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PATROCINADO

Não há almoços grátis

Sebastião Vemba
7/2/2023
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Foto:
Arquivo

De Janeiro a Outubro de 2022, as trocas comerciais entre Angola e a China fixaram-se em 23,28 mil milhões de USD, dos quais 3,3 mil milhões referem-se às exportações chinesas para Angola.

A importância da China no processo de reconstrução de Angola no período pós-guerra é indiscutível. Desde 2002, o país recebeu vários milhares de milhões de dólares em empréstimos chineses para reconstruir infra-estruturas, sendo que, actualmente, a dívida está avaliada em cerca de 21,4 mil milhões de dólares.

No que diz respeito às estatísticas comerciais entre os dois países, os números apontam que, de Janeiro a Outubro de 2022, as trocas se fixaram em 23,28 mil milhões de USD, dos quais 3,3 mil milhões se referem às exportações chinesas para Angola, ao passo que os restantes 19,98 mil milhões de USD dizem respeito às exportações de Angola para o gigante asiático, que recebe, essencialmente, além do “bendito” petróleo, combustíveis, minerais e seus derivados, asfalto, sal, enxofre, cimento, produtos de madeira, carvão vegetal, entre outros. Ou seja, Angola é um forte fornecedor de matérias-primas ao seu maior parceiro comercial que, por sua vez, exporta para o mercado angolano automóveis e peças sobressalentes, produtos de mobiliário e electromecânicos, depois de se ter assistido, há uns anos, à redução significativa da participação chinesa no sector da construção, onde foi responsável por vários trabalhos, alguns deles mal-afamados, devido à suposta baixa qualidade e ausência de fiscalização, o que resultou, em poucos anos, na deterioração das obras e consequente perda de dinheiro pelo parceiro devedor.

A relação entre os dois Estados é antiga, com duração de quatro décadas, sendo que os últimos 13 anos têm sido marcados pela implementação da “parceria estratégica” que, nos próximos cinco anos, estará focada na expansão da presença chinesa noutras áreas de negócios no país. Entretanto, à parte angolana, a velha questão que se coloca tem a ver com o impacto real dessa cooperação no desenvolvimento e até que ponto as futuras gerações não terão de pagar a factura de um banquete do qual não fizeram parte. Afinal, não há almoços grátis.

There are no free lunches

China's importance in Angola's post-war reconstruction process is indisputable. Since 2002, the country has received several billion dollars in Chinese loans to rebuild infrastructure, with the debt currently valued at around $21.4 billion.

With regard to trade statistics between the two countries, figures indicate that, from January to October 2022, trade stood at USD 23.28 billion, of which USD 3.3 billion refer to exports from China to Angola, while the remaining USD 19.98 billion concern exports from Angola to the Asian giant, which essentially receives, in addition to the “blessed” oil, fuel, minerals and derivatives, asphalt, salt, sulphur, cement, wood products, charcoal, among others. In other words, Angola is a strong supplier of raw materials to its largest trading partner, which, in turn, exports cars and spare parts, furniture and electromechanical products to the Angolan market, after having witnessed, a few years ago, the significant reduction of Chinese participation in the construction sector, where it was responsible for several works, some of them infamous, due to the alleged low quality and lack of supervision, which resulted, in a few years, in the deterioration of the works and consequent loss of money by the debtor partner.

The relationship between the two States is old, lasting four decades, and the last thirteen years have been marked by the implementation of the “strategic partnership” which, in the next five years, will be focused on expanding the Chinese presence in other areas of business in the country. Meanwhile, on the Angolan side, the age-old question has to do with the real impact of this cooperation on development and the extent to which future generations will not have to foot the bill for a banquet they were not part of. After all, there are no free lunches.