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O passado, presente e futuro da televisão em África

Jorge Santos
22/11/2018
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Foto:
D.R., ISTOCKPHOTO

A televisão tornou-se, ao longo do tempo, um dos melhores dotes da engenharia electrónica doado à humanidade.

Embora o nascimento da transmissão televisiva nalgumas partes do mundo seja bastante conhecido – 1936 na Europa, 1939 na América do Norte – a evolução da TV em África é mais imprecisa. Alguns relatos dizem que o estabelecimento de uma estação de televisão marroquina, em 1954, marca o início da era da televisão em África, enquanto outros afirmam que os primeiros sinais de televisão terrestre ocorreram no Sábado, dia 31 de Outubro de 1959 e pertenciam à Western Nigeria Television Service.

A Argélia, o Quénia, o Uganda e o Senegal lançaram estações de televisão no final dos anos 50 e em meados dos anos 60, no entanto, a África do Sul, os Camarões e muitos outros países africanos não tiveram estações de televisão até aos anos 70 e inícios dos anos 80.

A Nigéria foi ainda líder na introdução de notícias e géneros específicos de conteúdo. A televisão nigeriana de âmbito nacional – agora conhecida como Nigerian Television Authority (NTA) – começou com a aquisição de estações de televisão regionais em 1976, pelas então autoridades militares nigerianas, e tornou-se o porta-voz do Governo. A programação de notícias foi o alicerce do plano do Governo para forjar a unidade nacional e as notícias programadas foram introduzidas por este monopólio no final dos anos 70.

Em 1980, os esforços para aumentar o nível de conteúdo original dos produtores nigerianos ganharam força e a rede da NTA estabeleceu um tecto de 20% de tempo para transmissão estrangeira de modo a estimular o interesse no conteúdo local. Entre 1980 e 1985, a NTA começou a produzir as primeiras novelas locais de África, programas infantis e séries de comédia. Isso marcou o nascimento da indústria cinematográfica de Nollywood, que produz agora mais de 50 filmes por semana, superando Hollywood como a segunda maior indústria cinematográfica do mundo em volume, depois de Bollywood da Índia.

A TV Paga foi introduzida em África em 1992, quando a M-Net lançou um serviço analógico em mais de 20 países. Um ano mais tarde, a recém-estabelecida MultiChoice Africa começou a expansão fora das fronteiras da África do Sul e está agora presente em 49 países da África Subsariana. Em 1995, a MultiChoice introduziu a tecnologia digital ao continente com o lançamento do pacote DStv e, em 1996, os serviços de satélite analógico para África foram cancelados. A DStv foi uma das primeiras emissoras fora dos Estados Unidos a lançar uma plataforma de satélite que permitia a transmissão em alta qualidade para as regiões mais remotas de África.

Os serviços de streaming e vídeo sob pedido (VOD) começaram a complementar a transmissão de TV há algum tempo – principalmente na área das notícias. Hoje em dia, a maioria dos consumidores de notícias não lê artigos longos, mas vê vídeos de eventos à medida que estes surgem em sites de agências de notícias ou em redes sociais. A era do jornalismo liderado pelo consumidor e das redes sociais transferiu consideravelmente o poder das agências de notícias tradicionais e na linha da frente está o vídeo – no entanto, esta alteração também levantou outros problemas como a era das notícias falsas e daí a necessidade dos consumidores de notícias verificarem a autenticidade com agências de notícias bem conhecidas.  

No entanto, com ligações à Internet relativamente lentas e caras, sendo essa a norma em África, os serviços comerciais de streaming e VOD tiveram um crescimento mais lento do que em mercados onde a velocidade de dados permite um streaming ao vivo mais eficiente. A TV Paga continua a crescer no continente. De acordo com a Dataxis, a receita de TV paga em África para 2016 foi de $4,4 biliões e deverá atingir os $6 biliões em 2021. Em 2016, os subscritores de TV paga em África situaram-se, aproximadamente, nos 18,7 milhões, um aumento de cerca de dois milhões de subscritores comparado com o ano anterior.

O aumento da penetração da banda larga e a redução das taxas de dados em África irão aumentar a penetração de conteúdo de vídeo online. Esperamos que o consumo de vídeo online seja um serviço complementar à televisão paga tradicional, pois os fornecedores online não fornecem canais de notícias e desporto em directo, que são tão importantes para a visualização doméstica. As lojas de vídeo tradicionais estão agora vazias por todo o lado e os consumidores deixaram de sair das suas casas para ir buscar um vídeo – as alternativas são os serviços do DStv Box Office no descodificador Explora que oferecem uma opção onde os consumidores não precisam de pagar a entrega do filme – enquanto o streaming necessita de custos de entrega e da largura da banda.

O conteúdo local continuará a ser um factor cultural e económico fundamental nos mercados africanos e deve receber investimento e ser estimulado para crescer no espaço de entretenimento audiovisual que muda rapidamente. O conteúdo nacional dá trabalho a mais de um milhão de pessoas, directa ou indirectamente na Nigéria e é a segunda maior fonte de emprego do país depois da agricultura.  De acordo com um relatório da PWC, as receitas de entretenimento e dos meios de comunicação social na Nigéria poderiam crescer para mais do dobro para os $8.5 biliões estimados este ano de $4 biliões em2013 e é considerado um dos maiores pilares de crescimento e diversificação da economia nigeriana. 

As mudanças maciças e contínuas na indústria do entretenimento estão em curso ea recente aquisição da Time Warner, nos Estados Unidos, pela AT&T é umexemplo perfeito de como a fronteira entre os produtores de conteúdo e osproprietários de plataformas de distribuição está indefinida. Todo o impactodesta ruptura no panorama global ainda está por se saber.

Aqui no enorme e diversificado continente, precisamos de associar as melhores práticas mundiais com as nossas necessidades, desafios e oportunidades únicas para trilhar o nosso próprio caminho através desse ambiente de meios de comunicação social em mudança e garantir a protecção das indústrias locais, cultura e crescimento económico. Será uma viagem turbulenta, mas fascinante, tal como tem sido desde que a TV começou a transformar África nos anos 50.