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Nascidos com a paz: as exigências de uma geração indiferente ao fardo do conflito armado

Victória Maviluka
4/4/2024
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Foto:
Isidoro Suka

O que pensam os jovens nascidos longe do ambiente do conflito armado? Eis o mote da conversa com três estudantes universitários, nascidos no ano da conquista da paz em Angola.

Elivaldo, Dinâmia e Dilmara nasceram em 2002, no ano da conquista da paz em Angola. A frequentarem o ensino universitário, estes jovens representam uma geração que se mostra inconformada com qualquer tentativa de se associar os problemas sociais actuais à guerra.

Estudante do 2.º ano do curso de Relações Internacionais, Elivaldo conta que soube através dos pais que a guerra em Angola ceifou a vida de milhares de pessoas e desestruturou famílias.

“A guerra terminou há 22 anos. Olhando para a actual realidade, sinceramente, não vejo a razão de tanta gente passar fome. É preciso fazer mais para que as pessoas tenham poder de compra e consigam sobreviver com mínimo de dignidade”, atira o jovem nascido a 12 de Março de 2002.

Confidencia que está a formar-se para se tornar num diplomata capaz de influenciar o País a tomar as melhores decisões no plano internacional, com impacto na vida das populações.

“Quero ser um bom diplomata, que saiba defender os interesses do meu País, mas, sobretudo, do nosso povo, através de alianças importantes, que impactem na vida das pessoas”, realça.

Dinâmia do Amaral Gourgel acabou de completar 22 anos. Está no 4.º ano do curso de Direito, mas continua indecisa quanto ao ramo em que vai especializar-se.

Entretanto, Dinâmia não titubeia quanto às suas motivações na defesa das causas da justiça: “A minha mãe diz que tenho vocação para ser juíza. Não sei se dava numa boa juíza, só sei que é grande o meu desejo de defender os direitos das pessoas contra as injustiças”.

Dilmara Armando faz 22 anos em Agosto. Frequenta o 3.º ano da Universidade Lusíada de Angola, integrando a direcção da Associação dos Estudantes.

Confessa que o que sabe sobre a história da Independência Nacional e da Paz é fruto da sua iniciativa investigativa e não de conversas no seio familiar.

É defensora de uma passagem de testemunho geracional que seja sistematizada e de um maior espaço para os jovens nos órgãos decisórios.

“Os mais velhos devem passar o testemunho aos mais novos no tempo certo. Somos uma população maioritariamente jovem e faz todo o sentido que nós, jovens, ocupemos o nosso lugar, pois somos nós que conhecemos melhor os nossos anseios”, declara. 

Dilmara valoriza a paz, considerando-a determinante para que o País dê “outros rumos”. Mas olha com apreensão para as insuficiências no sistema de ensino em geral.

“Temos ouvido dos mais velhos que o colono construiu muitas fábricas, e que, quando foi, estas fábricas foram à falência, justamente porque faltou quadros. Então, é muito importante apostar no ensino de qualidade. É inadmissível receber vídeos todos os dias de crianças que estudam sentadas em pedras, em salas de aulas que não são dignas deste nome”, desabafa.