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“Os bancos deixaram de financiar a economia há algum tempo”

António Nogueira e Pedro Fernandes
11/10/2019
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Licenciado em engenharia civil e bacharel em Administração e Gestão de Empresas, Jorge Baptista é um jovem empresário com décadas de experiência em negócios. É sócio de empresas em Angola e Portugal.

Paralelamente as actividades centrais, Jorge Baptista ocupa o cargo de presidente da Associação de Empreendedores de Angola (AEA).

Na sua opinião os bancos angolanos deixaram de financiara economia há já algum tempo. Entende igualmente que as empresas foram arrastadas para negociatas e não para a sustentabilidade, numa economia que clama pela melhoria do ambiente de negócios, pois acredita que “Angola tem potencial e tudo para dar certo”.

Os modelos de financiamento à economia adoptados ou criados pelo Governo são os mais adequados, considerando a realidade económico-financeira angolana?

Não, com certeza absoluta. Estamos com um modelo de financiamento inoperante e que não consegue ser fiável, mas compreendem-se os motivos que fazem com que seja assim. Temos uma banca sem pujança financeira e daí o motivo da fraca participação dos bancos na concepção de financiamentos que consigam cobrir a demanda que a economia exige para ser alavancada. Estamos num impasse perigoso, onde as empresas estão a fechar por falta de uma estabilidade no ambiente de negócios – o Estado sempre teve uma forte participação nos negócios e isso prejudicou o tecido empresarial –, os modelos de financiamento não cumprem a sua função porque precisamos de mudar de paradigma e melhorar a consciencialização sobre o interesse em financiar por estratégia e resultados.

Deve o Governo criar programas de financiamento ou devia ocupar-se em criar as condições propícias de ambiente de negócios, deixandoaquela iniciativa à responsabilidade total dos bancos comerciais?

É justo e oportuno que haja fundos para o fomento de iniciativas empresariais e empreendedoras para os cidadãos que demonstrem capacidade e idoneidade para trazerem bons e novos negócios para a economia. Penso que esses fundos devem existir com o apadrinhamento do Estado, para que quem precisa de começar encontre produtos financeiros com juros bonificados. O papel da banca é outro, e não vai dispensar que o Estado crie fundos ou garantias para que haja produtos financeiros bonificados para a economia.

O crédito mal parado no quadro do Angola Investe é de 40%. Mesmo assim, o Governo diz que o projecto foi um sucesso. Não considera um contra-senso?

Não sei aonde vamos buscar essa mania de falta de humildade em não assumir o fracasso de programas como o Angola Investe. É preciso assumir que ele só foi abaixo porque falhou, não conseguiu cumprir com o seu objectivo e foi forçado a ser interrompido.

No seu entendimento, quais foram os principais vícios do Angola Investe?


A sua operacionalidade, as balizas financeiras que foram criadas, a falta de fiscalização, a burocracia e o elitismo que foram criados em torno do programa e o mau uso do dinheiro para projectos que não eram sustentáveis nem prioritários. Esse mau uso deveu-se à megalomania que nos persegue, por acharmos que podemos inventar e fazer milagres.

Mais de 70% dos projectos financiados à luz do Angola Investe foram implementados em Luanda. O que leva os empresários a abdicar do interior do país?

A falta de uma política de empoderamento e fomento de empresários locais. Achamos que o país é Luanda e, infelizmente, o empresário gosta de ficar na sua zona de conforto. O que fazemos nós para que os locais se interessem em participar no desenvolvimento da sua localidade, da sua cidade? São essas questões que devem ser respondidas...

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