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Gado bovino. A excessiva dependência da importação de carne

José Zangui
3/11/2020
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Foto:
Carlos Aguiar e Arquivo

Angola importa anualmente, em média, 1,6 milhão de toneladas de carne e seus derivados, o que custa ao Estado cerca de 860 milhões de dólares, segundo dados oficiais.

As estatísticas globais sobre a população bovina em Angola são desencontradas. A região Sul reclama para si o maior número, 3.858.000 cabeças de gado, segundo o director da Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola (CCGSA), Luís Gata, em declarações à E&M.

Já o Planalto de Camabatela é a segunda aposta do Executivo angolano, que está a desenvolver nessa região um programa de repovoamento com gado proveniente da República do Chade. Os resultados, segundo a análise de especialistas, são desastrosos. Das 4.351 cabeças de gado bovino provenientes da República do Chade, 385 morreram em território angolano, segundo confirmou à E&M o Ministério da Agricultura e Pescas.

O primeiro lote chegou a Angola no mês de Março e foi instalado num centro de quarentena no Complexo da Agro Quiminha, na província de Luanda, para observação e rastreio de doenças. O objectivo do Executivo, com a recepção deste gado, é implementar o Programa de Desenvolvimento Agro-pecuário do Planalto de Camabatela, que compreende as zonas convergentes das províncias do Kwanza-Norte (municípios de Ambaca e Samba Cajú) e Uíge (municípios de Negaje, Puri, Alto Cawale, Kangola, Damba, Bungo e Mucaba).

Segundo o Ministério da Agricultura e Pescas, em nota de esclarecimento, antes da distribuição os bovinos foram observados na Agro Quiminha por técnicos do Instituto dos Serviços de Veterinária e do Instituto de Investigação Veterinária, tendo sido realizadas várias análises aos animais, nomeadamente a recolha de amostras de sangue e fezes para o despiste de doenças como hemoparasitoses e endoparasitoses.

Um total de 2.050 bovinos foi entregue aos beneficiários do programa agro-pecuário. Mas 27 já tinham morrido durante o transporte e 358 nas fazendas destinatárias, devido a “deficiências de condições constatadas nas infra-estruturas”, adianta o Ministério da Agricultura e Pescas, salientando que a situação está a ser corrigida, “visando criar condições para os futuros recebimentos”.

As autoridades admitiram ainda que começaram a surgir algumas doenças no centro de quarentena.  As amostras (228) foram enviadas para a Namíbia, tendo 57 apresentado resultado positivo para pneumonia contagiosa dos bovinos, o que exigiu do Executivo a tomada de medidas reactivas para evitar o pior.

No âmbito do repovoamento animal, o Planalto de Camabatela esperava receber um total de 75 mil cabeças de gado bovino da República do Chade, como reembolso de 100 milhões de dólares da dívida que aquele país contraiu a Angola em 2017.

Entretanto, em Angola não morre apenas o gado importado do Chade. Na região sul do país, regista-se também muita morte de gado bovino. De acordo com Luís Gata, as principais doenças nessa região são as chamadas “telúricas". Além das doenças, a seca é a principal causa de morte de gado no sul de Angola, em particular no Cunene, província fortemente afectada por esse fenómeno.

Até Maio de 2019, os números oficiais apontavam para a perda de mais de 26 mil cabeças de gado, entre bovino, caprino e suíno. Recorde-se que, a par da morte de animais, a seca comprometeu a campanha agrícola daquele ano na província, que previa colher 180 mil toneladas de cereais diversos.

Recentemente, na província de Malanje, registaram-se mortes de gado bovino por causas ainda por esclarecer, segundo o director do Instituto dos Serviços de Veterinária do Ministério da Agricultura e Pescas, Ditutala Lucas Simão, à E&M.

Cattle. The excessive dependence on imported meat

According to official data, Angola imports an average of 1,6 million tons of meat and by-products per year, costing the State nearly US$860 million while the annual domestic production of beef is estimated in a mere 50,000 tons.

The overall statistics on the cattle population in Angola are out of date. The Southern region claims to have the largest number, at 3,858,000 head of cattle, according to the director of the Cooperative of Southern Angola Cattle Breeders (CCGSA), Luís Gata, in statements to E&M.

The Camabatela Plateau is the second bet of the Angolan Executive, which is developing a restocking program in this region with cattle from the Republic of Chad. The results, according to expert analysis, are disastrous. Of the 4,351 head of cattle from the Republic of Chad, 385 died in Angolan territory, as confirmed to E&M by Ministry of Agriculture and Fisheries.

The first batch arrived in Angola in March and was installed in a quarantine center in the Agro Quiminha Complex, Luanda province, for observation and disease screening. The goal of the Executive, on receiving these cattle, is to roll-out the Camabatela Plateau Agro-Livestock Development Program, which covers the converging zones of the provinces of Kwanza-Norte (municipalities of Ambaca and Samba Cajú) and Uíge (municipalities of Negaje, Puri, Alto Cawale, Kangola, Damba, Bungo and Mucaba).

According to a press statement by Ministry of Agriculture and Fisheries, before distribution the cattle were observed in Agro Quiminha by technicians from the Institutes of Veterinary Services and Veterinary Research, and several analyses performed on the animals, including the collection of blood and fecal samples for screening of diseases such as hemoparasitosis and endoparasitosis.

A total of 2,050 bovines were delivered to the beneficiaries of the agricultural and livestock program, but 27 died during transport and 358 in the recipient farms due to “deficiencies in the infrastructure”, added Ministry of Agriculture and Fisheries, pointing out that the situation is being mitigated, “to create conditions for future batches.”

The authorities also admitted that some diseases have begun to appear in the quarantine center. The samples (228) were sent to Namibia, and 57 showed positive results for contagious bovine pneumonia, which required the Executive to take reactive measures to avoid the worst.

As part of the animal repopulation framework, the Camabatela Plateau expected to receive a total of 75,000 head of cattle from the Republic of Chad, as repayment of US$100 million of debt incurred with Angola in 2017.

However, in Angola, not only cattle imported from Chad die. The southern region of the country reported many cattle deaths. According to Luís Gata, the main diseases in this region are the so-called “telluric diseases”. In addition to diseases, drought is the main cause of death of cattle in southern Angola, particularly in Cunene, a province heavily affected by this phenomenon.

Until May 2019, official figures pointed to the loss of more than 26,000 head of cattle, including cows, goats and pigs. It should be remembered that, along with the death of animals, the drought compromised that year’s agricultural campaign in the province, initially forecasted to harvest 180,000 tons of various cereals.

Recently, Malanje province registered cattle deaths for causes yet to be clarified, said Ministry of Agriculture and Fisheries’ Institute of Veterinary Services director, Ditutala Lucas Simão, to E&M.