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Ucrânia ‘ignora’ conselhos do Papa Francisco sobre cessar fogo

Cláudio Gomes
12/3/2024
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Foto:
DR

Apelo do líder católico não caiu bem a Kiev e mereceu, imediatamente, reacções do próprio Presidente ucraniano, assim como de alguns membros do seu governo.

O Papa Francisco aconselhou, esta semana, o governo ucraniano a sentar-se à mesa das negociações com a Rússia e evitar as hostilidades que afectam milhares de civis desde o início da guerra, a 24 de Fevereiro de 2022. 

"Creio que os mais fortes são aqueles que olham para a situação, pensam nas pessoas e têm a coragem de levantar a bandeira branca e negociar", disse na referida entrevista.

O posicionamento do Sumo Pontífice decorre de uma entrevista prestada à televisão pública RTS, gravada no início de Fevereiro deste ano, e transmitida no sábado, 09 de Março, ao responder uma pergunta sobre a guerra na Ucrânia. 

O Papa Francisco foi perentório ao pedir ao governo ucraniano, liderado pelo Presidente Zelensky, a não ter "vergonha de negociar” com a Rússia de Putin, “antes que as coisas piorem" contra o povo ucraniano, já muito martirizado.

Porém, e como era expectável, o apelo não caiu bem e mereceu, imediatamente, reacções do próprio Presidente ucraniano, como de alguns membros do seu governo. 

Neste sentido, o ministro das Relações Exteriores rebateu o conselho do líder da Igreja Católica na rede social X (antigo Twitter), deixando claro que o seu país "nunca" se renderá à Rússia. 

"A nossa bandeira é amarela e azul. É a bandeira pela qual vivemos, morremos e triunfamos”, disse o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, citado pelo jornal português Público.

Dmytro Kuleba foi ainda mais longe nas críticas contra o apelo feito pelo Papa Francisco, sobre a necessidade de a Ucrânia “levantar a bandeira branca”.

"Conhecemos a estratégia do Vaticano na primeira parte do século 20. Por isso, apelo que evitem repetir os erros do passado e que apoiem a Ucrânia e o seu povo na sua luta pela vida", vincou, aludindo, supostamente, ao período da Segunda Guerra Mundial e às relações da Igreja com a Alemanha nazi.

Por sua vez, o actual embaixador de Kiev no Vaticano, Andriy Yurash, comparou a sugestão às negociações com Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, afirmando, igualmente, na rede social X, que "se quisermos acabar com a guerra, temos de tudo fazer para matarmos o Dragão!".

Edgars Rinkevics, presidente da Letônia, outra antiga república soviética com relações tensas com Moscovo, que teme uma intervenção militar russa, aproveitou o apelo do Papa Francisco para apoiar a Ucrânia, "a não capitular face ao mal", mas sim a "vencê-lo", para que seja ele a "içar a bandeira branca".

Com a repercussão das declarações do Papa Francisco, o Vaticano tentou “corrigir a situação”, através de um comunicado divulgado no sábado à noite, onde explicou que a fórmula da "bandeira branca" significava "uma cessação das hostilidades, uma trégua obtida com a coragem de negociar" e não uma rendição.