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Um homem nasce terrorista?

Nuno Fernandes
4/12/2019
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Foto:
Carlos Aguiar

Dizem os estudiosos que as raízes do terrorismo não estão no indivíduo mas nas circunstâncias mais amplas em que os transformados em terroristas vivem e agem.

Reforçando, os especialistas afirmam que as raízes são normalmente externas e não necessariamente internas ao indivíduo. A violência resulta de uma combinação entre carácter, situação e estrutura social. Daí a importância da contextualização das condições sociais que rodeiam o indivíduo que se radicalizou ou se predispõe a fazê-lo usando a violência como meio.

Vem isto a propósito da situação que Moçambique está aviver na região de Cabo Delgado. Mais de 300 mortes, desde 5 de Outubro de 2017, provocadas por um movimento islâmico radical, intitulado Al-Shabaab (Juventude), com ligações comprovadas às redes do Harakat al-Shabaab al-Mujahedeen, grupo jihadista de origem somali que opera na Somália e noQuénia, de influência de correntes wabbistas e salafistas.

Vinte por cento, talvez um pouco mais, da população moçambicana segue o Islão como religião. Entrelaça-se com cidadãos de descendência do sul da Ásia (indiana e paquistanesa) e um número ainda mais pequeno de imigrantes do Norte de África e do Médio Oriente. As regiões afectadas por este emergente presença do Estado na vida dos cidadãos. Escolaridade baixa, mesmo os que conseguem fazer o ensino médio, acabam nas praças a vender num mercado informal muito subvencionado por comerciantes, que alimentam a corrente do extremismo islâmico. Financiando pequenos negócios para os jovens, esses comerciantes, alguns também vindos da Tanzânia, acabam por “amarrá-los” aos seus propósitos religiosos induzindo-os a enfrentar as autoridades tradicionais religiosas, os Álimos, a quem acusam de nada fazer por eles e de ligações corruptas com o Estado. Defendem claramente a via da Sharia (a Lei Islâmica) como alternativa ao poder do Estado e opõem-se, se necessário usando a violência, a todos aqueles que, mesmo sendo muçulmanos, não sigam estes propósitos. O que faz um jovem seguir uma corrente destas? Estudos feitos pelo IESE (Instituto deEstudos Sociais e Económicos de Moçambique) referem que os jovens aderentes provêm fundamentalmente do mercado informal. Viram no grupo dos Al-Shabaab a possibilidade de satisfazerem as suas necessidades básicas e das suas famílias. Também em resultado da procura de uma comunidade, de uma orientação e de respostas aos seus problemas. Revolta contra a cobrança do que consideram “taxas excessivas” por parte das autoridades locais. Mas há também uma combinação de outros factores, como a busca de aventura, de um propósito novo de vida, de identidade. Nada mais está a acontecer nas suas vidas. É o vazio absoluto.

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