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Produção agrícola é cada vez mais nacional

Michel Pedro
19/10/2018
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Lançado há cerca de seis anos, o programa governamental “Made in Angola”, que visa incentivar o consumo
de produtos nacionais, tem andado à volta dos sectores alimentar e das bebidas.

Os actuais níveis de produção tendem a inverter as preferências dos consumidores, do importado para o nacional.

Angola atingiu 3,6 milhões de toneladas de produção de bananas em 2015, de acordo com o Ministério da Agricultura e Florestas, o que representou o melhor resultado do sector nos últimos cinco anos. Com potencialidades de produção ao nível das 18 províncias do país, alcançou por regiões resultados significativos, com a região norte – onde estão Luanda, Cabinda, Zaire, Uíge, Malanje, Kwanza Norte, Bengo e Lundas Norte e Sul – a registar uma produção de 1,7 milhões de toneladas naquele ano. O centro, onde estão Kwanza Sul, Benguela, Huambo, Bié e Moxico, produziu 1,6 milhões de toneladas de banana, ao passo que as províncias do  sul, Huíla, Namibe, Cunene e Kuando Kubango, apresentaram uma produção de 249 mil toneladas em 2015. Os números alcançados reflectem os investimentos do Executivo naquele ano, principalmente em infra-estruturas de apoio (caso dos perímetros irrigados como o de Caxito e o da Catumbela), o que impulsionou a produção da banana no país.

De acordo com a Governadora da província do Bengo, Maia Quiosa, que falava na abertura da 7a Feira da Banana, o país já não importa banana. “Somos auto-suficientes na produção deste produto, bastante valioso para a dieta dos angolanos que optam cada vez mais por consumir o que é da nossa terra”. Já o ministro da Agricultura e Florestas, Marcos Alexandre Nhunga, que também esteve na Fei- ra, elogiou os esforços dos privados e destacou que “o processo produtivo nacional (especialmente a agricultura familiar), tem sido marcado ao longo dos anos por um conjunto de factores endógenos e exógenos que afectam a sua performance e o desempenho que dele se espera”.

Numa reunião com os responsáveis da banca comercial, empresas do sector agrícola, da construção civil, telecomunicações e seguradoras, em 2017, Marcos Alexandre Nhunga garantiu que Angola dispunha de potencial para atingir níveis de produção agrícola elevados, podendo iniciar a curto prazo a exportação de produtos como milho, arroz, leguminosas, oleaginosas, hortícolas, tubérculos, frutos tropicais, café, mel e madeira e seus derivados.

A posição é partilhada pelos gestores de empresas agrícolas que afirmam que, actualmente, “já se consomem mais produtos agrícolas nacionais do que importados, fruto dos níveis de produção que o país atingiu”.

Jocas Muteia, director administrativo e financeiro da Turiagro, afirmou que o sector agrícola “conheceu um crescimento exponencial,” na medida que “há mais procura e confiança nos produtos nacionais”. E hoje, garante o interlocutor, “ já se consegue responder positivamente à demanda do mercado”. Iniciativas como a Feira da Banana, disse Jocas Muteia, introduzem “outra dinâmica no tecido económico do país, porque é o momento de conhecer e desenvolver outros negócios mediante parcerias que vão sendo criadas, tudo em prol da diversificação da produção que resultará, se houver o máximo empenho, na diversificação das exportações”, afirmou o responsável, cuja empresa atingiu uma capacidade de produção de 12 mil toneladas de bananas/ano.

Já o Administrador da Novagrolíder, João Macedo, afirmou que “Angola está no bom caminho, mas precisa de fazer mais”, pois “é necessário que se criem incentivos e estímulos para se consumir o produto feito no país”. O responsável frisou que “Angola deve produzir mais para atingir os objectivos de substituição das importações”.

A Agrolíder e a Turiagro são responsáveis, cada uma, por 25% da área de cultivo e garantem 90% da produção da banana no Perímetro Irrigado de Caxito, sendo a pri- meira líder de produção na província do Bengo, com uma produção de 30 mil tone- ladas/ano, numa extensão de 350 hectares.

Além da banana, nos últimos anos, outras, culturas, como os cereais, também mereceram a atenção do Governo e de investidores privados. Em 2016, de acordo com dados do Instituto Nacional de Cereais (INCER), a produção atingiu 1,8 milhões de toneladas, com destaque para o milho, massango, massambala, arroz e trigo. Já a produção de raízes e tubérculos atingiu cerca de 10,5 mil milhões de toneladas, catapultando o país para a auto-suficiência, segundo o Ministério da Agricultura e Florestas. A outra novidade tem que ver com os níveis de colheita de cana, pela BIOCOM, com cerca de 143.934 toneladas.

Café pode trazer mais energia à economia

De acordo com o Fundo de Desenvolvi- mento do Café de Angola (FDCA), o café pode ter um peso “mais significativo” no Produto Interno Bruto (PIB), depois de ter atingido, em 2017, um preço médio de 157 dólares por saca (60 quilos), quase o triplo da principal commodity do país, o petróleo, que custava 52,42 dólares/barril naquele ano.

Segundo o FDCA, Angola pode facturar cerca de 501 mil milhões de kwanzas por ano só com a comercialização do bago vermelho. A presidente do FDCA, Sara Bravo, citada pelo “Jornal de An- gola”, afirmou que o café passa por um bom momento no mercado internacional. A responsável considerou que o relançamento do café contribuirá para a recuperação da economia angolana do ponto de vista de empregabilidade, aumento de rendimento nas comunidades, diminuição da pobreza e elevação do desenvolvimento económico e social das populações.

No “First Friday Club” de Julho, um encontro mensal promovido pela Câmara de Comércio Estados Unidos-Angola (USACC), em que são debatidos vários temas da actualidade económica do país, discutiu-se a situação do sector do café em Angola. Sara Bravo lamentou a indisponibilidade de insumos, a baixa produtividade e as técnicas rudimentares utilizadas, o baixo nível de mecanização e irrigação e a inadequada infra-estrutura, que representam os principais constrangimentos do sector. Segundo pesquisas da Economia & Mercado (E&M), a antiga estrela do solo angolano continua a ter um nível de produção muito abaixo do de há quatro décadas, quando se situava entre 200 mil e 240 mil toneladas de café/ano, com os níveis actuais a rondarem as 12 mil toneladas. O abandono das áreas de pro- dução do café, a redução da mão-de-obra e as vias de comunicação intransitáveis são apontados como algumas das razões da baixa de produção, além de o produto estar com os preços desvalorizados no mercado informal, onde mais se vende o “bago vermelho”.

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