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“Sou optimista, só não acredito que as coisas mudem abruptamente”

Cláudio Gomes
7/12/2021
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Cedida pela fonte

O jornalista brasileiro Saymon Nascimento disse que o panorama da comunicação social em Angola é ainda “muito formal e com alguma reverência excessiva” as autoridades, pessoas e instituições.

Portanto, em entrevista à Economia & Mercado, o profissional de comunicação social formado pela Universidade Federal da Bahia, disse, hoje, terça-feira, 7 de Dezembro, não acreditar numa mudança “abrupta” do actual panorama.

Para o co-fundador, e ex-editor e coordenador do projecto de webjornalismo “Rede Angola”, trata-se de um país com instituições que “ainda precisam amadurecer”. No seu entender, o sector da comunicação social, igualmente, precisa amadurecer.

Qual é a sua percepção sobre a comunicação social em Angola?

Angola é um país com instituições que ainda precisam amadurecer, e isto também vale para a comunicação social. Já há uma nova geração que começou a trabalhar em tempos de paz e está conectada às práticas de comunicação do mundo, uma geração que preza os valores de liberdade e independência que o jornalista deve ter, e também pretende dominar os formatos mais modernos de transmitir a informação. Ou seja, há uma geração anterior interessada em actualizar os conhecimentos, em não ficar para trás. São essas pessoas que estão a mudar o panorama da comunicação do país, ainda muito formal e com alguma reverência excessiva em relação a autoridades e pessoas e instituições poderosas. Sou optimista, só não acredito que as coisas mudem abruptamente.

Enquanto esteve a residir e a trabalhar cá, o que mais lhe marcou em termos negativos no exercício da actividade jornalística?

Com o amadurecimento do ecossistema jornalístico, acho que ficará mais claro para todos qual o papel de cada um. O jornalista deve aprender que o o que ele tem de mais valioso é o próprio nome, e se ele vende a credibilidade do próprio nome para satisfazer os interesses alheios, os colegas, o mercado e o próprio público acabarão por perceber isso. Há muitos jornalistas que ainda não perceberam a importância disso, de estabelecer limites e fronteiras para o exercício da profissão.

O que está na base da falta de sustentabilidade de muitos órgãos de comunicação social angolanos?

A questão sempre é: quem paga a conta? Em condições ideais, a conta é paga pelos anunciantes, que querem associar as suas marcas a um produto jornalístico de qualidade, e/ou pelo leitor, que acha aquele conteúdo tão imprescindível que decide gastar o seu dinheiro. A não ser que o órgão de comunicação seja estatal, ou seja, sustentado pelos impostos pagos pelos cidadãos, é preciso ter em conta que, antes de tudo, é preciso produzir conteúdo de qualidade para se ter credibilidade, e assim anunciantes e leitores. O grande problema é que, para isso, é preciso investimento; jornalismo não deixa de depender de um certo mecenato, de quem pague a conta até que o projecto seja sustentável. Enfim, é preciso pensar o jornalismo como negócio.

Em que medida a dependência financeira de muitos órgãos coloca em causa o interesse público e a lisura no jornalismo?

É normal que os órgãos de comunicação tenham um ponto de vista, uma forma de interpretar o mundo que estará alinhada aos interesses de quem mantém a operação a funcionar, o investidor. O fato de que órgãos de comunicação têm uma linha editorial pré-estabelecida não significa, no entanto, que a redacção irá romper as barreiras da ética jornalística. É uma linha ténue, mas com imperativos bem claros: não forjar notícias, não usar o poder de ser lido para fins escusos, ouvir todos os lados de uma questão etc. A independência da redacção em relação aos financiadores e anunciantes é uma batalha tão velha quanto o próprio jornalismo, não é algo específico de Angola.

Os órgãos convencionais vão sobreviver a era digital ou com o avanço do webjornalismo serão “engolidos” dentro dos próximos anos?

Creio que muitos órgãos de comunicação não vão sobreviver, certamente porque não saberão fazer a adaptação para um cenário em que a internet já dá muita informação o tempo todo. Um jornal impresso não terá mais o papel de suprir o leitor com informação, e sim de ajudá-lo a interpretar essas informações em excesso, emitido o tempo todo, em todo o mundo. Sobreviverá quem convencer o leitor de que a sua capacidade de interpretação dos fatos é essencial.

BI

Saymon Nascimento actuou em media impressa e digital nos grupos Rede Bahia e A Tarde, ambos de Salvador, além de trabalhos de assessoria de imprensa. Tem experiência em reportagem e edição nas áreas de economia, cultura e cidades. Em 2008, mudou-se para Angola, onde trabalhou como consultor no Jornal de Economia & Finanças. Teve a sua primeira experiencia como redactor publicitário na Munk Comunicação e Publicidade, sem deixar de utilizar sua formação como jornalista na redação de materiais e websites institucionals, sob demanda.