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PATROCINADO

Aldeia falhada

Ladislau Francisco e José Zangui
29/9/2021
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Foto:
DR

Volvidos sete anos desde a inauguração, a aldeia é uma sombra de todo potencial que tinha. Os painéis solares (roubados ou degradados), são uma boa mostra da decadência de uma aldeia falhada.

Instalados para serem símbolos da autonomia e capazes de responder a todas as necessidades das infra-estruturas sociais, nomeadamente: Escolas, Postos médicos, Postos Policiais, Edifícios Administrativos e, Jangos Sociais, incluindo Postos de Iluminação Pública (e as residências em particular), os painéis solares hoje não respondem as necessidades, por terem sido furtados ou porque têm as baterias deterioradas, inflamadas ou a deitar água nas bordas, pelo que, ainda que liguem, não acumulam energia, “servem apenas para assistir televisão enquanto há sol”, como explicou a moradora Laurinda Carlos.

Criada pelo Ministério da Energia e Águas, financiada pela Sonangol, a “Aldeia solar”, foi pensada para ser um projecto a frente do seu tempo e portanto, inovador, visando não só responder a necessidade de fomento habitacional, mas olhar para um futuro sustentável, do qual as fontes de energia alternativas são prioridade. Mas o tempo passou, e não saiu do papel

É assim que na “Aldeia Solar”, localizada em Catete, município de Icolo e Bengo, falta quase tudo, a população que lá vive, maioritariamente, proveniente da vizinha aldeia Honga Zanga, em 2017, no âmbito da política habitacional do Governo para a melhoria das condições da comodidade.

De acordo com populares, na aldeia, a economia não funciona, há um mercado construído, mas que encontra-se literalmente vazio. Os moradores vivem da permuta e o principal alimento é o milho torrado.

“As pessoas aqui não têm dinheiro, vivemos de trocas de produtos”, afirmou Luzia Gaudêncio, moradora.

A distância que separa a Vila Solar, designação que tem por possuir painéis solares para cada moradia, na essência do projecto, a Catete, o centro político-administrativo, é de 14 quilómetros, neste percurso para ida e volta, custa 1000 kwanzas.

Para se ter acesso a água, os moradores percorrem cerca de um quilómetro até as aldeias vizinhas, como por exemplo, no Honga Zanga, onde a maioria residia. O bidon de 20 litros custa 100 kwanzas.

Segundo constatou a E&M, no interior da Vila Solar, há uma subestação de água, mas que não funciona. Para atender o clamor da população, a EPAL distribui água em camiões cisterna, de forma gratuita, mas apenas uma vez por semana e apenas 20 litros para cada família.

Segundo Laurinda Carlos, “de Aldeia Solar apenas ficou o nome. Não há energia, a iluminação noturna é feita a base de vela, lanterna, ou gerador para quem pode. Para carregar os telemóveis recorrem as aldeias vizinhas”, descreveu.

A nossa reportagem soube que funcionários da ENDE estiveram, este ano, no local a fazer o levantamento do número de residências onde os painéis solares ainda funcionam e aquelas nunca chegaram a receber a energia solar. O propósito da ENDE é de instalar a energia eléctrica (a normal do país).

Ao todo são 500 fogos habitacionais, mas contam-se aos dedos as que ainda têm energia solar. Mesmo as que têm funcionam no sistema liga desliga, ou seja, mais desligado que ligado.

 ENSINO LIMITADO A 9ª CLASSE

Na aldeia Solar foram construídas duas escolas, mas que leccionam apenas até a 9ª classe, depois disto quem quiser elevar o seu nível académico é forçado a emigrar, ou a percorrer diariamente 14 quilómetros para Catete.

O único centro de saúde existente funciona apenas até às 15horas e atende diariamente 36 pacientes. De acordo com a coordenadora do centro, Sandra Manuel, muitos moradores preferem procurar tratamento tradicional.

Por falta de um corpo de segurança, o centro de saúde tem sido alvo de constantes assaltos que levam o medicamento e outros bens.

A falta de energia e água e os assaltos aos painéis e baterias são as principais preocupações dos moradores. O coordenador da Vila, que não aceitou identificar-se, por alegar falta de autorização superior, preferiu não falar a nossa reportagem.

A "Aldeia Solar" construída foi inaugurada, em 2014, pelo Ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Financiada pela Sonangol, entretanto entregue ao grosso de moradores apenas em 2017.

O projecto integra 500 habitações. Cada casa tem dois quartos, sala, cozinha, casa de banho e arrumos. A ideia era a energia solar permite ligar um rádio, televisor e frigorífico.

Na aldeia foram edificados um centro de artes e ofícios (não funciona) duas escolas, edifício para a administração da aldeia e centro de saúde, mercado e lavandaria pública (estes dois últimos serviços também não funcionam).

O município de Icolo e Bengo, em Luanda, com uma extensão territorial de 3.819 quilómetros quadrados, possui uma densidade populacional de 74.644 habitantes que se dedicam maioritariamente às actividades agrícola e piscatória.