobre o impacto que esta grande mudança vai ter nos serviços prestados. É fundamental que essa gestão de expectativas exista.

Em resumo, a Covid-19 pode ser o empurrão que muitas empresas precisam para enfrentar os desafios organizacionais do teletrabalho que, por sua vez, pode ser a solução para muitas empresas que estavam estagnadas em termos de procedimentos. Não é uma solução simples, mas permite ter avanços na depuração de processos e digitalização das empresas.