3
1
PATROCINADO

O velho dilema da insuficiente produção nacional

Nuno Fernandes
13/3/2023
1
2
Foto:
Carlos Aguiar e Andrade Lino

Angola continua a gastar elevadas somas de dinheiro na importação de alimentos, devido à baixa oferta local.

A “promessa” de auto-suficiência alimentar é antiga, mas vários programas criados para o efeito fracassaram por várias razões, entre elas a forte dependência de importações.

O déficie da produção agrícola é visto com preocupação, pois afecta o consumo interno e obriga o Estado a recorrer ao mercado externo, despendendo excessivas quantidades de divisas, o que fagiliza a posição das reservas internacionais líquidas, cotadas em 14,4 mil milhões USD, segundo dados do Banco Nacional de Angola.

A importação de alimentos custou aos cofres do Estado, em 2022, de acordo ainda com o banco central, mais de 2 mil milhões USD, um aumento de 40%, face a 2021. A aquisição de géneros alimentícios no quadriénio 2018-2021 ficou orçada em quase 10 mil milhões USD. Nos últimos cinco anos, ultrapassou os 12 mil milhões USD.  

Os produtos alimentares mais importados, em 2022, de acordo com as estatísticas mais recentes do regulador do sistema bancário, foram arroz, açúcar, óleo de palma, perna de frango e óleo de cozinha, géneros alimentícios que podem ser produzidos no país em quantidade suficiente para satisfazer a demanda internamente.

“Por que razão ainda dependemos de importações?

O potencial de Angola no domínio agrícola é reconhecido a nível mundial. A título de exemplo, em 1973, ainda sob domínio português, foi o terceiro maior produtor de café no mundo, ao produzir 230 mil toneladas. A importância económica do produto foi o fundamento da industrialização da ex-colónia, a partir dos anos 60.  

Se o país tem tudo para ser auto-suficiente alimentar, face à potencialidade agrícola, por que razão ainda depende de importações? A questão foi respondida por especialistas do agro-negócio presentes na V Conferência E&M sobre Agricultura, realizada em Luanda, a 15 de Fevereiro de 2023. Apesar das divervências, os participantes concordaram que é necessário mais investimento e financiamento para esse sector.      

Wanderley Ribeiro, presidente da Associação Agro-pecuária de Angola (AAPA), vê, no custo dos componentes necessários para a cadeia produtiva, a causa do insucesso do agro-negócio no país, sector que mais prosperou na década de 60 do século XX.

"O custo de produzir no país é elevado e está atrelado à importação da maioria dos factores de produção, desde a mão-de-obra qualificada aos equipamentos. Os insumos são quase todos importados", disse o empresário que representa 80% de empresas agrícolas cuja área de trabalho é cerca de 1500 hectares.

Apesar de a importação dominar o mercado nacional, o presidente da AAPA disse haver uma abordagem promissora da produção interna nos últimos cinco anos. Ainda assim, mostrou-se preocupado quando notou o aumento dos preços de aquisição do milho, trigo e arroz em 2022, comparando a 2021.    

José Gama Sala, administrador da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPX), acredita ser possível Angola tornar-se numa potência do agro-negócio, a nivel do continente e do mundo, em geral.  Apontou os pressupostos a ter em conta para que o agro-negócio no país desenvolva.

“A atracção de investimento privado, melhoria das infra-estruturas, incentivos à investigação e desenvolvimento, promoção de desenvolvimento rural, melhoria da restreabilidade dos alimentos produzidos, promoção e organização da cadeia alimentar”, citou o gestor, que fez referência ao facto de Angola deter potencial agrícola com solos férteis, água abundante, regiões climáticas favoráveis e adequadas nas diferentes estações do ano.

O sector agrícola, na opinião do quadro sénior do órgão público voltado para a promoção das exportaçõs, precisa de diversos actores para estimular a concorrência. "Isto pode ser realizado com a experiência de outros países, a partir da qual podemos implementar a transferência de tecnologias e desenhar as melhores práticas".        

Já o director do GEPE do Ministério da Agricultura e Florestas, Anderson Jerónimo, apresentou como solução para resolver o défice da produção agrícula nacional a aposta no investimento (nacional ou estrangeiro) e conhecimento.

"A indústria deve garantir os factores de produção e a preço competitivo", disse, acrescentando que o dinheiro gasto para a importação de alimentos diminuiu nos últimos cinco anos (passou de 3,5 mil milhões USD para 2,3 mil milhões USD anuais).        

Já o director nacional da Indústria, César da Cruz, afirmou que a solução para dinamizar a agro-indústria passa por estratificar a produção agrícola e deve ser feita de forma específica em cada província, de acordo com as condições naturais.  

Ainda na opinião do representante do Ministério da Indústria e Comércio, o actual estado do agro-negócio no país deve-se, igualmente, à ‘timidez’ da banca, no que tange ao financimento à economia real e à retracção das seguradoras.

Leia o artigo completo na edição de Março, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).

The old dilemma of insufficient national production

Angola continues to spend large sums of money on food imports, due to low local supply. The "promise" of food self-sufficiency is old, but several programs created for this purpose have failed, for various reasons, including heavy dependence on imports.

The deficit in agricultural production is a cause for concern, as it affects domestic consumption, forcing the government to turn to the foreign market and spend excessive amounts of foreign currency, which weakens the net international reserves, currently at USD 14.4 billion, according to data from the National Bank of Angola.

According to the central bank, food imports will cost the state coffers more than USD 2 billion in 2022, a 40% increase over 2021. The purchase of foodstuffs in the 2018-2021 period was budgeted at almost USD 10 billion. In the past five years it has exceeded USD 12 billion.  

The most imported foodstuffs in 2022, according to the latest statistics from the banking system regulator, were rice, sugar, palm oil, chicken legs and cooking oil, which can be produced in the country in sufficient quantities to meet domestic demand.

"Why do we still depend on imports?

Angola's potential in agriculture is recognized worldwide. As an example, in 1973, still under Portuguese rule, it was the third largest coffee producer in the world, producing 230,000 tons. The economic importance of coffee was the basis for the industrialization of the former colony, starting in the 1960s.  

If the country has everything to be self-sufficient in terms of food, given its agricultural potential, why does it still depend on imports? The question was answered by agribusiness experts at the "5th E&M Conference on Agriculture", held in Luanda on February 15, 2023. Despite the differences, participants agreed that more investment and financing is needed for this sector.      

Wanderley Ribeiro, president of the Agro-livestock Association of Angola (AAPA), considers the cost of the components needed for the production chain as the cause of the failure of agribusiness in the country, a sector that prospered most in the 1960s of the 20th century.

"The cost of producing in the country is high and is tied to the importation of most of the production factors, from skilled labor to equipment. Most inputs are imported," said the businessman who represents 80% of agricultural companies exploiting an area of about 1500 hectares.

Despite the fact that imports dominate the domestic market, the AAPA president said there has been a promising approach to domestic production in the last five years. Still, he showed concern when he noted the increase in the purchase prices of corn, wheat and rice in 2022 compared to 2021.    

José Gama Sala, member of the board of the Private Investment and Export Promotion Agency of Angola (AIPX), believes it is possible for Angola to become an agribusiness powerhouse, both on the continent and worldwide.  

He pointed out the assumptions to be taken into account to make agribusiness in the country grow: "attraction of private investment; improvement of infrastructures; incentives to research and development; promotion of rural development; improvement of the traceability of produced food; promotion and organization of the food chain". He also emphasized the fact that Angola has agricultural potential given its fertile soil, abundant water, favorable and adequate climatic regions in the different seasons of the year.

The agricultural sector, in his opinion, needs various players to stimulate competition. "This can be realized with the experience of other countries, from which we can transfer technology and learn best practices."        

The director of GEPE of the Ministry of Agriculture and Forestry, Anderson Jerónimo, on the other hand, highlighted investment (national or foreign) and knowledge as the solution to solve the deficit in national agricultural production.

"The industry should ensure production factors are available and at a competitive price", he said before adding that the money spent on food imports decreased in the last five years (from USD 3.5 billion to USD 2.3 billion per year).        

The National Director for Industry, César da Cruz, said that the solution to boost the agro-industry is to stratify agricultural production, which should be done in a specific way in each province, according to the natural conditions.  

In the opinion of the Ministry of Industry and Commerce official, the current state of agribusiness in the country is also due to the ‘shyness’ of the banking sector, in what concerns financing to the real economy and the retraction of the insurance companies.

Read the full article in the March issue, now available on the E&M app for Android and at login (appeconomiaemercado.com).