3
1
PATROCINADO

Fernando Teles, o banqueiro que não tem medo da origem do seu dinheiro e pede “momento zero” no combate à corrupção

Victória Maviluka
6/5/2024
1
2
Foto:
Carlos Aguiar

No sector financeiro há quase 60 anos, Fernando Teles fala, sem rodeios, às ‘Conversas E&M 25 Anos’, da sua trajectória profissional e do País nas últimas duas décadas e meia.

Iniciou-se na banca muito cedo, ainda na adolescência, em Angola. Está ligado à criação de dois bancos comerciais em Angola e afirma, com orgulho, que cinco dos actuais presidentes da banca angolana passaram pelas suas mãos. 

Fernando Teles aceitou o desafio de fazer a sua retrospectiva do País económico e social nos últimos 25 anos, a idade da revista Economia e Mercado. É uma conversa em que o veterano banqueiro, agora também um homem forte do sector agro-pecuário em Angola, se mostra fiel a si mesmo: ousado, sem rodeios nas respostas. 

O que diz, por exemplo, sobre o combate à corrupção, uma das bandeiras do actual Governo? É, desde já, a favor do programa, mas levanta reticências quanto ao modelo adoptado, o qual considera um empecilho ao investimento e, consequentemente, à estabilidade e geração de empregos.

“Aquilo que vejo é que, às vezes, não estamos todos sincronizados. Isso é uma questão de patriotismo: temos de ter consciência de que, para que o País evolua e ande para frente, temos que criar condições para os empresários e para quem tem dinheiro. Se estivermos sempre a ver a origem do dinheiro, não vamos a lado nenhum”, atira.

Recorda que foram as próprias autoridades governamentais que, fechando “os olhos a coisas com as quais, noutros países, se calhar, as pessoas estão mais preocupadas”, ajudaram empresários a acumularem dinheiros, através, por exemplo, de comissões.

Com uma vasta carreira no sector da banca, Fernando Teles garante que conhece grande parte dos principais empresários de Angola e observa que são muitas as “pessoas que têm algum dinheiro” e que precisam de confiança para investirem na criação de postos de trabalho.

Pede, por isso, uma revisão ao modelo de combate à corrupção: “Neste momento, em Angola, não podemos ter o prurido de estar tão preocupados com a origem do dinheiro”. 

Em relação ao seu património, afirma estar à vontade, porquanto pode mostrar a origem do dinheiro: “O balanço do banco dá lucro e eu tenho dinheiro”. 

“Mas (...) quem tem dificuldades em justificar parou com investimento, e quando parou com o investimento não há criação de emprego. Isso é bom para o País? Eu acho que não”, sugere.

A ‘mania’ dos ‘V8’ e os receios da banca

Fernando Teles, ainda a exercer actividade bancária no Banco BIC, do qual é fundador, entende que são perceptíveis os receios da banca na concessão de créditos.

Em relação ao crédito malparado no sector da agricultura, refere que estes incumprimentos derivam do facto de muitos dos que solicitam crédito não terem experiência suficiente para conceber ou gerir investimentos que garantam retorno e a liquidação da dívida.

“Se os bancos ficarem com crédito malparado num sector de actividade, seja ele qual for, depois, a seguir, têm dificuldade de financiar este ramo de actividade”, sublinha.

E acrescenta: “Uma taxa de juro de 7,5%, com a inflação a 20%, é uma taxa óptima para a agricultura e para a pecuária. Agora, as pessoas não podem pensar que vão para a agricultura e para pecuária e a primeira coisa que compram é um ‘V8’”.

Produzir ao nível do Brasil, Argentina e Estados Unidos

Santo António é o nome do projecto agro-pecuário que tem à testa Fernando Teles. O programa tem o ‘cordão umbilical’ na Huíla e, passadas décadas, o investimento tem os raios de acção espalhados já por quase metade das províncias do País.

O projecto conta com a experiência de técnicos brasileiros e argentinos, mas há já muitos técnicos angolanos a ocuparem lugares de liderança em muitos segmentos do seu investimento, assegura.

Fernando Teles elenca o acesso a prestadores de serviço como uma das dificuldades com que os seus pares nos sectores da agricultura e da pecuária se deparam.

“Nós precisamos de prestadores de serviço, que é uma coisa que existe em todo o mundo e Angola quase não tem. Você precisa de fazer uma produção de milho ou de soja e pode alugar as máquinas e num preço que seja bom para toda a gente ganhar dinheiro. Em Angola, infelizmente, quem quer produzir tem que ter tudo”, lamenta.

Elege especialistas brasileiros e argentinos como preferenciais na parceria no sector, sendo a língua, adicionada ao factor capacidade técnica, uma mais-valia. 

Entretanto, considera uma aproximação aos norte-americanos bem-vinda, sobretudo, para a massificação da cultura da eficiência e para a influência junto dos corredores da política. 

“Nós precisamos de alguém que seja eficiente e que possa bater o pé ao Governo. É diferente se for um americano falar com qualquer ministro em Angola ou mesmo com o senhor Presidente”, atira.

Apesar de admitir que nem sempre os resultados da produção do projecto Santo António servem para suprir os custos, Fernando Teles fala, com entusiasmo, dos resultados do seu investimento no sector agro-pecuário. 

Gaba-se mesmo de estar a produzir à escala mundial, do ponto de vista qualitativo: “Sinto-me feliz em ir às minhas fazendas e ter lá uma fazenda ao nível da Argentina e do Brasil ou dos Estados Unidos. Já não estou a dizer de Portugal. As fazendas estão lá para ser visitadas, e que me digam a mim, na cara, o que é que vêem de melhor no Brasil ou na Argentina”.

Fernando Teles na Grande Entrevista à E&M

“Não se pode pensar que se vai fazer turismo só fazendo hotéis”

Fernando Teles destaca os investimentos que estão a ser feitos para alavancar o sector do turismo, mas lamenta o facto de muitas destas apostas estarem a funcionar “de uma forma incipiente, sem rentabilidade”.

“Tem que se promover o turismo lá fora, tem que se autorizar as ‘low cost’ a voarem em Angola, não é possível virmos de Lisboa ou do Brasil com preços muito elevados, porque quem faz turismo quer gastar menos possível e ver máximo de coisas, obter cultura, obter mais informações sobre o país”, observa.

Apela para o envolvimento de todos os ‘players’ que intervêm na cadeia turística: “O Governo está a procurar incentivar que haja turismo em Angola, mas temos de ter consciência de que o turismo só se vai desenvolver se todos nós estivermos virados para que o apoio seja de ponta a ponta, ou seja, não se pode pensar que se vai fazer turismo só fazendo hotéis”. 

Cem vezes melhor que há 30 anos, mas nos últimos cinco anos…

Fernando Teles, agora na casa dos 72 anos, não tem dúvidas de que a Angola de hoje “está 100 vezes melhor” que a de 30 anos atrás. Mas, há cinco anos, observa, “se calhar a gente estava a viver melhor…”.

A Angola de hoje, o início da trajectória na banca, a construção do património a partir de Portugal, as acções no Banco BIC, o processo judicial contra Isabel dos Santos, a compra de terras/fazendas abandonadas, a polémica à volta dos gados do Tchade e o sonho para o País preenchem, igualmente, o tempo de conversa entre Fernando Teles e o jornalista Sebastião Vemba, director da revista Economia & Mercado.

Acompanhe a Grande Entrevista na íntegra Aqui