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Montanha da Samba, penúria ao escabelo do poder

Sebastião Garricha
4/4/2024
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Foto:
Andrade Lino

A propósito da celebração dos 22 anos de Paz em Angola, a E&M desafiou-se a subir a famosa Montanha da Samba’ uma porção de terra de Luanda onde habitam centenas de pessoas.

Para a elaboração desta reportagem, a equipa de reportagem da E&M contou com o apoio de dois moradores da zona, tudo para que conseguisse escalar a montanha sem perturbação.

“Xé, mô kota, se você é do SIC (Serviço de Investigação Criminal), aqui vais morrer”, gritou um grupo de adolescentes que se encontrava no topo da montanha, reagindo ao facto de a E&M iniciar a fotografar a zona.

“É ilusão, não é? Vocês estão felizes com este lixo? Querem continuar a viver assim?”, respondeu Domingos, um dos moradores que escoltava a equipa da E&M, dando garantias de que tudo estava sob controlo.

Mas, quando parecia tudo calmo, ouviu-se um outro grito, em uníssono: “Também tens ilusão, kota. Não é para falar assim”, alegando terem pensado que fossem agentes do SIC.

Estavam todos com o corpo descoberto, num ambiente de partilha de estufa paciente, acompanhado do famoso ‘não te irrites’.

Parecia ter-se instalado um ambiente de tensão, o que deixava desconfortável a equipa da E&M que escalou vários metros para radiografar a vida na Montanha da Samba.

“Vocês já não ouviram para ficarem calados? Manos, podem trabalhar, assim mesmo eles já não vão abrir as bocas”. Desta vez era o Rei Pucha, como é chamado na montanha, um cidadão de 37 anos.

Estava, também, com o tronco descoberto. Os calções pretos que trajava rimavam com as chinelas pretas com fitas amarelas. Aliás, ‘Pucha’ é morador da montanha há três décadas,  ou seja, desde os seus sete anos.

Pai de cinco filhos, ‘Pucha’ parece ter encontrado na E&M uma oportunidade para desabafar o que lhe aperta a alma.

Calaram-se as armas mas a paz nunca chegou

“Aqui não sentimos nada de paz. Olha conforme estão as casas. Olha o jeito que estão as paredes. Aquela é a minha casa, até a casa de banho está a cair, por causa das dificuldades. Muito lixo, não tem vala de drenagem. Que paz? Não tem nada de paz aqui, aqui é só perturbação, principalmente quando está a chover”, atirou.

Mas não é só do excesso de lixo de que se queixou o “Rei”, mas, também, da falta de postos de saúde e policial. “A minha sobrinha morreu em casa. Ficou com malária através deste lixo. Era de noite quando passou mal, então, não conseguimos chegar a tempo no hospital, lá, no Kinanga”, lamentou, desabafando, na sequência, pela falta de energia eléctrica e de água corrente.

Aliás, com os próprios olhos, a E&M viu, de perto, jovens e adolescentes a descerem, com bidões, a montanha para conseguirem água.

“É o prato do dia-a-dia”, disse Domingos, outro morador da zona. A residir aí desde 1986, o cidadão lembrou-se de como era a montanha antes e depois da paz.

Na sua curta narração, destacam-se os registos de mortes, uns por conflitos de grupos e outros por causas  decorrentes do dia-a-dia, para além dos gritos de socorro. “A paz foi uma data marcante, nunca nos esqueceremos. Mas aqui ainda falta muita coisa”, explicou.

Moradores gritam por socorro ante siliêncio do GPL

À Economia & Mercado, os moradores da Montanha da Samba pedem a intervenção do Governo da Província de Luanda (GPL).

Mas o pedido sucede a uma queixa, que vincula os órgãos do Executivo, que, segundo os mesmos moradores, já,  muitas vezes, passaram para fazer cadastramentos, com a promessa de que seriam desalojados da montanha para um local “mais digno”.

Consultado pela E&M, a propósito do assunto, através de questões remetidas, o GPL ainda não respondeu.

Leia o artigo completo na edição de Abril, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).