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DIA DE ÁFRICA. Ocidente perde influência no Sahel 60 anos depois

Fernando Baxi
24/5/2024
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Foto:
DR

Forças russas instalaram-se numa base área no Níger ocupada por militares norte-americanos. O Departamento de Defesa dos EUA tentou inibir a decisão, mas sem sucesso.

A intenção de se desprender do domínio dos Estados Unidos e da ex-potência colonizadora, França, militares de três países da região do Sahel (Mali, Burkina Faso e Níger) depuseram os presidentes eleitos democraticamente, alterando a ordem constitucional naqueles países.

A acção dos golpistas foi repudiada pelas principais organizações internacionais, inclusive pela União Africana (UA). A Comunidade Económica dos Estados da África do Oeste (CEDEAO) pensou numa intervenção militar no Níger para repôr a ordem constitucional subvertida. 

Mas, recuou face à ameaça de as juntas militares do Mali e Burkina Faso entrarem no conflito ao lado do Níger. O recuo da CEDEAO foi tida sábia pois evitou um banho de sangue que, segundo o ganense Ibrahim Mohamed, especialista em estudos africanos, daria vantagem ao ocidente.

Internamente, sobretudo no Níger, o golpe de estado que derrubou Mohamed Bazoum, único presidente nigerino eleito democraticamente, foi efusivamente saudado pelo povo que muito sofria pelo custo de vida. Aliás, as percepções de incompetência e  corrupção ditaram o derrube do líder.    

O ocidente, principalmente os EUA e a França pressionaram a junta militar a devolver o poder a Mohamed Bazoum, pois anteviam a perda de influência naquele país africano. Os generais nigerinos questionavam a eficácia da assistência bélica norte-americana e francesa no combate aos jihadistas.      

No teatro das operações militar, apesar do treinamento e apoio logístico dos EUA e da França (ex-potência colonizadora), as forças nigerinas sofriam pesadas baixas no confronto com os insurgentes islamitas liderados pela al-Qaeda, Estado Islâmico e Boko Haram. O povo questionava o exército.

Fim do domínio ocidental  

À semelhança do Mali e Burkina Faso, o Níger rompeu as relações diplomáticas com a França e os EUA, aproximou-se à Rússia que passou a prestar assistência militar. Como prova de boa acção, enviou efectivos do grupo paramilitar Wagner. Os interesses americanos estavam ameaçados.

As relações entre a junta militar nigerina e os EUA ficaram ainda mais crispadas com a ordem de retirada dos militares norte-americanos do Níger. Foi um duro golpe contra a ‘Casa Branca’ em África, pois naquele país do Sahel está instalada a maior base americana de drones do mundo.

Facto inédito ocorreu nos primeiros dias de Maio de 2024, quando as forças russas instalaram-se numa base área no Níger ocupada por militares norte-americanos. O Departamento de Defesa dos EUA tentou inibir a decisão do líder da junta militar nigerina, mas sem sucesso.

A presença de militares russo também ajudou os nigerinos a tomar o controlo da cidade de Irlit, que as forças especiais francesas guarneciam em nome da empresa de mineração de urânio e ouro. A França perdeu para a Rússia.      

Irlit representa perda para a França, pois quase dois terços da electricidade francesa provém de centrais nucleares alimentadas por urânio nigerino.   

A influência da Rússia terá enfurecido o presidente francês, Emmanuel Macron, que insiste numa intervenção militar da OTAN na Ucrânia. o chefe de estado gaulês está determinado a cumprir a missão. As autoridades militares russas estão atentas às manobras francesas e ocidentais. 

O presidente russo,Vladimir Putin, ordenou o exército a realizar manobras militares com armas nucleares tácticas.  Especialistas já aventam a possibilidade de o conflito russo-ucraniano ganhar dimensão planetária.     

Ruanda acusada de desestabilizar RDC 

Na África central, o exército da República Democrática do Congo trava violentos combates com o Movimento 23 de Março (M23), no leste do país. As autoridades congolesas acusam Ruanda de apoiar os rebeldes, mas Paul Kagame, presidente ruandês, nega qualquer ingerência no conflito.

O governo congolês insiste na ingerência ruandesa, principalmente no Kivu Norte, porque as acções militares mais enérgicas do M23 foram preparadas em solo ruandês, supostamente, com auxílio de mercenários israelitas.    

Face à gravidade da situação, a RDC queixou-se da intervenção do Ruanda ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), que depois de analisar todos os factos, deu razão ao Estado congolês democrata.

Especialistas acreditam no parecer da ONU porque em 2022, justamente a 25 de Maio, efectivos do M23 e militares ruandeses atacaram, em conjunto, a maior base militar congolesa em Rutshuru. Paul Kagame sabia de tudo.

O exército da RDC disse ter evitado a tentativa de golpe de Estado (19.05.2024). Um grupo de homens armados e uniformizados invadiu a residência do presidente da República, Félix Tshisekedi, e do vice-primeiro-ministro, Vital Kamerhe.      

A acção que visava derrubar o poder de Tshisekedi foi perpetrada por congoleses residentes no estrangeiro e dois cidadãos norte-americanos.