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PATROCINADO

‍A importância da imprensa livre na atracção de investimento estrangeiro

Deslandes Monteiro
9/6/2021
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Foto:
Carlos Aguiar

A imprensa tem ocupado um papel cada vez mais importante na formação e conscientização das sociedades, e consequentemente do mundo dos negócios.

Com o advento das novas tecnologias e novos meios de comunicação, os Governos de todo o mundo têm dedicado uma atenção crescente no controlo da comunicação, com o objectivo de evitar a propagação de “fake news”, que podem influenciar negativamente o comportamento da população e transmitir uma imagem distorcida da realidade.

Para melhor perceber a importância e a essência da comunicação, é fundamental fazer referência à etimologia da palavra comunicar, proveniente do latim, communicare, que significa “tornar comum”, “divulgar”. Em outras palavras, a comunicação não é nada mais do que uma pura expressão social, que se concretiza quando chega ao domínio do destinatário.

Em Angola, o estado da imprensa tem sido tema de inúmeros debates, mirados sobretudo a analisar e evidenciar os pontos negativos da nossa comunicação social, tendo em conta, sobretudo, os últimos acontecimentos, que viram o Estado a apropriar-se de alguns órgãos de comunicação social privados, com destaque a TV Zimbo e Palanca TV, por estes terem sido construídos com fundos públicos. As críticas centram-se sobretudo na parcialidade dos órgãos de comunicação nacionais, que por pertencerem ao Estado, são tidos como propensos a violar algumas regras básicas da comunicação social, como o dever de imparcialidade, de objectividade, de informar com rigor, transparência, verdade, precisão e respeito do contraditório.

Porém, em todo o mundo, a mídia sempre foi alvo de inúmeras críticas por parte da sociedade, devido sobretudo ao facto de os órgãos de comunicação não serem encarados pelas autoridades governativas como um puro meio de transmissão de notícias e informações no geral, mas por adoptarem um papel mais doutrinário, sendo utilizada para “educar” a população nos mais variados âmbitos, inclusive no que concerne a difusão das ideologias políticas de quem governa. Nos regimes mais totalitários, a imprensa desempenha um papel de puro instrumento de propaganda ideológica, ao serviço do partido político no poder, contrastando assim as regras fundamentais da ética jornalística.

Na verdade, a mídia, em todas as suas formas (impressa, televisão, rádio, internet, etc), joga um papel fundamental na organização de uma sociedade e na percepção da mesma a nível externo. A situação económica de uma sociedade pode ser avaliada com base na facilidade em obter informações sobre a mesma, na transparência das informações e na solidez dos órgãos de informação presentes. Sobre este tema, especialistas afirmam que o controlo excessivo do Estado aos órgãos de comunicação tende a ser prejudicial para a economia, pois, interfere na transparência da informação, que, sobretudo devido a dependência financeira directa ao Estado, torna-os propensos a transmitir informações excessivamente favoráveis ao Governo, o que, de certa forma, pode afastar o investimento estrangeiro.

A capacidade de alcançar rapidamente todos os cantos do país, transforma os órgãos de comunicação social num instrumento indispensável para a atracção das atenções dos actores económicos, que podem absorver as informações e materializá-las em intenções de investimento. A presença de investidores privados na mídia, pode servir como plataforma para a entrada de investidores em outros sectores, pois, uma imprensa livre, saudável e robusta economicamente, para além de garantir a imparcialidade e qualidade da notícia, possibilita a entrada de know how e novas tecnologias, proporcionando deste modo as condições para uma melhor concorrência no sector da comunicação, concorrência esta que inevitavelmente acaba por se expandir para outras áreas económicas.

Em alguns países, por exemplo, a mídia privada tem atingido um nível de maturidade tal, ao ponto ser encarada como ilustração da liberdade de imprensa e da livre iniciativa económica que reina internamente. No Brasil, tal liberdade permitiu a entrada de colossos da comunicação social, como a ESPN e a CNN, que abriram filiais neste país, levando consigo empresas de vários outros sectores, fomentando a economia de escala e elevando o standard qualitativo interno, devido a grande experiência internacional.

Em Angola, apesar dos sinais desencorajantes provocados pelos recentes acontecimentos, dentre os quais o encerramento provisório de canais populares como a ZAP VIVA e a VIDA TV, está cada vez mais patente a necessidade de se reverter a situação da comunicação social, pois, se de um lado há sempre mais exigência popular de uma imprensa de qualidade, do outro lado, temos a internet, que tem cada vez mais se tornado na principal fonte de informação dos angolanos.

Para contornar a situação, é importante insistir na conscientização das autoridades públicas, para que possam perceber a importância que uma imprensa privada e livre tem no desenvolvimento social e económico, ainda que o posicionamento de alguns órgãos de informação seja contrário aos interesses estratégicos de quem governa. Estudos revelam que quanto maior o nível de investimento estrangeiro num país, maior é o nível da liberdade de imprensa. O controlo estatal aos órgãos de imprensa, pelos motivos já citados, pode atrasar o processo de desenvolvimento, motivo pelo qual torna-se cada vez mais urgente garantir a existência de uma imprensa mais plural, livre, privada e de qualidade, com benefícios imediatos para a nossa economia, em particular para a tão aclamada melhoria do ambiente de negócios e consequente atracção de investimento estrangeiro.