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PATROCINADO

O investimento número um

José Gualberto Matos
19/10/2018
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Foto:
DR

Nas palavras da Vice-Reitora da UCAN, a explosão das instituições de ensino superior a partir de 2005 – em que foram criadas mais de 70 – não abona muito a favor de um ensino de qualidade.

Numa grande entrevista recente ao semanário “Expansão”, a Vice-Reitora da Universidade Católica (UCAN), Professora Maria Helena Miguel, traçou de forma realista a situação do ensino em Angola e muito em particular do ensino superior. O objectivo desta nota é mostrar porque é que o investimento na educação deve ser prioritário e selectivo.

Nas palavras da Vice-Reitora da UCAN, a explosão das instituições de ensino superior a partir de 2005 – em que foram criadas mais de 70 – não abona muito a favor de um ensino de qualidade. Não é difícil perceber que Angola não tem, nem pode ter, um universo de professores de nível universitário de qualidade para 70 instituições de ensino superior. Quantidade não é qualidade, porque recicla a mediocridade.

Sem formar e requalificar professores não se quebra o ciclo vicioso que impede a renovação da qualidade. As instituições universitárias precisam de corpos docentes de alto nível, para produzir graduados de excelência, que vão ser os professores de amanhã. O mercado angolano não preenche ainda o corpo docente de todas as instituições, com a qualidade mínima necessária. Esta não é uma situação virgem e única de Angola. Muitos países viveram o mesmo problema, que resolveram com recurso à cooperação internacional séria. Há experiências riquíssimas de cooperação internacional entre universidades, que podiam ser replicadas para este efeito.

Numa outra dimensão, a Vice-Reitora da UCAN afirma que os candidatos às universidades, com raras excepções, apresentam muitas debilidades. Isso é o reflexo da deficiente qualidade do ensino desde o básico ao pré-universitário. Na verdade, um ensino universitário de qualidade exige duas condições: matéria prima e corpo docente de qualidade. Por muito bons que sejam os professores, não é possível fazer ensino de qualidade com alunos mal preparados.

Para garantir qualidade progressiva no sistema de ensino são necessárias duas coisas: a existência de escolas de referência no secundário e um sistema único de testes de admissão ao ensino superior

O problema da qualidade dos candidatos ao ensino superior resolve-se, na minha opinião, com uma política de educação selectiva. O país do pós-independência tinha necessariamente de massificar o ensino – e não era possível fazê-lo sem sacrificar a qualidade, e essa parte foi bem conseguida. Isso era muito importante para dar um mínimo de educação, que é o melhor antídoto da intolerância e elemento essencial no fortalecimento da unidade nacional. Mas não pode ficar por aí. O Estado, ao mesmo tempo que massifica o ensino geral, tem de garantir que é feita a selecção dos melhores estudantes, para alimentarem o ensino superior.

Uma política de educação selectiva tem como pressuposto o facto de o Estado não poder assegurar um ensino igual para todos. O sistema de ensino tem de ser piramidal. Quando se progride na pirâmide reduz-se a quantidade, mas aumenta-se a qualidade. De tal modo que, quando o estudante chega ao ensino superior tem a necessária preparação. É preciso também saber sacrificar na quantidade para ter qualidade.

Leia o texto completo na edição 159 da Economia & Mercado.