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Falta de informação inibe identificação precoce do cancro da mama

Cláudio Gomes
20/11/2023
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Foto:
DR e Cedidas

A luta contra o cancro da mama passa pela disseminação assertiva de informações sobre o auto-exame, factores de risco, acesso aos profissionais qualificados e unidades sanitária equipadas.

As estatísticas do Instituto Angolano de Controlo do Câncer, instituição de utilidade pública especializada na investigação, tratamento e combate da doença, indicam que mais de 18.710 cidadãos procuraram ajuda médica especializada de 2007 a 2022.

As pesquisas feitas no site do Instituto adstrito ao Ministério da Saúde (MINSA) referem que dos 1.501 casos diagnosticados em 2022, 378 eram da mama, 282 do colo do útero e 57 da próstata, num universo de mais de 40 tipos de cancros monitorados naquele ano.

Morosidade no atendimento

A falta de informação, bem como a morosidade no atendimento, contribui para que muitas mulheres cheguem às unidades hospitalares  em estado avançado da doença ou situação terminal por conta da morosidade no atendimento, como revelou à Economia & Mercado, a funcionária pública Jacinta Soares de Brito.

De 56 anos de idade, 32 dos quais na funcionária pública, Jacinta Soares de Brito foi desafiada a enfrentar com fé e determinação um episódio sombrio que começou em 2015, quando foi-lhe diagnosticada com cancro da mama em Angola, confirmada no Brasil e tratada em Portugal.

A doença que quase lhe custou a vida foi desboerta graças ao conhecimento que tinha sobre a doença fruto do histórico familiar. “Despertamo-nos porque a minha mãe faleceu de um cancro do isofago. Então com base neste histórico a família ficou mais atenta”, frisou.

À Economia & Mercado, a funcionária do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) disse que apesar de ter consciência sobre a letalidade da doença e ter feito auto-exames várias vezes, teve “imensas” dificuldades para ser atendida no Instituto Angolano de Controlo do Câncer, única unidade de referência que trata doenças cancerígenas no País.

Funcionária pública Jacinta Soares Brito
“Não é fácil chegar até aos hospitais públicos. Com base na minha experiência, percebi que muitas pessoas chegam aos hospitais com diagnóstico tardio por causa das barreiras que existem para marcar as consultas, porque já nos anos 2012, 13 e 14, eu e as minhas colegas de trabalho acordámos cedo para marcar a consulta de rastreio”, afirmou Jacinta Soares de Brito.

Em 2015, reforçou, começou a sentir a presença de nódulos. “Tornei a marcar a consulta de rastreio (nem sei se posso falar isto aqui), mas para chegar até a médica que me assistiu, foi preciso a intervenção de uma colega, que fazia trabalhos no Instituto Nacional de Luta Contra o Cancro, que falou com uma médica”, disse.

A má notícia

Após a primeira consulta, Jacinta recebeu a informação que mudou a forma de olhar para o cancro da mama. “Ali fui atendida, fiz os exames e ela disse-me assim: ‘estás no nível dois e deves vir cá no próximo ano’. Foi então que se confirmou que estava com cancro da mama”, contou.

Em seguida, rumou para o Brasil onde procurou ajuda médica na espectativa de uma opinião que lhe fosse favorável. Lá, foi submetida a uma bateria de exames de rastreio. “Depois fui a Portugal, em 2016, onde comecei a sentir-me mal. Marquei a consulta, fiz os exames, e a médica, logo na mamografia detectou. E disse-me que o nódulo estava no organismo há algum tempo e que era maligno”, recordou com nostalgia os dias em que ficou internada na Fundação Champalimaud onde foi submetida a quimioterapia, radioterapia e uma cirurgia.

“Não removeram a mama toda. Removeram apenas o mamilo”, salientou, referindo que não sabe dizer o que aconteceria durante os procedimentos clínicos se não contasse com o apoio da família.

“O papel da família foi muito importante, porque não sei o que teria acontecido se não a tivesse por perto. Falo também dos amigos, colegas, dos meus chefes e outras pessoas de bem. Os segredos da vitória foram a força de vontade, fé, coragem e acreditar que tudo é possível”, realçou Jacinta Soares de Brito.

Hoje, a funcionária pública e dona de casa, partilha a experiência vivida com outras pessoas alertando-as sobre a eminência do perigo que representam os cancros, de um modo geral, e o da mama em particular, tal como foi aquando de uma palestra sobre o cancro da mama, promovida no âmbito do Outubro Rosa, pela Tintas Toptech, em parceria com a Casa de Caminho André Luís.

“Tratar é melhor que curar”

Para a médica Albertina Manaça, “prevenir é melhor que tratar”. O entendimento da especialista em doenças oncológicas deve-se aos 14 anos de experiência acumulados ao serviço do Instituto Angolano de Controle do Câncer.

Palestra sobre o cancro da mama, ministrada pela médica Albertina Manaça

Tal como Jacinta Soares de Brito, a médica partilhou o conhecimento científico sobre o cancro da mama no âmbito do Outubro Rosa promovido pelas Tintas Toptech, em parceria com a Casa de Caminho André Luís.

À Economia & Mercado, Albertina Manaça disse que o tema é ainda pouco disseminado a considerar a dimensão territorial do País, situação que aumenta o nível de casos em situação avançada. “Ainda é baixo tendo em conta a dimensão do País. Em Luanda já se fala mais sobre o câncer”, frisou

A médica entende que cada família deve ser responsável pela prevenção das doenças cancerígenas. “Cada família tem que ter a consciência de prevenção destas doenças, porque quando detectada mais cedo melhor”, defendeu.

Para que isto aconteça, a especialista diz ser necessário que “toda sociedade deve se mobilizar nesta causa”, para que os factores de risco e os métodos de prevenção como alimentação equilibrada e prática de actividades desportivas sejam amplamente conhecidos.  

Neste sentido, as pessoas com idade de risco não devem consumir alimentos processados ou embutidos como fiambre, presunto, mortadela, enlatados e gorduras. A alimentação saudável e balanceada ajuda na prevenção do câncer”, frisou a médica especialista em doenças oncológicas.

A Casa de Caminho André Luís é uma instituição sem fins lucrativos que presta apoio social às comunidades carenciadas do município de Viana e arredores através da assistência médica e medicamentosa (Clínica Drº. Agostinho Neto), formação técnico-profissional (Centro de Formação Profissional Rainha Ginga), formação académica (Centro Escolar João Henriques Pestalozzi).

Para a patrona desta instituição, que acolheu o acto, é imperioso que as pessoas sejam estimuladas a pensar não obstante a condição social, económica, política ou religiosa.

Professora-doutora Amélia Cazalma
Segundo Amélia Cazalma, “o conhecimento é a libertação do ser”. “Esta palestra deu para pensar. Se não tivessem, é claro que não pensariam. É preciso pensar. Dizia eu que defendi no doutoramento seis pilares da educação. A UNESCO tinha defendido quatro pilares e eu defendi seis. Um deles é aprender a pensar com autonomia e a aprender a conviver no ambiente”, afirmou à Economia & Mercado.

No final da palestra que durou quase uma hora, que teve lugar numa das salas do Centro Escolar João Henriques Pestalozzi, foram plantadas mais de 100 plantas no perimétro da Casa de Caminho André Luís.

O evento contou com a participação de uma centenas assistentes, entre estudantes do Centro Escolar João Henriques Pestalozzi e trabalhadores das Tintas Toptech, entre outros convidados.

A Casa de Caminho André Luís conta com o apoio de pessoas singulares e colectivas como Tintas Toptech, TV Cabo, Edicenter, Fabrimental, Daimic, do Instituto Nacional do Emprego e de Formação Profissional (INEFOP). No entanto, atendendo a procura que se regista, carece de mais ajuda para manter abertas as portas para as comunidades de Vianda e zonas circundantes.