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Contribuições para uma reflexão sobre o turismo em Angola

Nuno Fernandes
8/5/2024
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Foto:
DR

É fundamental ter-se uma estratégia de promoção que atraia turistas. Um site oficial bem construído e uma boa utilização das redes sociais com conteúdos relevantes.

O que é preciso para um país, com potencial turístico,  tornar-se um destino de eleição? Ter infra-estruturas e acessibilidades ao nível do transporte aéreo, terrestre e marítimo. Possuir uma rede hoteleira com variedade de acomodações. Comunicações funcionais e acesso fácil à Internet. Possuir atracções turísticas assentes num património cultural e histórico cuidados,  belezas naturais e actividades recreativas indexadas. Pessoal bem treinado e uma gastronomia de qualidade. Preservação ambiental assente na promoção de práticas sustentáveis,  no respeito pela cultura local, tradições e costumes e inserção das comunidades locais. É fundamental ter-se uma estratégia de promoção que atraia turistas. Um site oficial bem construído e uma boa utilização das redes sociais  com conteúdos relevantes. E, não menos importante, oferecer preços competitivos.

São estas as condições que, reunidas, tornam um país um destino turístico de referência.  O que temos em Angola? Paisagens, praias, parques nacionais (mal cuidados), montanhas, rios, fauna e flora diversificados que possibilitariam  safaris e observação de aves; sítios arqueológicos, fortalezas e edifícios coloniais classificados (mas mal preservados). Temos cultura, música e gastronomia. O Turismo representa, no entanto, menos de 1% do PIB. Temos 1 246 700 km2 de área e cerca de 37 milhões de habitantes. Má rede de estradas, deficientes unidades hoteleiras, aeroportos com serviço de baixa qualidade, deficientes serviços de saúde. Em 2019  ocupávamos a 127ª posição no mundo como destino turístico, atrás do Tchad. Gerámos, nesse ano, 218 000 turistas  com uma receita bruta de 395 milhões de dólares!!! (números muito duvidosos),  representando 0,56% do PIB.    

Cabo Verde, com 4 030 km2  e uma população de 593 000 habitantes, gerou, em 2019, 819 mil turistas externos com uma receita de 9 milhões de Euros numa contribuição de 25% para o PIB nacional. Os mercados emissores foram o Reino Unido, com 36%; Alemanha, com 13,1%; Países Baixos, com 10,8%; e Portugal, com 9,6%. As receitas brutas cresceram 209,7%.  O que nos diferencia? Cabo Verde tem uma melhor pontuação em termos de estabilidade política e direitos cívicos. Tem um ambiente mais seguro e previsível para os turistas. Goza de melhor pontuação na qualidade de vida e saúde. A malária foi erradicada  este ano. Angola enferma de graves problemas de saúde pública e tem um elevado custo de vida. Quem quer vir para um país endémico, com índices elevados de  malária, diarreias e outras doenças?  As nossas infra-estruturas são caras e de pior qualidade. Isentámos cidadãos de 98 países de vistos de turismo, mas o nosso turismo é caro e pouco virtuoso comparando com outros. Os números falam por si. Em 2019, antes da pandemia da COVID-19, o Botswana recebia  mais de 500 mil turistas  com uma receita bruta na ordem dos 712 milhões de dólares, representando 4,3% do PIB.  A Namíbia recebia, nessa altura, mais de 2 milhões de turistas para uma receita de 415 milhões de dólares,  representando 3,6% do PIB. Referimo-nos a 2019 por ter sido o ano que antecedeu a crise pandémica da COVID-19, com o turismo em alta em todos eles.

O Senhor Presidente da República, ao dar posse ao novo Ministro do Turismo, muito recentemente, instou-o a descobrir as causas do nosso fracasso nessa área. Referimos algumas, neste apontamento, mas nada como estudar os três países citados e perceber o que de diferente construíram.

CONTRIBUTIONS TO REFLECTION ON TOURISM IN ANGOLA

What does it take for a country with tourism potential to become a destination of choice? Having infrastructure and accessibility in terms of air, land and sea transportation. A hotel network with a variety of accommodation options. Functional communications and easy internet access. Tourist attractions based on well preserved cultural and historical heritage; natural beauty and recreational activities. Well-trained staff and quality cuisine. Environmental preservation based on the promotion of sustainable practices, respect for local culture, traditions and customs and the inclusion of local communities. It is essential to have a promotion strategy that attracts tourists. A well-built official website and good use of social media with relevant content. And, not least, offering competitive prices.

These are the conditions that, when put together, make a country a leading tourist destination.  What do we have in Angola? Landscapes, beaches, national parks (poorly cared for), mountains, rivers, diversified fauna and flora that would make safaris and birdwatching possible; archaeological sites, fortresses and classified colonial buildings (but poorly preserved). We have culture, music and gastronomy. Tourism, however, accounts for less than 1% of GDP. We have a territory that spans 1,246,700 km2 and around 37 million inhabitants. We have a poor road network, not-so-good hotels and airports, poor health services. In 2019 we ranked 127th in the world as a tourist destination, behind Chad. That year, we received 218,000 tourists with gross revenue of 395 million dollars !!! (very dubious figures), representing 0.56% of GDP.    

Cape Verde, with 4,030 km2 and a population of 593,000, received 819,000 tourists in 2019 with revenue of 9 million euros, contributing 25% to the country's GDP. The source markets were the United Kingdom (36%); Germany (13.1%); the Netherlands (10.8%) and Portugal (9.6%). Gross revenue grew by 209.7%.  What’s the difference between us? Cape Verde scores better in terms of political stability and civil rights. It has a safer and more predictable environment for tourists. It scores better on quality of life and health. Malaria was eradicated this year. Angola suffers from serious public health problems and has a high cost of living. Who wants to come to an endemic country with high rates of malaria, diarrhea and other diseases?  Our infrastructure is expensive and of poorer quality. We have exempted citizens from 98 countries from tourist visas, but our tourism is expensive and not very virtuous compared to others. The figures speak for themselves. In 2019, before the COVID-19 pandemic, Botswana received more than 500,000 tourists, with gross revenue of around 712 million dollars, representing 4.3% of GDP.  At that time, Namibia received more than 2 million tourists, with revenue of 415 million dollars, representing 3.6% of GDP. We refer to 2019 because it was the year before the Covid-19 pandemic, with tourism on the rise in all of them.

When the President of the Republic recently swore in the new Minister for Tourism, he urged him to find out the causes of our failure in this area. We've mentioned a few in this article, but there's nothing like studying the three countries mentioned and understanding what they've done differently.