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O medo de errar

José Gualberto Matos
19/10/2018
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Foto:
DR

É bom ter uma certa dose de perfeccionismo porque isso ajuda a aperfeiçoar as decisões – mas em excesso o perfeccionismo prejudica.

Num monumento a Bento de Jesus Caraça, um insigne matemático português do século passado, encontra-se a seguinte inscrição: “Se não receio o erro é porque estou sempre pronto a corrigi-lo”. Trago este tema aqui a este espaço para reflectir um pouco sobre a natureza do erro humano e o processo da decisão em contexto de incerteza.

Quem nunca errou? Theodore Roosevelt, um dos mais distintos presidentes dos Estados Unidos da América, dizia que o único homem que nunca comete erros é aquele que nunca fez coisa nenhuma. Aconselhava ainda a não se ter medo de errar, pois acaba-se por aprender a não cometer duas vezes o mesmo erro. É claro que há erros fatais. Mas quando o erro não é fatal, tem quase sempre correcção e ajuda a formar e a reforçar a nossa resiliência. Por isso, o mais importante é saber reconhecer o erro e estar pronto a proceder à sua correcção. Isso exige humildade e sentido auto crítico. Mas esse sentido auto crítico não pode ser exagerado, caso contrário acaba por constituir um travão na nossa vida, instalando o medo de errar. 

O medo pode toldar a capacidade de raciocinar e o medo de errar está relacionado com o perfeccionismo. É bom ter uma certa dose de perfeccionismo porque isso ajuda a aperfeiçoar as decisões – mas em excesso o perfeccionismo prejudica. O perfeccionismo em excesso leva a que nunca estejamos confortáveis com o que fazemos e isso pode levar ao protelamento indefinido de decisões, ou mesmo a correcções e adiamentos constantes. O que é necessário é ter a consciência de que, por muito que nos esforcemos, as nossas escolhas acabam sempre por ter algum defeito. E isso tem a ver com a própria dinâmica da vida.

Muitas vezes, o voluntarismo e a vontade de ver as coisas feitas levam a decisões precipitadas. Talvez o melhor antídoto contra o erro seja a promoção do contraditório. É o contraditório que permite pôr a nu os inconvenientes das várias opções. E nas decisões difíceis é bom ponderar mais os inconvenientes do que as vantagens. 

Quando temos de tomar uma decisão, e tomar decisões é fazer escolhas, fazemo-lo com base no quadro de referência disponível no momento da decisão. Quase sempre as decisões são tomadas num contexto de alguma incerteza. Para reduzir a incerteza, é preciso tempo e dinheiro para colher informação relevante – e esses recursos são escassos. Isso faz com que na maior parte das vezes não tenhamos tempo ou dinheiro para investigar todas as opções – o que limita o quadro de referência. Por isso, a análise a posteriori de qualquer decisão não pode ignorar o quadro de referência em que foi tomada essa decisão. 

O medo pode toldar a capacidade de raciocinar e o medo de errar está relacionado com o perfeccionismo. É bom ter uma certa dose de perfeccionismo porque isso ajuda a aperfeiçoar as decisões – mas em excesso o perfeccionismo prejudica. O perfeccionismo em excesso leva a que nunca estejamos confortáveis com o que fazemos e isso pode levar ao protelamento indefinido de decisões, ou mesmo a correcções e adiamentos constantes.

Uma vez que o erro está sempre presente nas nossas decisões, o que temos de fazer para o minimizar é adoptar boas práticas de tomada de decisão. A ideia de que é preciso preparar as decisões nem sempre está presente na mente das pessoas. Quantas decisões são tomadas por impulso ou por força das circunstâncias? Se andarmos sempre ao sabor dos acontecimentos, não moldamos o nosso futuro, porque se é certo que as circunstâncias influenciam o curto prazo, só as nossas decisões podem influenciar o longo prazo. 

O processo de preparação das decisões exige disciplina e paciência. Muitas vezes, o voluntarismo e a vontade de ver as coisas feitas levam a decisões precipitadas. Talvez o melhor antídoto contra o erro seja a promoção do contraditório. É o contraditório que permite pôr a nu os inconvenientes das várias opções. E nas decisões difíceis é bom ponderar mais os inconvenientes do que as vantagens. 

Uma boa metodologia no processo decisório leva sempre a elencar várias opções e a fazer a avaliação crítica de cada uma delas. A boa decisão é quase sempre o resultado de um compromisso ponderado entre várias opções. As boas práticas aconselham ainda à reavaliação periódica das decisões tomadas e dos seus resultados, mesmo quando não há erro, porque se pode aprender muito nesse processo de análise retrospectiva. 

Em conclusão, se errar é humano, então temos de nos preparar para conviver com o erro adoptando práticas de tomada de decisão que o permitam minimizar.