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Saúde financeira de Angola agrava no 1.º semestre

Joaquina Dungue
24/10/2023
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Foto:
Carlos Aguiar e DR

Em causa está a redução dos activos com não-residentes, bem como a diminuição numa magnitude inferior dos passivos financeiros.

A capacidade de Angola honrar com as obrigações internacionais reduziu em mil milhões USD no primeiro semestre do corrente ano, segundo as Estatísticas Externas do Banco Nacional de Angola (BNA), consultadas pela revista Economia & Mercado.

Os dados oficiais indicam que a posição do investimento internacional líquido saiu de (-23,4) mil milhões USD no primeiro trimestre de 2023 para (-24,4) mil milhões USD neste ano, em consequência da redução dos activos com não-residentes, não obstante ter ocorrido, também, uma diminuição dos passivos financeiros, mas numa magnitude inferior.

A posição líquida do investimento internacional é um dos instrumentos que permitem avaliar a saúde financeira e a capacidade de Angola honrar com as obrigações internacionais.

Em termos globais, os activos angolanos no exterior representam 64% dos activos de estrangeiros em Angola. Por outro lado, 70% dos activos angolanos "fora de portas" são de curto-prazo, enquanto 70% dos activos de estrangeiros no país são de médio e longo prazos.  

De acordo com o economista António Estote, Angola é um país invariavelmente devedor do "resto do mundo" e adianta que os dados do BNA indicam que, desde 2012, os activos financeiros estrangeiros em Angola têm sido superiores em média a 23,8 mil milhões USD, em comparação com os activos financeiros angolanos no resto do mundo.

Em 2021, ainda segundo o economista, Angola registou a menor dívida líquida que ascendeu a 11,2 mil milhões USD e, em 2017, registou-se a maior dívida líquida de 37 mil milhões USD.

No período em análise, a posição líquida do investimento internacional foi afectada pela redução de 1,9 mil milhões USD dos activos angolanos no exterior, justificado pela queda de 604 milhões dos créditos comerciai 508 milhões dos depósitos do Governo Central, 331 dos depósitos das instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias e da redução de 203 milhões dos títulos de dívida de longo-prazo.

Um outro factor também apontado pelo especialista, foi a redução de 924 milhões USD em activos financeiros estrangeiros em Angola, na qual se destaca a redução de 401 milhões dos empréstimos das instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias e 330 milhões dos empréstimos ao Governo (sendo 127 milhões do FMI).

Os 300 milhões do investimento directo estrangeiro da indústria petrolífera, vulgo "cost oil" (resultante de 1,9 mil milhões de entrada e 2,2 mil milhões que saíram), também afectaram a posição líquida do investimento internacional.

"Em suma, o Governo desmobilizou depósitos de 508 milhões USD e pagou 331 milhões dos empréstimos externos. As empresas exportaram de forma líquida 242 milhões USD", resume.

Sobre o investimento angolano no exterior, excluindo as reservas, Heitor Carvalho, também economista, afirma que este passou de 34,8 para 31,6 mil milhões de USD, uma redução de 3,2 mil milhões (9,4%).

Crédito comercial influencia na redução do investimento no exterior

A redução do investimento angolano no exterior, segundo Heitor Carvalho, foi influenciada pela diminuição de 1,7 mil milhões no crédito comercial (devido à redução das exportações há menos dívidas de clientes a Angola) e de 1,5 mil milhões em depósitos angolanos no exterior. O total do investimento angolano no exterior desceu consequentemente 2,7 mil milhões de USD.

Por sua vez, o investimento estrangeiro em Angola desce 2,8%, de 71,7 para 69,7 mil milhões de USD (-2,0 mil milhões de USD), devido, essencialmente, à rubrica de empréstimos (-1,8 mil milhões), Investimento Directo Estrangeiro (-0,5 mil milhões) e Crédito Comercial (+0,4 mil milhões), afirma.

Leia o artigo completo na edição de Outubro da Economia & Mercado.