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Startups da África lusófona entre as menos financiadas

Kenneth Hogrefe
13/12/2021
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Cedida pela fonte

As Startups africanas angariaram verbas recorde no valor 1,19 mil milhões de dólares, mas financiamento mostrou-se limitado nos países lusófonos.

Em apenas seis meses de 2021, as startups no continente conseguiram angariar um financiamento de aproximadamente 1,19 mil milhões de dólares, onde os negócios de valor igual ou superior a 1 milhão representaram cerca de 95% do total (1,14 mil milhões). Segundo um relatório divulgado por Maxime Bayen, Construtor de Empreendimentos Sénior para o Catalyst Fund da BFA Global, este número representa mais do dobro do valor angariado durante o período homólogo.

Os “Quatro Grandes” de África – Nigéria, Quénia, África do Sul e Egipto – mantiveram o seu estatuto enquanto importantes destinos de investimento, sendo que o financiamento em startups nestes países representou 80% de todo o financiamento inicial neste período. A Nigéria e a África do Sul são responsáveis por 56% do financiamento nestes países.

Com a pandemia de coronavírus a afectar as actividades de investimento, a AfricArena, uma aceleradora tecnológica africana, anteviu em Maio de 2020 que as startups no continente receberiam entre 1,2 e 1,8 mil milhões de dólares em financiamento de risco no ano de 2020. A Partech Africa e a Briter Bridges revelaram que as startups africanas terminaram o ano com 1,4 mil milhões de dólares e 1.3 mil milhões de dólares, respetivamente.

Os dados da Digest Africa, uma plataforma de notícias de investimento, parecem sustentar as conclusões de Bayen. Todos os meses, esta entidade publica um resumo dos negócios concluídos no mês anterior. Uma análise aos números encontrados nesses relatórios mostra que o financiamento total entre Janeiro e Maio de 2021 foi de 956.2 milhões de dólares, menos 233.8 milhões dólares do que os 1.19 mil milhões apontados por Bayen.

Uma aferição mais atenta aos números da Digest Africa mostra que o financiamento das startups africanas cresceu constantemente entre Janeiro e Março, antes de cair em Abril. A recuperação começou em Maio, com investimentos a passarem de 78 milhões em Abril para 208.5 milhões em Maio.

Para a Digest Africa, os investimentos mais significativos foram aplicados na Expensya (20 milhões), Gro Intelligence (85 milhões), TymeBank (109 milhões) e Flutterwave ($170 milhões). Em comparação com os montantes angariados pelas startups africanas desde 2019, foram necessários quase 11 meses para que o financiamento em África atingisse a marca dos mil milhões em 2019, 9 meses em 2020 e 5 meses em 2021.

A pandemia de COVID-19 e o consequente confinamento contribuíram para uma quebra nas actividades de investimento, pois os interesses dos investidores diminuíram perante as incertezas. Mas, à medida que os confinamentos foram sendo aliviados globalmente, a recuperação arrancou no segundo semestre do ano. Com o crescente número de vacinações em África e a maior estabilização das economias do continente, os investimentos nas startups africanas também podem aumentar.

Startups lusófonas na cauda

Por outro lado, o financiamento às startups raramente fazem menção a Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe ou Guiné Equatorial. Os países africanos de língua portuguesa estão a receber pouquíssimos fundos nacionais para startups. Mas tal não se deve à falta de qualidade. Países como Angola e Moçambique têm histórias de sucesso no campo das startups. Por exemplo, a empresa de recrutamento angolana Jobartis alcançou os 500.000 utilizadores em Angola e expandiu-se para os Camarões, a República Democrática do Congo e a Zâmbia. Outra prominente startup angolana é a plataforma de entregas Tupuca, que, tal como a Jobartis, foi uma vencedora local do concurso global Seedstars World e tem como objectivo a expansão regional.

Mas os investidores internacionais têm mostrado um interesse limitado em startups sediadas em países africano-lusófonos, por várias razões. A maioria dos fundos de capital de risco e dos investidores privados falam inglês. Os laços económicos e culturais com a região africana lusófona são mais ténues, pois existe um menor conhecimento do mercado lusófono e, por consequência, um menor interesse. Embora Angola seja um grande mercado no contexto africano, o conjunto dos países lusófonos é mais pequeno do que as comunidades de língua inglesa e francesa.

O contexto macroeconómico também tem sido um factor bastante importante para a região, especialmente para Angola, pois o segundo maior produtor de petróleo do continente lida com uma recessão há já cinco anos. Durante este período, Angola tem vivido uma inflação elevada, depreciação da moeda e desafios cambiais.

Foco em Angola

A região africano-lusófona tem progredido nos últimos anos e Angola tem potencial para liderar a evolução digital e tornar-se o alicerce do ecossistema tecnológico da região.  Eis as razões pelas quais os investidores devem concentrar-se em Angola:

Macroeconomia: A estabilidade macroeconómica foi recuperada e mantida através de um regime cambial mais flexível, uma política monetária restritiva e consolidação fiscal. O governo tem feito várias reformas estruturantes desde que tomou posse em 2017, incluindo uma nova lei sobre a Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais, bem como a lei de privatização, a criação de um balcão único para os investidores melhorarem o clima empresarial.

Angola passa actualmente por uma transição. A economia, anteriormente centrada no sector do petróleo e gás, está agora a tornar-se mais diversificada. Em 2021, o país está prestes sair da recessão, crescendo 2.7% - de acordo com a agência de notação financeira Moody’s. Isto marcará o fim da recessão dos últimos cinco anos.

No início deste ano, a Moody’s alterou o rating de emissão de moeda estrangeira e local a longo prazo de Caa1 para B3, mantendo uma perspetiva estável em relação ao governo angolano. A decisão de subir o rating deve-se à avaliação da Moody’s, a qual afirma que o perfil de crédito soberano de Angola está a melhorar, sendo consistente com os países B3. Um governo mais forte, particularmente no âmbito das instituições executivas e legislativas do país, ainda que o patamar geral seja fraco, reflete-se em várias áreas da notação de crédito que a Moody’s espera que seja mantido.

O ecossistema – O ecossistema angolano para as startups tem evoluído significativamente nos últimos anos. Isto passa pelo crescente número de novas startups e a sua expansão os mercados internacionais. O ecossistema regista também um número maior de eventos, redes e programas criados por empresas privas, incubadoras e aceleradoras.  No início deste ano, Angola chegou pela primeira vez ao Ranking Mundial de Ecossistemas de Inovação para Startups. Este ranking posiciona Angola em 115º lugar no mundo e em 2º lugar no ranking mundial de Startups na África Central. O ecossistema tecnológico angolano está só a dar os primeiros passos. São necessários investimentos e uma maior inclusão para estimular a economia digital e fazer com que esta atinja todo o seu potencial.

Os ecossistemas tecnológicos dos “Quatro Grandes” registaram um notável crescimento nos últimos anos, impulsionado maioritariamente por um fluxo de fundos de risco, financiamento do desenvolvimento, envolvimento empresarial e hubs tecnológicos. O financiamento que chega a África é altamente concentrado e a maioria destina-se a um número específico das cinquenta e quatro nações africanas. Desta forma, os números globais de financiamento sobrestimam o impacto do financiamento de capital de risco em África. Muitas startups africanas não conseguem aceder a financiamento simplesmente devido ao país de origem.

Kenneth Hogrefe é o CEO e fundador da Tech Africa, com um portfólio que inclui o principal portal imobiliário de Angola www.angocasa.com e o portal automóvel www.angocarro.com. Fomos das primeiras startups angolanas a receber financiamento de capital de risco em 2015. Desde aí, poucas startups angolanas têm tido sucesso na obtenção de financiamento.