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As oportunidades de uma Tempestade perfeita

Tiago Vieira
28/1/2021
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Foto:
DR

“Num contexto de crescentes exigências de solvabilidade Bancária, e crescentes dificuldades de liquidez nas empresas, é cada vez mais importante considerar formas alternativas de financiamento”.

Em 2020, esperava-se um ano de melhoria económica, no qual se adivinhava uma estabilização da Economia Angolana e o retomar do seu rumo ascendente. Contudo, em resultado de uma pandemia sem precedentes, o mundo parou. O pânico inicialmente originado pela incerteza dos impactos na saúde, potenciou reacções em cadeia que levaram à retracção da actividade económica, limitaram as actividades das comunidades e das empresas, gerando uma ”tempestade perfeita”, apenas atenuada pela adopção de medidas que permitiram às famílias manter parcialmente os seus rendimentos. À data, medidas como moratórias, layoffs e outras acções de cariz social, ainda não permitem ter uma visão completa dos impactos nefastos da pandemia “COVID-19” na sociedade e nas empresas. Não obstante este enquadramento, é em contextos adversos que surgem novas ideias e oportunidades.

As empresas poderão superar esta “espiral recessiva” e melhorar a sua competitividade e eficiência se tiverem a capacidade de i) incrementar o seu contributo na cadeia de valor através de uma sucessiva integração vertical e/ou horizontal das operações ii) fomentar as vantagens competitivas sustentadas nos recursos endémicos de cada província e iii) investir na capacitação dos seus recursos. Estes três factores permitem um fortalecimento do tecido empresarial e garantem que o valor acrescentado fica residente no país. Concomitantemente, é necessário assegurar uma estratégia global, aglutinadora dos interesses e esforços dos organismos públicos e privados, garantindo uma estratégia de investimento sustentada e consistente com a estratégia de desenvolvimento do país.

Numa fase de contracção económica e de maiores exigências de solvabilidade Bancária e restrições de liquidez das empresas, é necessário dinamizar novas formas de apoio à implementação dos projectos dos agentes económicos e fomentar o desenvolvimento Económico e a competitividade do mercado Angolano.

Actualmente, o mercado Angolano necessita de robustecer o seu tecido empresarial, que ainda apresenta uma dependência significativa de apoios estatais e de financiamentos bancários, o que pode criar restrições na sua capacidade de desenvolvimento de novos projectos. Adicionalmente, num contexto de crescentes exigências de solvabilidade bancária, e crescentes dificuldades de liquidez nas empresas, é cada vez mais importante considerar formas alternativas de financiamento. Apesar dos programas estatais como Angola Investe, PRODESI, PAC, Financiamento à Economia Real, serem um passo positivo para o fortalecimento do tecido empresarial, é necessário um esforço adicional para tornar Angola uma potência de competitividade regional e mundial, sendo fundamental equacionar-se a dinamização de outras formas de financiamento comumente utilizadas em mercados mais maduros.

Considerando as potencialidades das formas de financiamento alternativas, os primeiros passos poderão ser dados com o apoio dos bancos, através da massificação da utilização de operações de papel comercial e empréstimos obrigacionistas, que poderão ser disponibilizados à sua vasta rede de clientes. Outros passos poderão ser dados por entidades gestoras de organismos de investimento colectivo e de entidades de “venture-capital” que integrem, na diversificação dos seus portfolios, investimentos, que embora mais arriscados, permitam retornos mais atractivos. Subsequentemente, poderão ser implementados esforços na abertura do capital social a novos investidores e na dinamização de um mercado de capitais com transacções regulares, representando as expectativas dos “Stakeholders” face às informações prestadas pelos gestores das empresas.

Estes mecanismos possibilitam oferecer ao mercado alternativas de investimento com diferentes perfis de risco e rentabilidade, enriquecendo a actual oferta de produtos no mercado financeiro Angolano. Adicionalmente, estes mecanismos são consentâneos com uma estratégia de dinamização dos depósitos bancários, convertendo-os num motor desenvolvimento de projectos mais relevantes e de rentabilização superior.

Não obstante a importância deste processo, é fundamental garantir que as estruturas e organismos necessários se encontram adequadamente desenvolvidos, conferindo a credibilidade exigida pelos investidores. Neste contexto, a contínua aproximação dos mecanismos de regulação implementados em Angola aos verificados em mercados de referência, e o funcionamento coerente e eficiente dos diversos agentes deste mercado (Autoridades Fiscais, Reguladores, Associações Sectoriais e entidades de auditoria) representam factores essenciais. Paralelamente, a sustentabilidade desta estratégia requer o acompanhamento de todos os sectores de sociedade, sendo inequívoca a necessidade de aposta na educação, garantindo força de trabalho e experiência exigidas no desenvolvimento dos projectos empresariais, assegurando uma diminuição gradual da dependência de capital humano especializado externo.

Em suma, apesar de se verificarem diversos desafios à actividade das empresas, existe um conjunto de oportunidades que, devidamente conjugadas, poderão sustentar um robustecimento do mercado financeiro actual, estimular as vantagens competitivas existentes e, consequentemente, potenciar o desenvolvimento económico de Angola nos próximos anos.