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PATROCINADO

Maionese no funge

Deslandes Monteiro
9/3/2022
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Foto:
Carlos Aguiar

O conceituado baterista e cantor Lito Graça disse, abordando sobre a internacionalização da música angolana, que um dos empecilhos está na constantemente tentativa adaptação a produção angolana.

Em outras palavras, o mesmo afirmou que a tentativa de adaptar a letra e os instrumentais aos estilos estrangeiros contribui para o desgaste da cultura nacional, fazendo que se perca a identidade e se reduza a intenção de consumo da produção angolana.

Para melhor definir este fenómeno, o artista utilizou a expressão “maionese no funge”, no sentido de remarcar a descaracterização de um produto nacional adicionando-lhe um produto estrangeiro totalmente alheio à identidade do produto original.

Na República Democrática do Congo, na década de 1970, quando este país se tornou no centro da atracção de investimento estrangeiro em África, sob a égide de Mobutu Sese Seko, uma característica que facilmente se destacava era a insistência na manutenção das características culturais do país, o que ajudava na “venda” da imagem institucional no mercado estrangeiro, fazendo que a RDC se tornasse num dos países africanos mais famosos a nível internacional. O grande investimento público na cultura, na juventude e nos desportos, jogou um papel fundamental na criação de um “produto” apelativo para os investidores estrangeiros, que identificavam no antigo Zaíre um mercado novo, peculiar e autêntico, quer em termos turísticos quer na vertente da criação de novos negócios.

Em Angola, é frequente notarem-se esforços, nalguns casos somente teóricos, para se criarem condições favoráveis aos investidores estrangeiros, muitas vezes emulando realidades estrangeiras, sobretudo nas políticas públicas, no campo administrativo, tributário, laboral e financeiro. E neste processo de imitação, os países africanos que conseguiram melhorar consideravelmente o próprio ambiente de negócios com iniciativas adequadas à própria realidade não são tidos nem achados.

A criação de condições favoráveis para o investimento estrangeiro não se traduz automaticamente na criação de uma realidade similar a que o investidor tem no próprio país. O investimento, tratando-se de um desafio, associado a um risco, requer realidades novas e peculiares, desde que sejam simples, claras e de fácil acesso. A tentativa forçada de agradar o investidor estrangeiro é meter maionese no funge.

Leia o artigo completo na edição de Fevereiro, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).

Mayonnaise on funge

In a recent interview, the renowned drummer and singer Lito Graça, while commenting on the issues surrounding the internationalization of Angolan music, said that one of the drawbacks is the constant trying to adapt Angolan productions to foreign styles in order to facilitate international consumption. Simply put, he said that the attempt to adapt lyrics and instruments to foreign styles contributes to the wear and tear of the national culture, causing the loss of identity and reducing the desire to consume Angolan productions.

To better define this phenomenon, the artist used the expression “mayonnaise on funge”, to highlight the stripping of character of a national product by adding a foreign product totally alien to the identity of the original product.

In the Democratic Republic of Congo, in the 1970s, when this country became the center of attraction for foreign investment in Africa, under Mobutu Sese Seko, a feature that easily stood out was the insistence on maintaining the cultural characteristics of the country, which helped to “sell” the institutional image in the foreign market, making the DRC one of the most famous African countries internationally. The large public investment in culture, youth and sports, played a key role in creating a “product” appealing to foreign investors, who identified in the former Zaire a new, peculiar and authentic market, both in terms of tourism and creation of new businesses.

In Angola, it is common to notice efforts, in some cases only theoretical, to create favorable conditions for foreign investors, often emulating foreign realities, especially in public policies, administration, taxation, labor and finance. And in this mimicry, the African countries that managed to considerably improve their own business environment with initiatives suited to their own realities are neither seen nor found.

The creation of favorable conditions for foreign investment does not automatically translate into the creation of a reality similar to that which the investor has in his own country. Investment, being a challenge, associated with risk, requires new and peculiar realities, as long as they are simple, clear and easily accessible. The forced attempt to please the foreign investor is putting mayonnaise on funge.

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