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PATROCINADO

Projectos de papel

Sebastião Vemba
1/9/2021
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Foto:
Carlos Aguiar

Em Angola, o exercício de governação tem revelado, muitas vezes, uma distância abismal entre as ideias e as acções.

Os programas, ambiciosos e bem elaborados, com fundamentos macroeconómicos realistas – em que se percebe, às vezes, a admissão de falhas e insucessos de projectos antecedentes -, pecam, na sua maioria, pela ausência de estratégias e de mecanismo de fiscalização que permitiriam maior controlo e, se necessário, ajustamento à realidade e aos recursos, não só financeiros, disponíveis para a sua execução.  

Foi assim com o Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 e está a ser, infelizmente, com o rebaptizado Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN 2018-2022), de que constam objectivos em vários domínios, alguns deles a roçar a mera propaganda, na medida em que traduzem um verdadeiro desligamento da realidade. Ao estabelecer, em 2017, a meta de 500 mil novos postos de trabalho até 2022, quando nos três anteriores anos a taxa de desemprego no país começava a despontar, em consequência de uma crise que asfixiava as empresas, afugentava o investimento (tanto estrangeiro quanto nacional), não se conseguia vislumbrar o caminho a seguir e, hoje, passados quatro anos, é cada vez mais certo que os atalhos criados não nos levarão muito para além de uma eventual recuperação dos milhares de postos de trabalho que têm sido perdidos, em particular no seio da população mais jovem, que é a mais afectada pelo desemprego.

As respostas para contrapor estes fenómenos, infelizmente, tardam a sair do papel, e muitas delas tresandam a megalomania e falta de correctiva com iniciativas paralelas ou reforço de programas anteriores. Lembremo-nos, por exemplo, do bem fracassado “Angola Jovem”, criado em 2006 pelo Ministério da Juventude e Desportos. Dois anos depois, um alto responsável admitiu que o mesmo estava longe de alcançar as expectativas. E, recentemente, surgiu o PAPE (Programa de Apoio à Promoção do Emprego), avaliado em 21 mil milhões de kwanzas. É tido como um instrumento para alargar as possibilidades de obtenção de emprego pelos jovens.

Entretanto, a taxa de desemprego, que ronda, actualmente, os 30,5% - recuou 0,1% no primeiro trimestre de 2021, mas a população economicamente activa cresceu 5% - faz crer que, se calhar, estamos, infelizmente, diante de mais um projecto de papel.

Leia o artigo completo na edição de Setembro, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).

Paper projects

In Angola, governing is often characterized by an abysmal gap between ideas and actions. For the most part, the ambitious and well elaborated programs, with realistic macroeconomic foundations - in which it is sometimes possible to perceive an admission of the failures and shortcomings of previous projects - lack strategies and oversight mechanisms that would allow for better control and, if necessary, adjustment to reality and to the resources, not only financial, available for their execution.  

This was the case with the 2013-2017 National Plan for Development and is, unfortunately, the case with the renamed National Development Plan (2018-2022 NDP), which contains various goals, some of them bordering on mere propaganda, insofar as they reflect a real disconnect from reality.   When, in 2017, the promise of 500,000 new jobs by 2022 was made, after three years of rising unemployment as a result of a crisis that was suffocating businesses, scaring away investment (both foreign and domestic), it was difficult to understand how the goal would be met. Today, four years later, it is increasingly certain that the shortcuts that have been created will not take us much further than an eventual recovery of the thousands of jobs that have been lost, particularly among the younger population, which is the most affected by unemployment.

Unfortunately, the solutions to these problems are slow to be implemented, and many of them reek of megalomania and misalignment with similar initiatives or previous programs. We remember, for example, the failed Angola Jovem, created in 2006 by the Ministry of Youth and Sports. Two years later, a senior government official admitted that it was far from meeting expectations. And recently, the PAPE (Program to Support the Promotion of Employment), valued at 21 billion kwanzas, was created. It is intended to be an instrument to broaden the possibilities for young people to obtain employment. However, the current unemployment rate, which is around 30.5% - it dropped 0.1% in the first quarter of 2021, but the economically active population grew 5% - makes us believe that, unfortunately, it probably is yet another paper project.

Read the full article in the Setember issue, now available on the E&M app for Android and at login (appeconomiaemercado.com).