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O alto custo de nascer em Angola - Principais causas de morte materna

Ana Campos e Joaquina Dungue
3/7/2023
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Foto:
DR

As doenças hipertensivas na gravidez e as hemorragias são as principais causas de morte materna.

As doenças hipertensivas na gravidez e as hemorragias são as principais causas de morte materna, segundo as responsáveis das unidades hospitalares visitadas pela revista Economia & Mercado. Ambas foram unânimes na resposta sobre as principais complicações durante o trabalho de parto, assim como foram peremptórias sobre a necessidade, e importância, do acompanhamento pré-natal.

“Existem doenças também pré-existentes na grávida, uma vez que pode ser diabética, hipertensa, muito obesa ou ter uma cardiopatia. Tudo isso, na altura do parto, acaba por interferir com as patologias supraditas, exacerbando-as”. Por casos destes, e para os evitar, ambas as responsáveis destacam que “a partir do terceiro mês é crucial que a gravidez seja seguida por profissionais, que acompanham e anteveem quaisquer tipos de complicações, que podem ser acauteladas e, muitas vezes, evitadas”.

Note-se que as hemorragias podem ocorrer, por exemplo, quando uma paciente iniciou o trabalho de parto no domicílio, onde não havia condições fisiológicas para ter um parto transpélvico, e estaria indicado para uma cesariana. Neste caso, as técnicas utilizadas em casa, para esforçar o trabalho de parto, podem acabar por levar a uma ruptura uterina, esclareceram as especialistas. Em muitos casos, acrescentam, o bebé já nasceu e, aparentemente, está tudo bem. Porém, o facto de ficar uma membrana retida, ou no caso de a placenta não ter saído completamente, pode originar uma hemorragia pós-parto.

Mulheres mais jovens têm cada vez menos filhos

Em conversa com o responsável por uma das maternidades que é considerada referência em Luanda, ficou claro que as mulheres estão a ter menos filhos, “dos 35 aos 40 anos ainda há quem tenha muitos filhos, mas as mais jovens estão melhor orientadas e têm menos filhos”, referiu. Segundo dados da UNFPA Angola, em média, as mulheres na sua vida reprodutiva têm 5 filhos, sendo que na parte rural o número sobe para 8. Mais, 65% da população nacional é jovem, tem menos de 25 anos, o que reflecte nos 650 mil partos anuais feitos em meninas e jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 24 anos.

Sobre as estatísticas da instituição, o responsável avança que em 2022 foram assistidos 32 698 partos. O que, comparado com o ano anterior (2021), há uma redução de 5%, uma vez que contaram 34465 nascimentos. Do total de partos correspondentes ao ano de 2022, o responsável afirma que 60% foram normais e 40% cesariana. “Somos um hospital de referência onde, em princípio, todas as complicações são transferidas para esta unidade, e por isto temos uma taxa de cesariana alta”, disse.

Todos os dias nascem na maternidade referida mais de 100 bebés, estando a média entre 110 e 120 partos por dia. No primeiro trimestre de 2023 foram feitos 10 144 partos.

Sobre as mortes maternas, o responsável assegura que há uma redução, “quando falamos em morte materna, estamos a referir numa taxa de mortalidade por 100 mil nascidos vivos, e nós estamos a reduzir bastante, já houve números muito altos, de 800, 900 mortes por 100 mil nascidos vivos”, sustentou. Em 2022, disse, o número foi de 600, actualmente varia entre 500 a 400, por 100 mil nascidos vivos. Quanto aos nados mortos, a especialista afirmou que também tem reduzido. “O que temos é uma taxa alta de prematuridade. Os prematuros, normalmente, são consequências, nascem por ruptura prematura de membranas, ou podem estar associados a doenças hipertensivas da gravidez, ou, eventualmente, a um quadro de hemorragias que podem levar à necessidade de tirar os bebés antes do tempo”, aclarou.

Ao contrário do que é dito, o responsável pela maternidade assegurou que as mulheres não levam nada para o parto, uma vez que tudo é gratuito, e reforçou que a saúde materno-infantil é gratuita.

Por sua vez, um centro materno infantil também de referência, na capital do País, registou, em 2022, um total de 9234 partos e, destes 869, foram cesarianas. Em comparação com o ano anterior, há uma redução de 0,8%, onde registou 9306 partos.

No primeiro trimestre deste ano, o centro materno infantil, registou 2468 partos, destes, 197 foram por cesariana. “Em média, nascem por dia 45 bebés, pode ter épocas de menos partos, 35, mas também há dias que se chega aos 50 por dia”, remata a pessoa responsável.

Quanto aos nados mortos, a instituição teve em 2022 um total de 192, sendo que deste número alguns chegam já ao hospital sem vida. Já em 2021 o número foi maior, com um registo de 298. “Alguns caos chegam ainda ao hospital com vida, mas já com um sofrimento fetal muito avançado, de tal forma que não se consegue reverter. Porém, um grande número vem sem foco, na maioria das vezes porque o bebé deixou de mexer, e já não chegam a tempo”.

Sobre as mortes maternas, no primeiro trimestre de 2023 o hospital registou uma. Em 2022 assistiu-se a perda de cinco mulheres e em 2021 contaram 13 mortes.