Angola está na agenda da primeira visita de Joe Biden ao continente africano. Muito se tem levantado sobre as motivações que estão na base da visita do Presidente da maior potência mundial a Angola. A imprensa marroquina associa a deslocação à resposta norte-americana à crescente afirmação chinesa no continente, mas dá, também, palpites sobre a aproximação da presidência de João Lourenço aos norte-americanos.
Para o portal marroquino Le360, a visita de Joe Biden a Angola, de 13 a 15 de Outubro, explica-se pela vontade de Washington de assegurar a rota de matérias-primas estratégicas na África Central.
A escolha de Angola para a primeira viagem ao continente africano da presidência de Joe Biden mostra a crescente influência deste país petrolífero, beneficiário de um dos maiores investimentos americanos em infra-estruturas no continente, visando contrabalançar a influência chinesa, escreve o site consultado pela revista Economia & Mercado.
Em Angola, lê-se no extenso texto, o Presidente norte-americano - em fim de mandato - visitará este projecto futuro: a reabilitação de uma linha férrea que liga o porto angolano do Lobito à República Democrática do Congo (RDC) à Zâmbia.
Os 1.300 km de carris deste ‘Corredor do Lobito’ transportarão recursos cruciais para a economia mundial – cobre e cobalto em particular – para a costa atlântica destes dois países, ricos em minerais mas sem litoral.
Na recepção ao homólogo angolano João Lourenço, na Casa Branca, no final de 2023, Joe Biden descreveu este projecto – também apoiado pela União Europeia – como “o maior investimento americano de todos os tempos no transporte ferroviário africano”, recorda o portal.
Realça que este projecto inscreve-se no quadro do confronto geopolítico que opõe, no continente africano, Washington e os seus aliados à China, que detém, entre outros investimentos, minas na RDC e na Zâmbia.
O portal destaca, assim, que a prioridade da visita de Biden é o Corredor do Lobito, que Washington planeia estender para Leste até ao Oceano Índico, enquanto Pequim se comprometeu, em Setembro último, a reabilitar a Tazara, uma linha ferroviária inaugurada em 1976 e que liga a Zâmbia ao porto tanzaniano de Dar es Salaam.
“Para Washington, Angola é um exemplo de um país africano que se tornou menos ideológico e está a diversificar activamente as suas relações, para estar menos exposto à China e, em menor medida, à Rússia”, explica Alex Vines à AFP, director do Programa África na Chatham House.
Citado pelo Le360, Vines acrescenta que Washington “também vê Angola como uma potência média emergente em África”
Antiga colónia portuguesa, de 37 milhões de habitantes, Angola é o segundo maior exportador de petróleo africano, atrás da Nigéria, segundo dados da Agência Internacional de Energia, destaca o artigo.
Sendo a 8.ª maior economia de África em termos de PIB, segundo o FMI, Angola sofre, no entanto, de pobreza e de elevado desemprego, escreve o portal, realçando que, de acordo com o Banco Mundial, 58% dos jovens angolanos estavam desempregados em 2023.
“Angola está a diversificar as suas parcerias internacionais, mas deve, também, aumentar os seus investimentos estrangeiros directos. O aumento dos investimentos americanos em Angola é importante para Luanda como parte desta estratégia”, assinala Vines.