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“O nosso prédio nunca tremeu” afirmam, resistentes à evacuação, moradores do edifício ‘São José’

Victória Maviluka
23/3/2024
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Foto:
Isidoro Suka

Autoridades do município de Luanda anunciaram a constatação de anomalias que “comprometem a estabilidade” do edifício, mas moradores dizem tratar-se de “falso alarme”.

Foi após um braço-de-ferro, que obrigou à intervenção de forças especiais da Polícia Nacional, que, já depois das 21 horas desta sexta-feira, 21, os moradores do edifício n.º 236, situado na Avenida Comandante Valódia, no distrito do Sambizanga, abandonaram os apartamentos, por decisão da Administração Municipal de Luanda, que detectou risco de desabamento da estrutura.

“O nosso prédio nunca tremeu. O que se passou foi um comerciante do rés-do-chão que fez alterações no compartimento, juntando duas estruturas, o que provocou um desequilíbrio nos pilares deste compartimento e não dos do edifício como tal. Este falso alarme foi o suficiente para o Estado nos tirar daqui precipitadamente”, desabafaram os moradores à reportagem da E&M.

Este falso alarme foi o suficiente para o Estado nos tirar daqui precipitadamente

Inconformados com a medida, os ocupantes do também designado prédio ‘São José’ decidiram fazer um finca-pé à medida de evacuação, obrigando à intervenção de forças policiais, como a Brigada Canina e a Unidade de Reacção e Patrulhamento.

A acção policial criou, durante horas, um alvoroço em frente ao edifício e no interior dos apartamentos. A reportagem da E&M avistou um caso de desmaio de uma moradora, que necessitou a intervenção do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros.

Entre as 20h e às 21h, os moradores foram obrigados a retirar os “pertences necessários”, tendo alguns decidido retirar dos apartamentos móveis de grande porte, como cadeirões e arcas.

“Caros moradores, não há necessidade de retirar grandes coisas. Tirem apenas o necessário. Saberão, depois, se regressarão ao edifício ou não”, ouvia-se, através de megafone, a palavra de ordem dada por um agente da Polícia Nacional.

Além de se manifestarem incrédulos com as razões alegadas para a desocupação do edifício, as cerca de 50 famílias desalojadas do prédio ‘São José’ queixaram-se, também, de “tratamento insensível” das autoridades de Luanda.

“Onde é que já se viu darem-nos uma hora para retirar as coisas e não terem um lugar sequer para nos colocarem? Isso é desumano!”, atiravam, com gritos e choros à mistura, os moradores.

Muitos foram os que deixaram os apartamentos e refugiaram-se em casas de familiares e amigos, enquanto outros procuraram abrigo nas instalações a céu aberto da ex-Feira Ngoma, expostos, nessa altura, ao chuvisco que caia sobre a Avenida Comandante Valódia. 

Presente durante o período tenso de desocupação do edifício, a administradora do município de Luanda, Milca Caquesse, dirigiu-se,  várias vezes, de forma pedagógica, aos moradores, mobilizando-os a acolherem, com seriedade, o aviso das autoridades sobre o risco de desabamento do prédio. 

O anúncio sobre a evacuação do edifício ‘São José’ foi feito no final da manhã desta sexta-feira, 22, numa decisão tomada “em consequência de anomalias estruturais que comprometem a estabilidade do edifício”, como anunciou, em comunicado, a Administração Municipal de Luanda.

“Na sequência da vistoria preliminar, foram tomadas medidas para a imediata desocupação do prédio, enquanto as equipas técnicas do Governo Provincial de Luanda, Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação e Protecção Civil e Bombeiros procedem aos trabalhos de estabilização do edifício”, lê-se na nota.

A Administração Municipal de Luanda informou, ainda, que, no encontro mantido na mesma sexta-feira, 22, com a Comissão de Moradores, foram prestados esclarecimentos sobre os procedimentos para a evacuação imediata do prédio, de modo a “salvaguardar a segurança das famílias e o bem vida”.

O tema sobre desabamentos de edifícios ganhou mediatização no ano passado em Luanda, após um prédio situado também no corredor da Avenida Comandante Valódia ter cedido e outro edifício do Lote 1, do Prenda, ter sido desocupado por risco de desmoronamento.