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PLANAGRÃO pronto para arrancar, Wanderley Ribeiro alerta para riscos de derrapagem

Mariano Quissola
10/4/2023
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Foto:
DR

Wanderley Ribeiro, presidente da AAPA considera apertado o prazo de execução de cinco anos e receia que “a pressa pode comprometer a sua qualidade”, antevendo revisão das metas.

Trabalhos técnicos preliminares realizados nas províncias da Luanda-Norte e Lunda-Sul concluem haver condições para o arranque da execução do Plano Nacional de Fomento para a Produção de Grãos (PLANAGRÃO) e de concessão de crédito aos respectivos operadores.

A informação foi avançada esta terça-feira, pelo secretário de Estado para Economia, Ivan Marques dos Santos, durante o balanço das actividades do sector económico, decorridas no período de 16 a 18 de Março, citado pelo Jornal de Angola.

De acordo com o periódico, o governante garantiu estarem criadas as condições necessárias para o início da execução do PLANAGRÃO, mediante concessão de crédito aos respectivos operadores.

Consta que o político considerou a componente financeira como uma das maiores condicionantes para o sucesso da empreitada, avaliado em 2,8 mil milhões de kwanzas para cinco anos, dos quais 1,17 mil milhões reservado para as infra-estruturas e o remanescente estimado em pouco mais de 1,6 mil milhões de kwanzas para o sector privado.

Na província da Lunda Norte foi possível constatar um total de 130 mil hectares de terra disponíveis para o arranque do Planagrão, dos quais 30 mil hectares estão localizados no município do Cambulo e 100 mil hectares no município do Lóvua.

Já na província da Lunda-Sul, foram identificadas com o apoio dos Governos províncias 500 mil hectares de terra. " Com estes resultados, a Unidade Técnica estará focado de forma segregada em dois municípios  de cada província, e no caso da  província da Lunda Sul, no município do Muconda foi possível identificar já 31 mil hectares de terra e no município de Saurimo cerca de 25 mil hectares", afirma Ivan Marques dos Santos, citado pelo diário.

Entretanto, o secretário de Estado para a Agricultura e Pecuária, João Cunha, que também participou na visita de constatação no Leste do país, garantiu que as terras disponíveis para  a valorizadas e utilização do PLANAGRÃO são espaços livres  e desocupados onde o Estado pode aproveitar para o projecto, adiantando estar em curso estudos dos solos.

"Esta acção já está em curso, estamos a entrar em contacto com as instituições de pesquisa, como o Instituto de Investigação Agrária para que nos próximos dias se desloquem às regiões visitadas, para a recolha de amostra do solo já identificados", garantiu o governante.

AAPA receia derrapagem das metas

Em entrevista recente à E&M, Wanderley Ribeiro, presidente da AAPA, considerou que “o critério para definição das metas falta fundamentação técnica”, fruto da ausência de estudos que orientassem melhor o plano.

“Penso que a janela de execução de cinco anos é apertada para o impacto que se espera do PLANAGRÃO, a pressa pode comprometer a qualidade da execução. O que antevejo com os estudos que serão desenvolvidos é a revisão das metas ou a alteração do prazo de execução”, afirma o também especialista em agro-negócio.

Os receios de Ribeiro aumentam com o facto estarem em curso, ao mesmo tempo, outros programas relevantes para a agricultura como é o caso do MOSAP III, com uma alocação de aproximadamente 300 milhões USD para a agricultura familiar e de intervenção nacional.

“Estamos perante um quinquénio que pode efectivamente marcar o momento de transformação do agro-negócio em Angola, é preciso que o plano e a execução sejam feitos com base na sustentabilidade, para não acontecer como outros programas que após o seu encerramento pouco se consegue avaliar do impacto económico e social na vida dos produtores e do país”, alertou o especialista.

Wanderley Ribeiro disse que a crítica recorrente que se faz sobre a percentagem da verba alocada no OGE para a agricultura, como recomenda a ‘Declaração de Malabo’ que estabelece 10%, não é solução para os problemas gerais do sector agrícola.

“Não acredito que a solução para o sector esteja nesta componente particular da Declaração de Malabo até porque a meta não é simplesmente a alocação dos 10% e sim “afectar pelo menos 10% da despesa pública à agricultura e assegurar a sua eficiência e eficácia”, reforça o líder associativo.

Wanderley Ribeiro é categórico ao afirmar que o país tem provas suficientes de que o modelo de alocar dinheiro somente não resolve o problema, porque, adianta, “se assim fosse, éramos hoje uma potência agrícola porque foram muitos milhões investidos em iniciativas do sector. Não basta só o dinheiro, é preciso garantir o modelo de gestão e a sua eficiência”.

Agricultura familiar sim, mas com ciência  

O presidente da AAPA afirma ter bastante consideração aos agricultores familiares, dada a sua matriz tradicional que não deve ser ignorada, na medida em que carrega consigo elementos da cultura nacional, mas lança um desafio sobre o país precisa só da preservação da cultura produtiva ou geração de prosperidade.

“A idade dos nossos “mais velhos” do campo não lhes dá muito espaço para muita inovação, é muita informação e tecnologia envolvida na equação, logo, é preciso atrair os jovens para dinamizarem o sector e fomentarem a adopção de métodos comprovados cientificamente e com suporte de tecnologia, e quando falo de tecnologia não me refiro necessariamente a digitalização, são coisas diferentes, refiro-me à métodos e instrumentos técnicos que permitem o ganho de eficiência no sector”, afirma.

O nosso interlocutor refere que a agricultura empresarial se regista o mesmo dilema, a considerar pelo investimento que as empresas fazem em máquinas, infra-estruturas, tecnologia, que sem a certificado de fundamentos científicos como manejo adequado do solo, uso de sementes melhoradas, adubação, tratos culturais, entre outras actividades que exigem o conhecimento cientifico, as contas no final da safra podem gerar resultados desanimadores.