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Mais de cinco mil crianças violentadas em 2020

Isabel Bernardo
1/6/2021
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Foto:
Arquivo

O Instituto Nacional da Criança (INAC) registou, em 2020, 5.810 casos de violências contra criança. A fuga a paternidade, a exploração de trabalho infantil e a violência física lideram a lista.

Um relatório disponibilizado pelo INAC dá conta que durante o ano em referência, o confinamento social e degradação da condição económica das famílias terá aumentado os problemas enfrentados pelas crianças em Angola. A situação pandémica abrangeu 1.589 crianças dos 0 aos cinco, 2.190 dos seis aos 13 e 2.031 dos 14 aos 18 anos de idade.

No ano passado, refere o documento, foram identificados 2.416 casos de fuga a paternidade, 1.811 de exploração de trabalho infantil e 370 de violência física.

As disputas de guardas que somam 330 casos registados, actos de negligência (310), abandono de criança (183), violência psicológica (140) e sexual (135). Seguem ainda acusações de feitiçaria (40), homicídio (34), tráfego de criança (27) e rapto de criança (14).

Em relação ao primeiro trimestre de 2021, o INAC contabilizou 1.812 casos violência contra a criança.

Falando em alusão ao Dia Internacional da Criança, o director do Instituto Nacional da Criança falou sobre o índice de violência contra a criança durante a fase pandémica, particularmente em 2020.

Em entrevista à Economia & Mercado, Paulo Kalesi disse que a problemática contra a criança é global face ao período vigente da Covid-19, uma vez que aumentou consideravelmente os referidos casos. "O mais triste é que elas são forçadas pelas próprias famílias", lamentou.

Paulo Kalesi, Director do INAC

"Muitas delas instruídas pelas famílias para cometer roubos e pedir esmola na via pública. Estes são os grandes problemas que temos. Já tivemos casos em que a criança tem medo de voltar para casa, pelo facto de não ter conseguido nada nas ruas", denunciou, sublinhando que em muitos casos "o castigo destes é a surra”.

O responsável disse que muitas crianças preferem a rua e estão nestas condições sem o consentimento dos encarregados, ou até mesmo porque os amigos contam que conseguiram certa coisa nas ruas.

O desemprego é chamado como consequência do elevado número de crianças nas ruas

A pandemia da Covid-19 está a atirar muita gente para o desemprego e as crianças são as mais afectadas. Segundo Paulo Kalesi, em consequência disso, o número de garotos que fazem a comercialização de produtos na via pública, lavagem de carros, pesca e venda de peixe cresceu no último ano.

"As famílias perderam o poder de compra. Procuramos dar algumas respostas básicas e necessárias para poder atenuar a situação, que permitiram distribuir cestas básicas disponibilizados pelo Estado e parceiros, aberturas de cozinhas comunitárias, além de diálogo permanente com as famílias de modos a permitir que apesar das dificuldades as famílias sobrevivam. As crianças devem ser protegidas”.

Durante o período, o INAC lançou o serviço de denúncia públicas que permite que crianças em situação eminente de risco, de "Cabinda ao Cunene", denunciem eventuais situações de maus tractos. “A fuga a paternidade lidera as ligações do serviço SOS Criança. Querem sempre orientações, sugestões e apoio ligados a fuga a paternidade. O serviço recepciona chamadas dos 164 municípios desse país, olhem que em seis meses recebemos 135 mil ligações e boa parte feita pelas crianças”, explicou o director-geral do INAC.

Para inverter a situação de crianças que vivem violentadas, Paulo Kalesi disse que os governos provinciais criaram os centros de acolhimento provisórios para retirar as crianças das ruas, mas infelizmente muitas regressam às ruas logo na primeira oportunidade.
Evitem dar coisas nas crianças de rua, no dia seguinte as outras voltam a encher novamente as ruas

Em relação ao dilema da mendicidade, ou seja crianças na via pública a pedirem esmola, o responsável apela aos transeuntes, de boa-fé, a não oferecer dinheiro ou qualquer bem material.

“Conversem com elas, ouçam o que têm a dizer, orientam-nas que se dirijam as direcções municipais de Acção Social, informem aos pais que podem e devem recorrer para pedir apoio para suster as necessidades que estão a passar, ou podem apoiá-las a partir de suas próprias famílias”.

O director-geral admitiu, quanto a melhoria de vida das crianças, que tem tido muitas dificuldades no exercício das actividades, sendo que não pode desassociar o actual contexto mundial.

“De repente veio uma doença, os dinheiros fugiram, os orçamentos baixaram, a actividades do governo ficou virada a saúde, sendo que alguns sectores ficaram para trás. Nós precisamos de meios de transportes, resposta acelerada na comunicação, pois a demanda tem sido cada vez maior de tal forma que não conseguimos suportar as necessidades todas. A tarefa da criança é problema de todos.

Para o Dia Internacional da Criança, o INAC tem o acto central político na província de Malanje, que será presidido pela Ministra da Acção Social e promoção da Mulher, Faustina Alves.

Segundo Paulo Kalesi, a ministra vai visitar o Hospital Pediátrico de Malanje, centros de acolhimento e a maternidades constatar de perto a condição das crianças que chegam ao mundo no dia 01 de Junho, obedecendo as regras de combate a Covid-19.